quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Doce azedume

Quando estou

A lamber-lhe o cu,

Imagino a infância

Ali :

Frutas chão quintais...

... línguas atrevidas...

Eu feliz.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Kierkegaard e Kubrick



Hoje fui a UFS estudar, tomei um cafezinho e depois de dias fumei um cigarro em homenagem aos velhos tempos.
Lembrei de um carinhoso filme e não menos angustiante por isso, “ Asas do desejo”, no filme um anjo deseja torna-se homem para sentir o prazer da vida e amar uma trapezista de circo, sendo que uma das primeiras coisas que faz quando se torna homem é fumar um cigarro.
Lendo muito sobre Kierkegaard esses dias e nossa como me descubro um apaixonado pelo tema do indivíduo, da alteridade e apesar de estar focando mais na questão ética, não tenho como dizer que a subjetividade ainda é o meu tema favorito no autor de “ As obras do amor” livro que estou a reler.
Assim, sem tempo ultimamente para ler coisas mais literárias, mas consegui ver “ Gloria feita de sangue” do Kubrick e como não podia deixar de ser o dilema moral e ético que transforma o protagonista num solitário no mundo desesperado como sua própria subjetividade me fez pensar o quanto custa caro defender uma posição ética.
Enquanto isso luto avidamente para manter a engrenagem funcionando.........

JT

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade.

Sempre fui muito dado mesmo ao erotismo... às revistinhas de sacanagem, aos filminhos pornôs, à safadeza, enfim, de uma maneira geral. Vivi recatado no interior do Estado como mocinho puro filho de pessoas respeitadas, logo, mocinho de família... mas, no cantinho de meu quarto, as paredes amarelo-amarronzadas eram a concreta denúncia de meus atos mais libidinosos. Sem paciência para guardanapos, as paredes serviam de capacho para as minhas mãos lascivas. Aos pobres, disse certa vez Bukowisk, resta o sexo e o alcoolismo. A mim, que me entendo não por gente, mas por Alma Livre, embora em perene angústia a vagar nesse vil purgatório, parece ter restado mesmo o DESEJO. Dou um passo e latejo.

Lendo o Cartas de um sedutor, de Hildinha (rs), me deparei, sem muita ênfase, com a sugestão que faz do livro de João Silvério Trevisan “Devassos no paraíso”. O livro da escritora já é bem delicioso e libertino, mas andando pela livraria como se a andar atrás de diversão, eis que se expõe para mim feito michê, o livro do Trevisan. Leio-o como se a beber vinho. Ao mesmo tempo em que se enrijece o meu pau, conheço coisas fascinantes, me introduzo em conhecimento sobre o “homoerotismo”, ou homossexualidade, ou homossexualismo (e aí, já não significam mesmo para mim a mesma coisa) de maneira nunca antes pensada por mim.

O Trevisan cita fatos históricos da época do Brasil Colônia muito relevantes e desmunhecadores. Quando penso que estou a ler um texto meramente acadêmico, de repente, estou molhado de tesão, ou mergulhado em revolta. E não apenas. Eis uma pequena citação de um livro de Conrad Detrez, escritor Belga que veio ao Brasil na época da ditadura militar prestar serviços de seminarista:

“Meu amigo me prendeu bruscamente entre suas pernas, abriu minhas nádegas, me penetrou. Urrei de dor. Minha carne, minha pele se rasgaram. Sangrei, gritei que o amava, que ele estava me matando, que estava doendo, doendo muito, e que eu me entregava. Meu esperma jorrou sob mim, meu sangue escorreu por minhas coxas. Dormimos, comemos, nos amamos num cheiro de sangue seco, de suor, vivemos dois dias numa mistura de lágrimas e de jogos, de carícias muito suaves e perigosas, sentados, deitados, em pé, cometendo todos os desregramentos, todos os excessos que nossa imaginação pudesse conceber, excessos que nos teriam levado à morte se o Carnaval não tivesse terminado”.

