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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Os retirantes de Portinari

Ontem assisti a um filme do Rosemberg Cariry, chamado O caldeirão da Santa cruz do esquecimento. Vi uma breve apresentação do livro de Cláudio Aguiar, chamado Caldeirão. Estive em contato com uma história que nos é negligenciada. Aqui tão nossa vizinha. Num tempo nem tão longe de nós. Tudo isso me fez lembrar de Wesley Pereira de Castro falando sobre O quinze. Estupefato. E a gente falando de sertão e de amor tão rápido em frente a UFS. Saudades.
Tudo isso e a palavra exagero que elegi hoje para falar asneiras.
Carnificina. Violência. Injustiça. Tudo isso são flashes em minha cabeça. E vi essa tela de Portinari no filme. E as vozes. E as orações. As feiras. As velhas. A memória.
Existem exageros bons. Existem exageros ruins. O fato é que não dá mais para não saber das coisas. Para se esquivar para dentro de si de maneira egóica. Claro que não há porque nem como nos desapartarmos de nós. Mas, é preciso ver, ouvir o outro.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Memória, tempo, sistema, constatação?

Ainda estou elaborando essa minha ida à cidade da infância.
Vi algumas pessoas queridas. Soube notícias de tantas outras.
Constatei uma coisa triste: muitas de minhas amigas, colegas de escola, casaram-se e foram "maltratadas" (palavra mais comum de se ouvir nas conversas) pelos maridos. Quase todas tiveram filhos. Umas separam-se, outras ainda não...
O fato é que percebi a permanência de um sistema acabrunhado, preconceituoso, opressor, contrário às diferenças, contrário aos direitos da mulher.

Vou elaborar muito tudo o que vivi em dois dias.

"Tempo amigo, seja legal, conto contigo, pela madrugada..."

domingo, 29 de agosto de 2010

Identidade, autoridade e liberdade - o potentado e o viajante


Identidade, autoridade e liberdade - o potentado e o viajante é o nome de um dos textos do Edward Said que está no livro Reflexões sobre o exílio e outros ensaios.
Said refletia sobre o que falar numa determinada palestra quando encontrou-se com um colega ao qual pediu sugestões. O colega, então, perguntou-lhe o nome da palestra e ele respondeu que era Identidade, autoridade e liberdade. E o amigo disse-lhe: "Interessante. Você quer dizer que identidade é o corpo docente, autoridade são os administradores e liberdade…"Liberdade", disse ele, "é a aposentadoria".
Comentário não só chistoso, mas cínico, mas que apesar da irreverência, reflete sobre a questão da liberdade acadêmica.
Todo o texto vai versar, partindo de um ponto de vista bastante afetado pela situação da Palestina, com a qual Said se identifica por origem e por escolha e, dessa maneira, defende, sobre a Universidade, sobre a liberdade acadêmica.
Gostei muito de muitas passagens do texto. Posso dizer, de maneira menos hermética, que gostei do texto.
Especialmente me fez lembrar sobre os papéis que desempenhamos como estudantes mesmo, e me fez lembrar até do último post que li de Wesley sobre o Dumbo, sobre sua participação e insistência e esperança de servir para alguma coisa essa sua perseverança em exibir filmes na Universidade, mesmo ouvindo vez por outra, ou mesmo quase sempre, coisas absurdas que vão de filmes, gosto à concepções do que vem a ser infantil, leia-se, de como se concebe o que é uma criança.
A uma altura do texto, Said escreve que "Dizer que alguém estuda ou leciona é dizer que tem a ver com a mente, com valores intelectuais e morais, com um determinado processo de investigação, discussão e troca, atividades habitualmente não muito praticadas fora da academia".
Eu acho que esse trecho, mesmo assim deslocado, desapertado do inteiro do texto do Said, responde um pouco do que acho que deveria ser a academia.
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Lendo-o pela terceira vez (e não vou ficar colocando passagens do texto aqui para não ficar algo muito acadêmico ou mesmo enfadonho), fiz muitas viagens pensando em outros textos. Lembrei-me de Clifford Gertz em Interpretações da Cultura, no texto Rinha de galos em Bali. Eu o havia lido e, recentemente, alguém o comentou ligeiramente e me fez rememorá-lo. Gertz diz em seu texto da dificuldade de colher depoimentos das pessoas envolvidas na rinha e que só os conseguiu quando a polícia chegou na área, todos correram e ele, por medo ou por intuição, correu junto. Daí, na próxima investida, o estudioso ouviu: "Vamos falar, pois você é um dos nossos".
Essa passagem do Gertz rememorada um santinho antes de meu contato com esse texto do Said me fez pensar em como o ambiente acadêmico é representado no imaginário de pessoas que não o freqüentam e até mesmo de nós que o freqüentamos.

