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sábado, 23 de abril de 2011

Moral como conclusão reflexiva de uma pintura de parede.


Afim de reparar, ou melhor, escamotear a aparência da pintura do meu quarto, escondendo os furos, comprei uns posteres da coleção caras de pinturas, que acidentalmente encontrei em um sebo. Das uma das replicas foi uma terrivelmente sublime do pintor austríaco Egon Schiele, que viveu apenas 28 anos, mas produziu intensamente durante a sua vida. Seu trabalho é marcado por forte teor sexual e dizem os seus estudiosos que sofreu forte influência de Sigmund Freud, por isso fez diversos auto-retratos, inclusive se masturbando.

Conheço pouco suas telas, mas pelo que ando pesquisando, ele se tornará um dos meus favoritos. Também não sei explicar muito bem, mas nutro uma forte atração pele pintura expressionista, catalogam-no como pertencente a este movimento artístico e não sei se é a densidade que empregam nas figuras mostrando-as sempre disformes e com um aspecto de sofrimento e minha exuberante identificação pela dor pulsa nessas horas ou se algo o prazer intelectual , da paixão pelo sensível. Deve haver explicação mais plausível para meu afeto acerca do expressionismo, com certeza uma delas é a intensidade de emoções que as telas passam.

Então, quando comprei fiquei entusiasmado, “terei um quarto com pinturas espalhadas, fotos de filmes......etc”, tencionei fazer um quarto com uma decoração bem PIMBA, mas ainda não se efetuou, ele esta mais sóbrio que nunca , do jeito que sou, e outra coisa, acabei me acostumando com as paredes em estado de deterioração, é do jeito que elas são ou as mudo de vez ou não adianta escamotear. E isso vale pra vida!


Beijos

Jadão

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Descrição do fogo I

Ele a olhava com tanto desejo que ela ardia. E ardendo, ele sentia ela a olhá-lo com muito desejo. Tocaram-se inevitavelmente e eram bichos e homem e mulher. Odores. Palavras. Pele. E movimento. E desenharam-se tão junto, tão dentro, que já não eram nem bicho, nem homem e nem mulher. Eram uma lembrança afogueada e intensa. Vermelha e branca da cor do quarto com o sol explodindo dentro.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

AS BACANTES


É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora

E sozinha supor
Que se estivesses dentro

Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora

Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.

(Hilda Hilst)



Desejo. Ausências. Corpos. Aromas. O vinho. O dionisíaco. Porque Hilda fica assim: pulsando em minha cabeça. Meu corpo-sensação se pergunta a todo momento: aconteceu ou sou uma ficcionista? Antes, sonhava que a música me excitava a ponto de me masturbar com o som. Eu era amante, assim, da música. Uma amante clássica. E é por isso que Ariana, assim aroma, assim corpo, assim bacante, assim tambor, me faz pensar: aconteceu ou sou uma ficcionista?

O meu corpo, eu o sentia corpo de Dionísio. Era a tatuagem dele o ponto de referência do meu olhar. Eu não queria significados. Mas, perguntei, como um tempo a mais para tocá-la e para tocá-lo. Para sentir o relevo da pele em desenho. Proximidade. Nunca pensei no siginifcado de tal palavra. Eu que me denomino sacerdotisa de Baco e, portanto, consagrada aos mistérios desse deus. Os mistérios. Os mistérios e seus significados guardados, velados. Eu, naquele momento de toque, queria era apenas tocar e nada mais. Tocar para sentir. Lamber para saber o gosto. O vinho respirava vivo por entre as veias. Dionísio em mim, Ariana, a preparar o corpo desde quando? Eu não o preparara, ao menos, não que eu assim soubesse. Mas, Pessoa falava, através de Caeiro, que "basta existir para ser completo". O gosto-lembrança não era de completude. Era de loucura inacabada. Bêbedo. Quando um personagem de Nelson Rodrigues falou assim "bêbedo" numa película de Jabor, eu ouvi platéias sorrirem. Mas, eu, Ariana, sabia. Aquela palavra não era para os risos. Era para o gozo. E o gozo, o gozo viria sem vinho, sem bebedeiras. Bêbedo uma vez, era necessário a rudeza da sanidade. Para o gozo, completo da existência pessoana: estar são. Antes, tudo vira sonho ou um não-saber-e-só-sentir-que-se-sabe-que-alguma-coisa-aconteceu. Nem toda existência, assim, Ariana, é completa, é isso o que dizes? Sim, responderia, eu, Ariana. Há aquelas exitências que são insanas. E para tanto, para não mais arder e arder: sábias são todas as ausências, Dionísio.