Bem, ainda não o terminei. Tenho, pois, muitas outras coisas a fazer... o livro é grosso e pelo que me parece fora atualizado para a reedição. A primeira se esgotou há mais de dez anos desde a publicação. Moral da história: não sirvo mesmo para disciplinaridade, com tanta coisa para estudar, acabo sempre me inclinando à devassidão. Adoooro.

sábado, 25 de setembro de 2010

Infância e a memória perdida


A memória é uma coisa realmente fascinante, outro dia caminhando pelas ruas do bairro em que moro, lembrei de quando criança brincava nas ruas de muitas coisas e era muito divertido, a minha geração curtia pimbarra, queimado, manja, esconde-esconde, cipozinho quente, garrafão, elástico, pedra-papel-tesoura, eram tantas....
Fiquei me perguntando o que faz que essas coisas percam o sentido quando crescemos, ao menos, o que acontece para que paremos de brincar? De fato passamos a nos divertir de outros modos, esse universo infantil se distância com a chegada das responsabilidades, do modo como vivemos ou como nos submetemos ao modo de produção capitalista.
Ambicionamos tantas coisas, ou mesmo, introjetamos um discurso que diz que precisamos ser algo na vida, ou seja, manter a lógica social em ordem. É uma discussão talvez aporética, o que nos desejamos e aquilo que pensamos que estamos desejando. Mas será que em todo caso somos vítimas da vontade?
Esses dias vi um filme interessante chamado “Moon” no Brasil “Lunar, uma mistura de várias ficções científicas, mas bem legal, que o foco era a memória, a memória implantada em clones de um homem que deveria ter sido astronauta, que teria uma mulher e filha, tais clones serviam em uma base de produção de energia na lua e eram despertados no momento em que convinha a empresa por um computador tipo o HAL de “2001- uma odisseia no espaço”, muitas questões podem e devem ser levantadas a partir das implicações éticas deste tipo de prática, que não duvidem que já aconteça por ai a fora....
Estou numa fase estranha ultimamente, muitas interrogações estão vindo a tona, será que vale a pena viver sendo um clone com memórias implantadas? E Como viver daí em diante sabendo que não existe memória verdadeira?
Olhar o passado é um movimento que as vezes pode ser cruel, se é que temos memórias verdadeiras ou se são as romantizadas as que dão sentido a vida...... e o esquecimento como podemos falar dos hiatos que se formam na nossa mente com o passar do tempo, na verdade o que podemos é criar coisas para preencher os vazios....

Jadson Teles

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O Vaga-lume



... e os pensamentos iam-lhe como clareiras abertas na selva. Assim deviam ser os loucos, pensamentos-aberturas. Pensava na coisa secreta que o regia como maestrina a um concerto. Ele era tudo aquilo: violinos e tambores, cordas e metais. Ele era tudo aquilo mesmo: A DOIDA SINFONIA, SELVAS E CLAREIRAS. Aquela noite estava fria e daquele instante por diante nada mais se mostraria mesmo claro. Restava mais uma hora do violoncelo, mas decidiu ir. Sem casaco, pôs as mãos geladas dentro dos bolsos da calça, foi descendo a escadaria do conservatório desejando a noite. Do lado de fora, viu duas mulheres fumando, uma era a Marcela, a outra parecia ser nova ali baforando estranhas formas com a fumaça dos cigarros, parecia brincar. Ele pediu um, ascendeu e foi embora. A fumaça expulsa da boca subia e subia como que a se esconder no breu do céu. Se fosse cuspe, já teria lambuzado a barba e se derramado no plexo, desajustado que era até para cuspir. E também, querer fumar de uma hora para outra... Mas é assim, não é? Não, não é assim. De um instante para o outro é destruída uma estrela no universo. Foi de um segundo para o outro que a bomba de Hiroshima dizimou centenas de milhares. Mas... tudo tem uma história e isso é certo. Tudo aquilo era para tornar a coisa secreta em uma estratégia de vida. Estava mesmo aprendendo a lidar com cigarros. O melhor é que já não precisava mais dividi-los com ninguém, encontrara o caminho. Mas aquilo de fumar era complexo. Nada tinha a ver com chupar fumaça e só. Não para ele. Aquilo guiava-lhe ao definhamento das células e ao enegrecer dos dentes, ingênua e secretamente. Comprou uma carteira, puxou um ainda novinho. Sugou-o com as narinas. “Maravilhoso”. Ninguém está mesmo preparado para o repentino, todo mundo entende, todo mundo se conforta quando, aos poucos, as coisas mínguam: até que os dentes enegrecessem, até que magro e quebradiço, no fim, seu corpo se tornasse, ele fumaria os cigarros. Mas ninguém precisava saber. Melhor assim, melhor até mesmo que um suicídio convencional. Sem surpresas e desesperanças. Sem drásticas rupturas. Deixaria que o acontecimento de sua morte fosse como a aparição de um corpo afogado trazido pela corrente marítima. O corpo esquecido e transfigurado trazendo a insignificância da carne, e a corrente cedendo-lhe a visibilidade: o corpo codificado pelo oceano. A morte, matéria-prima do esquecimento. A corrente era o segredo do oceano. Vastos e profundos mares codificados. Vezenquando corpos na praia como fogos de artifício, como os vaga-lumes de Braudel na escuridão. A passagem do livro era essa: “quando penso no indivíduo, sou sempre inclinado a vê-lo como prisioneiro de um destino sobre o qual pouco pode influir”. Leu e tentou fingir que era devaneio intelectual, riu um pouco ainda. Fazendo-se de desentendido chupou mais um cigarro, os cientistas diziam que era um dia a menos. Eis que ali estavam a fragilidade do indivíduo e o poder da sua consciência. Um dia, fogos de artifício anunciariam algo, a escuridão predominaria para além do brilho do belíssimo espetáculo dos vaga-lumes e o corpo insurgiria nas ondas.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Marcela ou As duas amantes


