O porquê da redação de truísmos no parágrafo anterior? Digamos que um rapaz por quem sou apaixonado convidou-me para assistir a uma palestra de seu irmão mais velho e bem-sucedido profissionalmente na manhã de ontem, sábado de Carnaval. Dentre todos os lugares do mundo, este rapaz, que mora na Bahia, calhou de estar justamente no conjunto residencial em que eu habito. E, como tal, não poderia faltar a tal convite. Comuniquei ao pregador que seu irmão mais jovem havia me convidado e este foi taxativa: “vá por causa de Jesus – e não para ver ou ouvir meu irmão!”. E, por dentro e por fora, eu não conseguia distinguir o que era mais relevante naquele momento: tanto Jesus quanto o rapaz em pauta faziam parte de uma mesma corrente complementar de amor (ou de pretensões de amor, que seja). Não conseguia distinguir uma hierarquia ali, por mais herético que isto possa parecer, numa primeira leitura.
Conforme disposto, portanto, dispus-me a assistir à tal pregação religiosa. Tratava-se de um retiro carnavalesco religioso vinculado à congregação de renovação carismática católica Canção Nova, uma das ramificações mais conservadoras da religião atualmente comandada pelo sumo pontífice Bento XVI. Como tal, os seguidores de tal religião são contrários a práticas como o aborto, a eutanásia, o uso de preservativos e, obviamente, o homossexualismo. E lá estava eu, entre diversos adolescentes, tentando desviar o olhar do rapaz que eu amava, e que sabe o quanto eu gosto dele. Tanto ele quanto o seu irmão pregador, cujo discurso me atingia em cheio. Como calha de acontecer quando prestamos atenção a uma dada liturgia, eu era pessoalmente afetado pelo que ele falava. E, naquele momento, pareceu-me que era errado gostar de seu irmão do jeito que eu gostava. E não era pouco, era muito, E, naquele momento, pareceu errado...
Tinha vindo àquela reunião com o coração aberto, disse ao congressista. E era verdade. Mas também tinha vindo para ver e ouvir o irmão dele, a quem não encontrava pessoalmente há mais de dois meses. E estava com um presente nas mãos, um livro religioso, justamente: “Pensamentos” (1670), de Blaise Pascal, o meu filósofo preferido, numa edição histórica de 1942. Entreguei o referido livro a ele, com toda comoção possível, ao final da reunião religiosa, após uma série de orações e cânticos religiosos benfazejos, sentindo-me particularmente tocado pela graça, ainda que sob as diretrizes de um discurso no qual eu me senti particularmente deslocado. Vem de Deus, vem dos homens, é Graça. Ponto.
Em seguida à entrega do livro, caminhamos pelo local em que moro, tencionava mostrá-lo até que ponto as condições sociológicas de meu habitat interferem em meus comportamentos religiosos e amorosos. Ela sorria enquanto conversávamos. Ele parecia não se incomodar tanto com o fato de eu ser obcecado por ele. Em breve, ele partiria e eu ficaria, como sói acontecer comigo. Ele estava imune, eu não. E, de fato, minutos depois, ele foi para a casa de uma cunhada, enquanto eu fui ao cinema com um vizinho. E, por dentro, eu pensava: “é errado amar deste jeito?”. A imagem que acompanha esta postagem realça o que estou a sentir. E, como diz o versículo 1 do Salmo 116, “amo ao Senhor porque ele ouviu a minha voz e a minha súplica”!
Wesley PC>