E, por isso, eu preparo aroma e corpo e festa e, ardendo, sozinha suponho coisas e pensamentos e repito para mim: é bom que seja assim, que não venhas, Dionísio.

P.S.: texto inspirado no poema de Hilda Hilst e nas idéias e adaptações de Zé Celso e no sempre Dionísio, deus amado e querido e sempre ovacionado aqui.

sábado, 9 de outubro de 2010

COMO SE HOUVESSEM PROBLEMAS NO MUNDO, COMO SE HOUVESSE APENAS UM ÚNICO REDENTOR...

Costumo dizer aos quatro ventos que o cinema ‘pop’ contemporâneo espanhol, não tanto quanto o italiano, tem um poder de persuasão impressiva no que tange aos temas cotidianos. Quando vi “Teresa, O Corpo de Cristo” (2007, de Ray Loriga), um filme demasiado simples, sobre uma freira que tornou-se santa mas que tinha desejos eróticos com o próprio Jesus Cristo em vida, mexeu comigo de forma mui particular: sei que é uma observação clicherosa, mas... Por que insistem em satanizar o sexo como algo não religioso?

Na última semana, arrisquei-me a ver “Nosso Lar” (2010, de Wagner Assis), epopéia doutrinária kardecista disfarçada de filme e, para meu próprio espanto, não desgostei do filme. Tudo bem que eu também não consegui considerá-lo um filme no sentido escrito do termo (qual é este?), mas... não é ruim! Por mais que cometa despautérios absurdos, como equalizar suicídio e ceticismos como pecados mortais, igualmente merecedores de estágios demorados nos umbrais do inferno. Senti-me cooptado diante daquela pregação, musicada por Philip Glass e protagonizada por um elenco que mais declamava do que necessariamente compunha personagens. No caso do filme católico espanhol tudo flui tão bem...

Acho que estou me convertendo! Culpa do guri que trabalha comigo...

Wesley PC>

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Quem és? Perguntei ao desejo.
                Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.

Do Desejo, Hilda Hilst.

domingo, 15 de agosto de 2010

QUEM CHEGAR ANTES, ESPERA O OUTRO, VIU, NINALCIRA?

“Espérame en el cielo corazón
si es que te vas primero
espérame que pronto yo me iré
ahí donde tú estés.

Espérame en el cielo corazón
si es que te vas primero
espérame en el cielo corazón
para empezar de nuevo.

Nuestro amor es tan grande, y tan grande
que nunca termina
y esta vida es tan corta y no basta
para nuestro idilio.

Por eso, yo te pido por favor
me esperes en el cielo
y ahí entre nubes de algodón
haremos nuestro nido”


Não vou esperar o título (risos), mas digamos que tenha a ver com a canção interpretada por uma tal de Mina que toca ao final de “Matador” (1986, de Pedro Almodóvar): eis o que sentia antes e depois daquele grito imenso, que somente eu, Ninalcira e Fábio Rogério ouvimos na madrugada de hoje. Jadson e Tatiana, deitados do outro lado da cama, não ouviram. Por quê? Houve a especulação que tenhamos os três imaginados o grito. Houve a especulação induzida de que o grito teria provido de alguém que acordara de um pesadelo, o que oficialmente nos consolou antes de adormecer. Houve uma saraivada de memórias eróticas antes de eu deitar naquela cama. E haverá muito mais por acontecer daquele instante em diante. Bela madrugada entre amigos, uma das mais ricas de minha vida!

Wesley PC>

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Rua de mão única

Gosto muito de Walter Benjamin.
Não é por pimbice não (risos). É mesmo por me sentir inapta tantas vezes a compreender quem escreve muito difícil. E Benjamin nao escreve difícil (ao menos sempre). Rua de mão unica, por exemplo, trás uma escritura leve, brincalhona, erótica, porque trata de coisas tão cotidianas, tão perto de nós de maneira táctil ou a apertar o botãozinho mais emotivo para mim que é o da memória. A relação que o moço traz com os livros é assim:

