sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Sérgio Sampaio: "Hoje não"
Só porque é hoje: para o último dia do ano, eu canto, com esse que corta sempre o meu coração e que nessas sessões de bar: arrasa comigo. Nesse mesmo dia, nesse mesmo bar, Sérgio Sampaio cantando Pobre meu pai me faz chorar os choros de toda a minha vida e da que passou e da próxima também. Mas, só porque hoje é hoje, porque hoje é o último dia do ano, essa "Hoje não" cai bem para mim.
Hoje não
Hoje não tem nada disso, de ser feliz por aí
hoje eu não quero comicio, aqui
dentro de mim não existo, sinto que fui e parti
dos meus compromissos já me esqueci
hoje não tem nem perdão
nem pai, nem mãe, nem irmão
nada de ser guardião dos meus
hoje não tem solução e nem problemas também
nem rico, nem pobretão, nem vem
hoje não tem violão, não toco samba cançao
não quero nem discução, nem vem
hoje não tem nada disso, de ser feliz por aí
hoje não quero comicio aqui
dentro de mim não existo, sinto que fui e parti
meus compromissos já esqueci
hoje não tem nem perdão
nem pai, nem mãe, nem irmão
nada de ser guardiao dos meus
hoje não tem nem perdao e nem problemas também
nem rico, nem pobretao, ninguém, ninguém
hoje não tem violão, não toco samba canção
não quero nem discução!
nem vem, nem vem, nem vem!
Tudo pode dar certo: feliz ano-novo!
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Eitá que é muito mar!
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
Fragmentos
Um pensamento: "Se minha casa pegar fogo, eu salvo o fogo".
Um caminho: intinerância. O absurdo e a graça num cheiro de goiaba.
O livro de Gabriel Garcia Marquez em minhas mãos e o pensamento voando em um avião a jato só para falar oi.
Os livros. Em minha vida, sempre os livros. E fluxo-floema por vinte contos em minha frente. Ousado. Verde e branco. Antigo e novo.
Eu sem nenhum puto. Lembrando: "Liberdade é pouco: o que eu desejo ainda não tem nome".
"A sua camisa é de um verde próximo ao da loucura". Sussurrado no ouvido. Bar cheio. Duas. Ela me disse assim: na lata.
Desde que me recebeu, a cidade d'Oxum: muita água, claro. Mas, uma palavra insite: FOGO...
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
...
Olha só: penso agora num pau
Bem mal lavado, malcheiroso,
Sujo-imundo-suculento.
AO NATURAL!
II
Uma pica Mal-lambida
É uma língua ressequida
Numa boca entristecida!
III
Com o álcool formo por acaso o rio de mim.
Ele é água e eu sou terra.
Por acaso somos rio.
Como o rio em si É por acaso.
A ler poesias...
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
Cantiga do desencontro
Ando agora, ando agora
Pelas ruas
Ansiando tua imagem encontrar
Teus olhinhos, teus olhinhos rutilantes
Que anunciam, que anunciam
Meu penar
Meu menino, meu menino,
Não te escondas.
Tu dirias que te procuraria assim?
Meu menino, meu menino,
Não te desencontres...
Não te escondas, não te escondas
Mais de mim...
domingo, 26 de dezembro de 2010
Peter FRY & Edward MACRAE - "O Que é Homossexualidade" - Coleção Primeiros Passos - 5ª edição - São Paulo: Brasiliense, 1983
"Desejos homossexuais são socialmente produzidos como são também produzidos desejos heterossexuais. Para nós, um ou outro ou ambos têm o mesmíssimo valor e devem ser vistos com a mesma perplexidade, normalmente apenas reservada para a homossexualidade" (página 16)
Acima de tudo, meus amigos!
Wesley PC>
OLHE PARA A IMAGEM ACIMA, PENSE NO QUE ELA REPRESENTA PARA TI E SOMENTE DEPOIS LEIA E RESPONDA AO APELO ABAIXO:
Wesley PC>
sábado, 25 de dezembro de 2010
ALHEIO A TODOS AQUELES FOGOS DE ARTIFÍCIO...
Wesley PC>
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
O Bom Velhinho
João do Baleiro vestia a roupa do papai Noel no dia de natal. Saía pelas ruas distribuindo balas às crianças e a quem por ele se afeiçoasse. Era como uma identidade secreta, fantasiado do bom velhinho. A mesma roupa especial ele usava há muitos anos. O corpo cada vez mais esquálido, encardido e desengonçado, perambulava as ruas. Mancava da perna direita e esse era o detalhe que para ele era a chave de seu segredo. No dia de natal e, somente nesse dia, ele não usava muletas. Ficavam guardadas, escondidas sob o colchão velho, como se um dia alguém tivesse tido a curiosidade de descobrir a verdadeira identidade do Noel aleijado. As crianças corriam como se enlouquecidas quando ele, com apito, anunciava a chegada. Gritavam “Jogue aqui, papai Noel! Papai Noel, jogue aqui!” Era sempre uma festa. Durante todo o ano ele economizava parte de sua pensão do INSS para, naquele dia especial, distribuir os doces.
