domingo, 12 de setembro de 2010

(IM)PERMISSIVIDADE x OBSESSÃO EM WILLIAM WYLER, O PEDRO ALMODÓVAR DE OUTRORA!

Costumo comentar e defender a tese de que William Wyler pôs em voga um tema central da obra futura de Pedro Almodóvar: a obsessão amorosa por parte de seus protagonistas. Se o irreverente diretor espanhol merece os elogios geniais que lhe aplicam, isto deve-se muito à sua capacidade de conciliar referências múltiplas e metalinguagem aos seus roteiros embasados sobre alguém que ama alguém e faz qualquer coisa para estar perto deste alguém, mesmo que isto não seja permitido. E esta é a premissa básica de muitos dos clássicos filmes de William Wyler!

Percebi isto em duas obras bastante distintas no tempo do imponente diretor alsaciano, posteriormente naturalizado estadunidense: “O Morro dos Ventos Uivantes” (1939) e “O Colecionador” (1965), ambos baseados em romances famosos de Emily Brontë e John Fowles, respectivamente. No primeiro, um pária esnoba do amor tardio de uma jovem burguesa, mimada e traída. No segundo, um misantropo seqüestra a rapariga por quem se apaixona perdidamente. Os finais são trágicos em ambos os filmes, conforme não é difícil de imaginar e, para além disso, conformam a minha impressão: são filmes sobre obsessão, como também o são os maravilhosos “Jezebel” (1938), “O Galante Aventureiro/ A Última Fronteira” (1940), “Pérfida” (1941), “A Princesa e o Plebeu” (1953), “Da Terra Nascem os Homens” (1958), “Ben-Hur” (1959) e “Infâmia” (1961), para ficar em apenas alguns que vi. E é sobre este último que eu gostaria de antecipar algumas palavras, ainda em progresso e em processo no campo pessoal: “Infâmia” é uma dolorosa estória de frustração!

No filme, Shirley MacLaine e Audrey Hepburn interpretam duas professoras primárias que se conheceram na faculdade e resolveram fundar uma escola para meninas juntas. Uma delas está noiva e a outra é uma solteirona. Uma das crianças ricas é demasiado mimada e, no afã por se livrar de uma punição por mentir descaradamente, inventa (ou melhor, hiper-interpreta) que as duas professoras compartilham uma forma “inatural” de amor. A polêmica é lançada, a escola é fechada e as conseqüências são irreversíveis. Ao final, eu e Jadson, localizados em platéias individuais distintas, estávamos ambos com um nó na garganta. E, no meu caso, um agravante subjetivo me perturbava: a identificação contemporânea.

A fim de não comprometer o baque de quem ainda verá o filme, um leve redirecionamento de assunto: no local onde trabalho, há um menino bruto que me causa paixonite. Como sói acontecer neste tipo de situação, grito aos quatro ventos que sou obcecado por ele. Algumas meninas traiçoeiras descobriram que meus olhos brilham mais forte quando estou ao lado do moço e começaram a zombar dele, a escarnecer de sua discrição. Daí, ele veio reclamar comigo, dizendo que meus cuidados estão fazendo com que suspeitem de sua sexualidade e que eu deveria continuar quieto no meu canto, visto que jamais seremos amigos, que ele não tem a menor intenção de manter qualquer afinidade comigo, o que não deixa de ser uma falácia injustamente defensiva, visto que temos muito em comum fora daquelas paredes burocráticas. Assim sendo, eu supliquei para que ele visse o referido filme. Ainda aguardo a resposta...

Wesley PC>

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