I. Livros e putas podem-se levar para a cama.
II. Livros e putas entrecruzam o tempo. Dominam a noite como o dia e o dia como a noite.
III. Ao ver livros e putas ninguém diz que os minutos lhes são preciosos. Mas, quems e deixa envolver mais de perto com eles, só então nota com têm pressa. Fazem contas, enquanto afundamos neles.
IV. Livros e putas têm entre si, desde sempre, um amor infeliz.
V. Livros e putas - cada um deles tem sua espécie de homens que vivem deles e os atormentam. os livros, os críticos.
VI. Livros e putas em casas públicas - para estudantes.
VII. Livros e putas - raramente vê seu fim alguém que os possuiu. Costumam desaparecer antes de perecer.
VIII. Livros e putas contam tão de bom grado e tão mentirosamente como se tornam o que são. Na verdade eles próprios nem o notam. Anos a fio alguém vais e entregando a tudo "por amor" e um dia está lá como corpus bem corpóreo, na ronda das calçadas, aquilo que 'para fins de estudo" sempre pairava somente acima delas.
IX. Livros e putas gostam de voltar as costas quandos e expõem.
X. Livros e putas remoçam muito.
XI. Livros eputas - "Velha beata - jovem devassa".
XII. Livros e putas trazem suas rixas diante das pessoas.
XIII. Livros e putas - notas de rodapé são para uns o que são, para as outras, notas de dinheiro na meia.

Dá para falar que essa pessoa não se relaciona com os livros de maneira erótica, sensual?
E isso me fascina, me faz saber das coisas. Porque simples, porque táctil. Ora, para um intelectual falar de livros: tudo bem. Mas, falar de putas e de forma poética, assim... Não, não é um estudo antropológico sobre prostituição. É uma relação. Bonita, feia, bruta, de poder, de igualdade, de necessidade, de amor... Uma relação. Assim como a com os livros.

Esse texto (Livros e Putas) se intitula "N. 13", a saber.
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E um outro texto desse mesmo livro (Rua de mão única) com o nome de "Estas plantas são recomendadas à proteção do público"traz algo que me fascina:

"Quem ama não se apega somente aos "defeitos"da amada, não somente aos tiques e fraquezas de uma mulher; a ele, rugas no rosto e manchas hepáticas, rospas gastas e um andar tortoprendem muito mais duradoura e inexoravelmente que toda beleza. Há muito tempo se notou isso. E por quê? Se é verdadeira a teoria de que a sensaçãonãos e aninha na cabeça, que não sentimos uma janela, uma nuvem, uma árvore no cérebro, mas sim naquele lugar onde as vemos, assim também, no olhar para a amada,e stamos fora de nós. Aqui, porém, atormentadamente tensos e arrebatados. Ofuscada, a sensação esvoaça como um bando de pássaros no esplendor da mulher. E, assim, como os pássaros buscam proteção nos folhosos esconderijos das árvores, refugiam-se nas sensações sombrias rugas, nos gestos desgraciosos e nas mdoestas máculas do corpo amado, onde se acocoram em segurança, no esconderijo. E nenhum passante advinha que exatamente aqui, no imperfeito, censurável, aninha-se a emoção amorosa, rápida como uma seta, do adorador".

Ai como gosto de ver o amor assim. E a beleza idem. Essa coisa táctil e verdadeira, que vai acontecendo, amadurecendo...O corpo é isso. Mas, não deixa de ser belo, desejável, poema e erotismo.

Para fechar a minha declaração de amor (e não de pimbice - mais risos) a Walter Benjamin e a seu Rua de mão única, deixo a dedicatória que ele fez do livro à sua amada italiana:

"Esta rua chama-se Rua Asja Lacis, em homenagem àquela que, na qualidade de engenheiro, a rasgou dentro do autor".

PORTÁTIL E POR TÁTIL:

A fim de poder me dar ao luxo de passar 100 minutos enfiado entre as pernas de um rapaz bonito, que me deixava alisar seus mamilos e lamber seus pés durante a sessão, sujeitei-me a ver “Doom: A Porta do Inferno” (2005), péssimo filme do falacioso diretor de ação Andrzej Bartkowiak, na noite de ontem. Tinha certeza de que o filme era ruim antes de vê-lo e sequer o meu companheiro de sessão, que insistiu em vê-lo, gostou do resultado final [detalhe: ele gosta bastante do jogo eletrônico (!) em que o filme foi baseado], mas, com toda a miséria, foi interessante ter passado pelo que passei... Conforme eu ainda reluto em dizer: ver filmes conscientemente ruins tem lá suas vantagens... Escrever obviedades sobre eles é que vem perdendo o sentido hoje em dia!