Mais adiante, vejo escrito no texto de Said, esse fragmento: "Nenhum de nós pode negar o sentimento de privilégio levado para dentro do santuário acadêmico". Antes de falar sobre a questão do privilégio, me fez dar outra viajada a expressão santuário acadêmico. Viajei para o texto de Virginia Woolf: Um teto todo seu.
Lembrei-me da descrição irônica, irresistível do começo de seu texto. Virginia conta-nos de sua primeira inspiração (na verdade de como a sua primeira idéia fora cortada) para escrever a palestra que irá proferir sobre "A mulher e a ficção". Ela está tentando explicar como deveria construir um argumento para desenvolver a idéia de que a mulher, para escrever ficção, precisa ter dinheiro e um teto todo dela.
Virginia é acometida pelo "puxão"da idéia nascendo, à beira do rio (por esse motivo ela vai usar a metáfora do peixe pequeno para a idéia nascendo ainda). Assim que sente a inspiração para o desenrolar das idéias nascer, ela se levanta e se põe a caminhar. Logo, vê-se na grama, andando para um lado e para o outro. E, sente o primeiro embargo: Um bedel a interrompe. Ali só pode estar Estudantes. O lugar dela é no cascalho.
Ok. Ela acha que andar na grama é mais confortável que andar no cascalho, mas continua a andar, no cascalho e põe-se a pensar mais e mais porque perdera o fio da meada, ou como a mesma diz, perdera o seu peixinho (pois Virginia usa a metáfora do peixe pequeno para a primeira idéia nascente).
Lembra-se de referências bibliográfica e, lembra-se, de que pode consultá-las na biblioteca da Universidade de Oxbridge. Santuário que guarda tesouros como os que agora aparecem em seu pensamento.
Sobre as escadas, envolta em pensamentos mil que vai nos citando… Até que, pela segunda vez, é barrada. Agora, ouve que as damas só eram admitidas na biblioteca da faculdade acompanhadas por um Fellow (estudantes que tinham privilégios, que já haviam terminado os cursos, mas tinham ligação com a instituição, tipo pós-graduados) da faculdade ou providas de uma carta de apresentação.
Virginia se afasta, dessa vez possessa. Pensa em o que fará para o resto do dia. E a uma certa altura, encosta-se a um muro, de onde enxerga a universidade e nos diz: "Quando me encostei no muro, a universidade pareceu-me de fato um santuário onde se preservavam tipos raros, que logo se tornariam obsoletos se deixados a lutar pela existência nas calçadas do Strand".

Porque fiz tantas viagens para pensar e falar num só texto como o do Edward Said? Talvez não seja porque sou louca não. O subtítulo do próprio texto é o potentado e o viajante. Por todo o texto, então, perpassa a idéia de que não podemos justificar nosso anseio por justiça se defendemos apenas o conhecimento nosso e de nós mesmos. Portanto, nos diz Said que "o modelo de liberdade acadêmica deve ser o migrante ou o viajante, pois se no mundo real, fora do universo acadêmico, precisamos ser nós mesmos e apenas isso, dentro da academia precisamos ser capazes de descobrir e viajar entre outros eus, outras identidades, outras variedades da aventura humana. Mas - o que é mais essencial -, nessa descoberta conjunta do eu e do Outro, o papel da academia é transformar o que poderia ser conflito, disputa ou asseveração em reconciliação, reciprocidade, reconhecimento e interação criativa".

Claro que não estamos mais no tempo em que mulheres e negros não entravam nas universidades. Mas, não é demais reavivar um texto assim como o de Woolf. Não é demais reavivar lembranças traumáticas como a Shoah, o Apartheid, o que foram as ditaduras militares na América Latina, enfim, nunca é demais lembrar erros cometidos no passado. Até mesmo para não repetirmos esses mesmos erros no presente ou no futuro.

E o Outro de hoje, pode não ser a mulher, mas existem muitos Outros ainda. E a academia é um lugar para adotarmos espaço para pensar sobre a questão. Com liberdade. Adotando o ponto de vista de um viajante. Que muda a rota, que mesmo com mapa, se perde, conhece, observa, interage, pergunta, aprende na carne.

São questões a se pensar. Sobre o Outro. Sobre o cânone. Sobre o que se estuda e como se estuda. O que se aborda. E daí é tão importante nos perguntarmos: E criança não pensa?
Diziam isso dos índios os portugueses quando aqui chegaram. Diziam, esses mesmos portugueses, dos negros que não tinham alma.
Dizem das mulheres que pensam menos que os homens.