O resto dos dias do ano, João do Baleiro era João do Baleiro e só. Há tempos não sabia o verdadeiro nome. Quando estava sem a roupa vermelha do natal, ele exibia no braço a tatuagem escura com o rosto de uma mulher. Quando lhe perguntavam quem era, respondia: “uma dona aí”. “Daqui num sai mais nunca” – ele dizia. E não sairia mesmo, pelo menos até que lhe comessem as carnes os bichos miúdos do cemitério. Não sairia da pele nem da cabeça.
Contava então os dias para o natal. Os meses passavam numa vagareza só, até chegar dezembro, quando ele começava a pechinchar as balas, quando finalmente, em 25 desse mês, ele se transformava em Papai Noel. E durante todo esse dia, jogaria as balas a pedido da criançada, e se esqueceria que, à noite, não pregaria os olhos com uma dor insuportável nas pernas por causa da falta das muletas e que passaria completamente sozinho.
Ressurreições, Jorge Mautner
Ressurreições
Jorge Mautner e Nelson Jacobina
Você foi pela estrada assim
Como quem não vai voltar
Quem fica é quem chora
Até se acabar
Minhas lágrimas se acabaram
Mas não a vontade de chorar
Te amei no dia em que te vi
Domando um bando de leões
Domando aquelas feras, conquistando os corações
Dizendo que o amor nunca morre porque tem ressurreições
Sete mil quartos secretos guardam um segredo
Só o amor, só o amor pode matar o medo
Para a sessão informes, como dia desses pediu Tiaguito.
é só clicar na capa da revista que se pode navegar
Uma história comum
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Descrição do fogo II
Maria Bethânia - Sob Medida
Descrição do fogo I
Solidão
o silêncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por óleo frio e espesso
Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio
É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou
Mas os ruídos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna
Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
às rochas do tempo
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
...e a onda da madrugada demora-se de encontro às rochas.
Precisa mais alguma palavra?
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Como estrelas na Terra...
Acho no mínimo engraçado como usamos cada um a sua maneira, esse nosso ponto REAL de encontro. É verdade que pouco comento sobre meus dias e sensações de um modo mais explícito. Mas é claro que qualquer palavra que aqui escrevo reverbera EXATAMENTE o que sinto ainda que de um modo não-dito. Dentre muitas coisas que nesse mundo me entristece está esse meu sentir-para-dentro que se mostra para os insensíveis como coisa-vazia. Mas bem sei que para os sensíveis, ou melhor, para os que povoam esse espaço aqui, a coisa-não-dita está esganiçada em cada palavra.
Iniciei falando de sensibilidade porque nesse fim de semana aconteceu o que está cada vez mais raro. Me emocionei explicitamente, mostrei as lágrimas. Estive óbvio. Jadson, Rafael e eu assistimos ao filme “Taare Zameen Par - Every Child is Special”, ou para melhor entendimento em português: “Como estrelas na Terra - toda criança é especial” dirigido, estrelado e produzido por Aamir Khan. O filme conta a história de um menino disléxico incompreendido que os pais obrigam a estudar em um colégio interno por não demonstrar as habilidades comuns a “qualquer criança”, desprezando nele todo o potencial criativo-genial.
As cenas são acompanhadas por uma das trilhas sonoras mais belas que ouvi. Aliás, não pareciam distintas música e imagem. Pareciam uma só coisa. Me emocionei como há muito tempo não havia me emocionado com um filme. O último que me fez chorar fora “A cor púrpura”. Mas desta vez chorei durante quase todo o filme ao ponto de meus olhos doerem. Não sei dizer se é um filme de criança feito pra adulto, ou se o contrário porque na linguagem há, ao mesmo tempo, pureza e denúncia. E há, SOBRETUDO, CORES. HÁ CORES. HÁ SOL E DIAS CLAROS. HÁ VIDA E ESPERANÇA EXPLICITADAS E, MUITO BEM DITAS.
Recomendo a todos.
É revigorante.
Resignação
Espero
Não sei o que
Espero
Que seja bom
Que seja alegre
Que tenha cor
E que seja azul
Que forte seja
Mas que seja bom
Que seja alegre
Que eu espere
Que virá