Engraçado é que não consigo fazer de outra forma: para além de meus gostos pessoais, permeados de ‘pimbice’ e certa erudição, recaio costumeiramente nas sugestões mais ‘pop’ de alguns potenciais receptáculos seminais, que me mantêm em plena atualização no que diz respeito ao universo dito macho, extremamente masculino e pós-adolescente. Na semana passada, a descoberta da vez foi a banda britânica de ‘metalcore’ Bring Me The Horizon, cujo vocalista de 23 anos é comumente acusado de urinar sobre suas fãs. Fãs. Ouvindo o disco com atenção (na medida do possível, lógico), fico imaginando o que leva alguém a ser fã deste disco. É tão barulhento, tão gritante, tão ininteligível, tão disrítmico, tão filho deste tempo atual largamente apodrecido... Não que “Suicide Season” seja um disco ruim, mas ouvi-lo é complicado. Através de fones de ouvido, periga-se ficar surdo. Em rádios comuns, periga-se ser denunciado pela polícia. Conclusão: só pude ouvi-lo uma vez, assim mesmo incompleta, sob os protestos e temores de minha mãe. Não sei quando poderei ouvir de novo... Mas já o usei em conversas que visavam claramente interesses eróticos em relação a meus interlocutores.

Segue, portanto, um trecho traduzido da letra da faixa 08 do disco, “The Sadness Will Never End”:

“Eu não vou voltar para casa esta noite.
Porque querida eu tenho medo,
Este barco esta afundando.
Há esperança para nós?
Vamos ser capazes de sair vivos?
Eu posso provar a falha em seus lábios.
Há esperança para nós?
Vamos ser capazes de sair vivos?
Eu posso provar o fracasso”


Em outras palavras: o que o eu-lírico da banda quis dizer com isso?!

Wesley PC>

domingo, 11 de julho de 2010

FAÇAM TUAS AS TUAS PALAVRAS (E IMAGENS)!

“Os jovens de hoje não podem continuar sendo educados como se não tivessem que assumir a criação dos próprios filhos e, portanto, a continuidade da comunidade nacional. A preocupação com os índios e com o meio ambiente, fomentada pelas escolas freqüentadas pela classe média, inserem uma inversão da hierarquia de valores. De nada adianta cultivar uma atitude conservacionista diante da natureza, deixando combalidos os pilares da sociedade: a família e a empresa” .

O texto pode ser encontrado na página 38 de “A Agenda Teórica dos Liberais Brasileiros”, publicado por Antonio Paim em 1997, através da Massao Ohno Editora; a fotografia pertence ao filme “O Desejo Liberado” (2006, de Mathias Glasner), um filme alemão de quase 3 horas de duração, em que um estuprador sai da cadeia – após 9 anos de reclusão preconceituosa – e não sabe o que fazer com todo o desejo sexual proibido que sente: ele estuprará de novo e, ao invés de condená-lo, a direção e o roteiro desta quase obra-prima melancólica põem-se ao lado dele, como se fosse um de nós em tela. Fiquei horrorizado ao ler o texto. Fiquei triste e excitado ao rever a imagem. Viver tem dessas coisas. A Adriana Calcanhotto bem sabe disso...

Wesley PC>

quarta-feira, 7 de julho de 2010

I
É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora
E sozinha supor
Que se estivesses dentro
Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora
Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.

II
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.

III
A minha Casa é gurdiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência
E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.
A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?
VI
Três luas, Dionísio, não te vejo.
Três luas percorro a Casa, a minha,
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães
E fingindo altivez digo à minha estrela
Essa que é inteira prata, dez mil sóis
Sirius pressaga
Que Ariana pode estar sozinha
Sem Dionísio, sem riqueza ou fama
Porque há dentro dela um sol maior:
Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada, mais luzente e alta
Quando tu, Dionísio, não estás.
VIII
Se Clódia desprezou Catulo
E teve Rufus, Quintius, Gelius
Inacius e Ravidus
Tu podes muito bem, Dionísio,
Ter mais cinco mulheres
E desprezar Ariana
Que é centelha e âncora
E refrescar tuas noites
Com teus amores breves.
Ariana e Catulo, luxuriantes
Pretendem eternidade, e a coisa breve
A alma dos poetas não inflama.
Nem é justo, Dionísio, pedires ao poeta
Que seja sempre terra o que é celeste
E que terrestre não seja o que é só terra.