É bom viajar. Nos textos. Nas idéias. E construir junto com os outros passageiros da viagem que é optar por estar nesse ambiente que é a academia.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O palhaço e a bailarina



Pela manhã, li o livro infantil escrito por Antonio Carlos Viana e Sônia Maria Machado, intitulado "O palhaço e a bailarina".
O palhaço e a bailarina é a história de Alegria, uma cidade triste que se renova com a chegada de dois artistas (o palhaço e a bailarina).
Mas, para lá de ser apenas isso, o livro mostra o surgimento de uma disputa. A cidade, uma vez alegre após o contato com as artes, passa logo a criar dois partidos: o da bailarina e o do palhaço, sem mesmo que esses saibam da tal cisão.
Os dois acabam por ficar tristes e buscam logo uma solução. A solução pensada não deixa de carregar beleza e faz com que surja uma nova expressão artística em Alegria: o teatro.
Assim, pode-se falar que a história é uma história de disputas e que mostra que cada um tem o seu espaço.
É uma fábula que fala sobre a arte e que não há uma arte melhor que a outra.
É um livro para crianças. Surgido, segundo os autores, das histórias que a professora Sônia contava para o seu filho numa rede para que este dormisse e viajasse na imaginação. Mas, que faz om que adultos pensem muito em suas ações.
As ilustrações são belas.
Apesar de numa primeira leitura, apressada, imaginarmos apenas a oposição entre o Bem e o Mal, o livro carrega um elogio às Artes necessário para que pensemos sobre as nossas relações com os outros.
O livro é belo. E é bom imaginar uma cidade chamada Alegria que é triste quando seus moradores não a preenchem com bons sentimentos, com bons momentos. É bom porque me fez pensar que toda e qualquer sociedade começa em minha testa (na testa de qualquer um de nós).
Lembrei-me das cidades imaginadas pelos bichos do Saltimbancos.
Todas elas seriam governadas por crianças.


domingo, 16 de maio de 2010

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O AMOR- PARTE I


DESDE A ANTIGUIDADE CLÁSSICA QUE O TEMA DO AMOR TEM SIDO ALVO DE DIVERSOS PENSADORES. EM PLATÃO EROS É O MEDIADOR, ENCARREGADO DE MEDIAR A ASCESE DO MUNDO SENSÍVEL AO MUNDO INTELIGÍVEL(O BANQUETE). NO MEDIEVO, AGOSTINHO DE HIPONA PENSAVA O AMOR CÁRITAS OU ÁGAPE. TAL SENTIMENTO, IMPULSIONAVA O HOMEM PAR A PRÁTICA DO BEM( O LIVRE-ARBÍTRIO). MAS A FRENTE, O PESSIMISMO DE SHOPENHAUER ASSEVERA QUE O AMOR É APENAS COMO UMA FORÇA DA VONTADE DE PROCRIAÇÃO. PORÉM É NO FIM DA MODERNIDADE E NA CHEGADA DO QUE SE CONVENCIONOU CHAMAR IDADE CONTEMPORÂNEA QUE APARECEM NOVAS INTERPRETAÇÕES ACERCA DO AMOR .

FEUERBACH, NA ESSÊNCIA DO CRISTIANISMO, NOS FALA DA CONCRETIZAÇÃO DO HOMEM COMO SER NO MUNDO, REDUZ A ESSÊNCIA DE DEUS À DO HOMEM. COM EFEITO, O AMOR GANHA EM FEUERBARCH UM ESTATUTO DE COMUNHÃO HUMANA, ESSE SENTIMENTO SE DESLOCA DA FIGURA METAFÍSICA E ILUSÓRIA DE DEUS E TORNA-SE APENAS SENTIMENTO ENTRE OS HOMENS, O AMOR DEIXA DE SER UMA FICÇÃO IDEALIZADA E PASSA A SER PURA SENSIBILIDADE. A RELAÇÃO AGORA É ENTRE O EU E O TU, OU MESMO, O AMOR DO HOMEM PELO HOMEM. O AMOR EM FEUERBACH GARANTE UMA UNIDADE INTEGRAL, ONDE AMAR A SI MESMO E AMAR O OUTRO É A CONCRETIZÇÃO DA NUTUREZA HUMANA, ISTO É, AMO A MIM MESMO TANTO QUANTO AMO O OUTRO, POSSIBILITANDO UMA AÇÃO DE SOCIABILIDADE, UMA COMUNHÃO ENTRE OS HOMENS. NÃO HÁ AI UM REENCONTRO DE PARTES SEPARADAS COMO HAVIA NOS GREGOS, MAS ANTES A CONCRETIZAÇÃO DO SER ÚNICO QUE NÃO SE VER EGOICAMENTE NO OUTRO, MAS QUE ENCHERGA NO OUTRO AQUILO NÃO É. AMAR O OUTRO SIGNIFICA, PORTANTO, RECONHECER A UNIDADE PRESENTE EM CADA SER.