IX
           “Conta-se que havia na China uma mulher
   belíssima que enlouquecia de amor todos
   os homens. Mas certa vez caiu nas
   profundezas de um lago e assustou os peixes.”

Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas.

X
Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa
E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.
Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Incomunicabilidade


Alguem entendeu algum poster desses que tiago publicou?

outro dia conversando com um amigo psicólogo esse afirmou que todos os homens deliram, adiferença é que uns saem na media geral de delírio, eu acho, acho mesmo que condordo com ele, funcionamos delirando o tempo todo, damos nome sentimentos,acreditamos no inefável, medimos o imponderável,acreditamos em mundos virtuais, escrevemos em blog e por ai vai.....

Mas ao menos um tendendimento do delírio as vezes é bom pragete se comunicar né, nossa eu estou tentando deduzir algo, alguma coisa, mas.....

e daí, quem quiser que tire suas conclusões eu que não vou ser porta voz da camara dos deputados federalistas americanos, eu to com a unha incravada, e a gaganta ainda esta no lugar,ainda.....


por que? por que? por que? porque? o pro-quê? e para que?

sábado, 19 de junho de 2010

Dos lugares - Zicartola


Em Buraco (apelido carinhoso de nossa querida cidade), é comum reclamarmos que não há um lugar para irmos. Os lugares são ou elitizados ou alocam eventos que começam muito tarde da noite e, por esse motivo, torna-se de difícil acesso para quem não tem carro ou, no mínimo, carona certa.
Os domingos em Buraco são entediantes, os sábados mal-aproveitados, etc.
Como havia postado algo sobre o grande Cartola, não resisti e busquei um vídeo para mostrar um pouco do que foi e do significado do restaurante Zicartola: espaço onde havia excelente comida, pois Zica cozinhava muito bem, e excelente música, a saber, foi lá que teve nascimento a carreira de Paulinho da Viola!
Um trecho dessa história segue abaixo, retirado do livro "Paulinho da Viola, sambista e chorão", de João Máximo:

“(...) Zicartola, restaurante que Angenor de Oliveira, o Cartola, iluminado compositor, e sua mulher Zica, exímia cozinheira, abriram no sobrado da Rua da Carioca, 53. O restaurante foi uma espécie de extensão das reuniões que se faziam em outro local, o segundo andar da Rua dos Andradas, 81, onde funcionava a Associação das Escolas de Samba e onde Cartola e Zica viveram por algum tempo, ele como vigia de todo o prédio. Cartola – depois de longo sumiço que levara quase todo mundo a supô-lo morto – fora redescoberto por Sérgio Porto enquanto lavava carros em Copacabana. Para Sérgio, aquele negro magro, de nariz estranho, tumoroso, era o personagem principal das histórias que o tio Lúcio Rangel lhe contava, ilustradas por sambas admiráveis. Redescobrir o ‘falecido Cartola’ foi como dar vida a uma lenda. E Sérgio, cronista mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta, teria todo o direito de gabar-se disso até o fim de seus dias.
O que se passou na Rua dos Andradas foi assim como se o Brasil quisesse recuperar o tempo perdido sem a música de Cartola. Pois era justamente para ver e ouvir Cartola que iam lá incontáveis sambistas, de início os mais ligados à tradição, como Zé Kéti e o jovem Élton [Medeiros]. (...) Zé Kéti aproximou-se de Cartola porque este tinha uma idéia: organizar um conjunto de samba a ser batizado de A Voz do Morro (...) O (...) conjunto – formado entre outros por Cartola, Nélson Cavaquinho, Jair do Cavaquinho, Nuno Veloso, Zé Kéti e o jovem Élton – não passou da idéia. O que não impediu que aquelas reuniões musicais ganhassem fama. Em pouco eram prestigiadas não só por representantes da bossa nova, como Carlos Lyra e Nélson Lins e Barros, mas por gente de outras cidades, outros estados, fazendeiro fretando avião a fim de levar seu povo para conhecer Cartola. Resultado: o sobrado ficou pequeno para tanta gente. Por isso Eugênio Agostini, um empresário louco por samba, deu a Zica a idéia do restaurante. Ele e os pri
mos Renato e Fábio seriam seus sócios, naturalmente bancando os gastos iniciais. Os pratos dela e os sambas de Cartola haveriam de fazer o resto. Que ela mesma procurasse o lugar para a nova casa. Andou, andou e achou o sobrado da Rua da Carioca.
O Zicartola duraria pouco, apenas 20 meses. Mas marcaria de forma profunda a vida cultural da cidade, ou mesmo do país, na música, no teatro, na poesia e nas idéias que eram discutidas nas noites das quartas e sextas-feiras, às mesas distribuídas pelo pequeno restaurante. Começou a funcionar em 9 de setembro de 1963, mas só em 18 de outubro foi considerado pronto para a inauguração oficial. Pratos e sambas não seriam o bastante para compensar os prejuízos causados pelos muitos amigos que chegavam, ouviam música, comiam, bebiam e penduravam as contas para nunca mais (sem falar nos que andaram metendo a mão na contabilidade de Cartola, grande artista, péssimo negociante). Mas o restaurante seria, durante esse tempo, um verdadeiro templo. (...) Ali professavam sua fé no samba tradicional Ismael Silva, Nélson Cavaquinho, Carlos Cachaça, bambas da Mangueira, da Portela, do Império Serrano, do Salgueiro, de toda parte.
Eram dois shows, sempre nas noites de quartas e sextas. No primeiro, aqueles bambas se apresentavam sob a direção musical de Zé Kéti. No segundo, brilhavam Cartola e seu violão. Seguia-se o grand finale, no qual um convidado ilustre recebia a Ordem da Cartola Dourada, criada por Hermínio [Bello de Carvalho]. (...)
Foi Hermínio quem levou Paulo César ao Zicartola. Um fato importante na vida do então bancário, pois ali ele ficou conhecendo sambistas que, em sua timidez, eram entidades inatingíveis. Mais importante: passava a ser um deles. Desde sua estréia no primeiro show da noite, cantando sambas dos outros, causou forte impressão. Inclusive em Cartola, de quem Paulo César se aproximou humilde, cheio de cerimônia. O encontro dos dois é historicamente significativo, verdadeira passagem de bastão, sem que no entanto se tivesse consciência disso. Muito do que Paulo César estava por fazer – manter a tradição, sem maculá-la, requintar o samba sem deformá-lo – Cartola já vinha fazendo. Não fossem ambos tão tímidos, tão reservados, e seria inevitável se tornarem parceiros. Mas Zé Kéti também se encantou com o som do violão de Paulo César, sua musicalidade, sua voz terna, afinada, que combinava o timbre de autêntico sambista de escola com a técnica precisa de crooner profissional. O diretor musical do restaurante logo anteviu
 no moço de 20 anos um novo bamba. Copmentou isso com o jornalista Sérgio Cabral, que na época assinava, com José Ramos Tinhorão, uma seção de música popular no Jornal do Brasil e era mestre de cerimônias no Zicartola. Sérgio concordava. Mas achava que, definitivamente, Paulo César não era nome de sambista.
– Que tal Paulo da Viola? – indagou Zé Kéti, certamente inspirado em Mano Décio da Viola, veterano compositor do Império Serrano.
– Paulinho... Paulinho da Viola é melhor – completou Sérgio.
E assim Paulo César Baptista de Faria foi rebatizado para todo o sempre.” 

O vídeo é Clementina de Jesus, no Zicartola cantando "Ensaboa". 
Ai, ai que tivéssemos um lugar aqui em Buraco onde fosse realmente legal ir, tomar umas cervejas, ouvir umas músicas legais, conversar com pessoas queridas, etc.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Salve Jorge! Salve o amor! Salve!



Georgia e Jorge

Jorge Jorge (Georgia Georgia)
Isso é que é vida
Isso é que é viver
Céu azul, sol e mar
Isso é que é viver
Chuva de verão, meu violão
Muito amor e você
Que me importam o que digam
Que eu não sou ninguém
Que eu não tenho estudos
Sou até anti-social
Que eu devo procurar o meu lugar
Que eu sou porbre sem tostão
Ah mas eles não sabem
Ah não sabem não
Que eu sou nobre
Tenho um bom coração
Pois na minha oração
Eu rezo com muita fé
Eu rezo com muita fé
E não peço nada
Eu só agradeço a Deus
Por você ser minha namorada



Essa é em homenagem ao mês dos namorados.
Ao meu namorado que me deu Jorge Ben, que ouve Jorge Ben comigo, que...
Bom, a postagem é em homenagem ao dia dos namorados e é pretexto pra eu colocar as musiquinhas e os cantores que amo, amo, amo.
Sou enamorada por música.
Assim, é homenagem enamorada duplamente.

Iguais















Fora ao caixa eletrônico. Na saída:
- Tia, compra dois pães para mim, para passar o frio?
Chovia fino. Como escrevera certa vez Machado de Assis: peneirava. Estava em frente ao supermercado. Falou umas palavras ininteligíveis. Esteve confusa. Atravessou a rua e entrou no supermercado. Na saída:
-É tudo para mim?
- Sim. Os pães que você pediu e um iogurte.
Olharam-se.
O brilho nos olhos é que eram indizíveis.
Ela se foi. Estava com vergonha. Sentia culpa: deveria ter-lhe pedido um abraço.
Por um momento lembrou-se que também era pedinte. Estava com a alma maltrapilha. Como já lera em uma escritora, sua favorita.
Mas, ali não era literatura.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ah, é?












03

Ao tirar a calcinha, ele rasga. Puxa com força e rasga. Vai por cima. Ó mãezinha, e agora? Com falta de ar, afogueada, lavada de suor. Reza que fique por isso mesmo.

Chorando, suando, tremendo, o coração tosse no joelho. Ele a beija da cabeça ao pé — mil asas de borboleta à flor da pele. O medo já não é tanto. Ainda bem só aquilo. Perdido nas voltas de sua coxa, beija o umbiguinho.

Deita-se sobre ela — e entra nela. Que dá um berro de agonia: o cigarro aceso na palma da mão. Mas você pára? Nem ele.

04

Só de vê-la — ó doçura do quindim se derretendo sem morder — o arrepio lancinante no céu da boca.


"Ministórias" extraídas do livro "Ah, é?", de Dalton Trevisan.


Na imagem, capas de livrinhos dele. Coleção de bolso. Mundos inimagináveis em cada um deles. Adoooooro!

Do desejo













Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.

(Hilda Hilst)

Essa tela, de Alexandre Cababel é de 1863. Gosto muito, apesar de não entender nada de pintura, de artes plásticas - a relação que tenho é a mais primária possível: olho e a tela, o quadro, me captura, meio que me pesca. Mas, gosto desta dele especialmente porque ele utiliza a célebre referência mítica do nascimento de Afrodite: Cronos castra seu pai Urano e lança ao mar os testículos. Da espessa espuma do esperma, surgiu Afrodite, deusa do amor e da beleza, identificada como Vênus, entre os romanos.

Certa vez li em um livro de Muniz Sodré que “o olhar é um meio de possuir ou ser possuído, completamente análogo aos órgãos sexuais, que possuem e são possuídos”. Gosto de pensar nisso quando olho um Cabanel, um Courbet, um John William Godward, um Lefevbre, um Guillaume Seignac, tão diferentes entre si e tão pescadores de mim...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

DA ARTE DE MANTER A MÃO NO LUGAR CERTO DURANTE UM BEIJO...

Não gosto muito de beijo na boca. Quer dizer: tive tão poucas experiências neste sentido que, antes de querer saber se gosto ou não, inverti precipitadamente a equação, e saí divulgando para os quatro ventos que sou anti-beijoqueiro. Tive uma adolescência marcada por cáries frontais e, como tal, os idílicos beijos homoeróticos que a cultura de massa me ensinou a desejar só vieram se apresentar frente a mim por volta dos meus 22 anos de idade. Tarde demais...

Nesse entretempo, porém, estava mais do que habilitado a enfiar as mãos na genitália alheia em situações diversas, incluindo-se aí viagens descompromissadas de ônibus. Unir uma coisa a outra, tão propagandeada por amigos meus, nem pensar. Fico na vontade...

Como acredito na validade daquele ditado popular que prediz que “não se fecha uma porta sem se abrirem duas janelas”, fui apresentado a um cineasta tailandês genial de nome Apichatpong Weerasethakul, premiado este ano no Festival Internacional de Cinema de Cannes, com “Lung Boonmee Raluek Chat” (2010), algo que pode ser traduzido como “Tio Boonmee que Pode Falar com Suas Vidas Passadas”. Desde já, é um dos filmes que mais desejo/preciso ver, enquanto me consolo com as projeções idílicas do sublime “Eternamente Sua” (2002), mostrado em foto. Ah, quem me dera...

Wesley PC>