Poderia ter dado para a Martha ou para Júlia.
Poderia ter dado para qualquer outra ali da rua, da escola, das aulas de música. Tanto olhava as meninas com os baixos entre as pernas, nas aulas, que se perdia entre as partituras e os pensamentos.
Imaginava o baixo como o amante daquela que era a menina mais bonita da turma e a mais fútil também. Loura e distante. Com amantes mais velhos, todos sabiam naquele conservatório.
Era isso: ela decidira só olhar de longe, vez ou outra, as mulheres e seus amantes. Decidira ficar pacata, tornar-se invisível. Temia tocar no corpo de uma outra mulher. Sabia que ela mesma era para ela um segredo e, portanto, não suportaria o segredo de mais ninguém.
A música e o cigarro eram a sua fuga. Gostava de ver a fumaça distanciar-se no ar. E aprendera a fazer bolinhas e alguns outros desenhos com a fumaça.
E foi com uma dessas baforadas, no intervalo de suas aulas, que conheceu Marcela.
Conversaram. Tomaram coca-cola juntas e dividiram cigarro e fumaças.
Riam. Trocavam confidências. Leia-se: Marcela falava de si, ainda que tentasse incansavelmente arrancar-lhe os mistérios. A outra, ouvia, calada que era, a dona de um segredo.
Marcela falava de tudo. De música e de amores. De tristezas passadas e da fé no futuro. Mas, parecia não ter força o suficiente. Porém, sorria como que iluminando o rosto da amiga.
E então ela pensava: não posso desejar Marcela.
Aprendera, mesmo sem ter sido educada nos moldes católicos, a repreender muito do que sentia. Era a sua forma de guardar seu segredo.

As aulas terminaram para ela e continuariam para Marcela.
Houve um concerto para a festa de formatura. Bebidas, cheiros, cores. E a despedida. Despediu-se de todas as outras com o olhar. A loura estava magnífica e nem olhara para ela.
De Marcela, despediu-se com um abraço e um cigarro dividido do lado de fora da festa.
Saiu mais cedo e nunca mais vira Marcela.

Anos se passaram. Vivia de música, agora como professora e morava num minúsculo apartamento no centro de uma grande cidade. E,  numa madrugada insone, ligou a televisão e afastou-se da sala.
Ouviu uma voz singular. Suave, cristalina…clara, clara e reconhecível… Voltou para a sala e vira Marcela.
Marcela estava magra como sempre e com um sorriso que iluminava, como sempre.
Ela olhou fixamente para a TV. Não acreditava que Marcela terminaria a música. Marcela demonstrava a mesma falta de força de sempre. Não conseguiria.
E sentou-se, inquieta.
Marcela foi tomando força, foi cantando cada vez mais firme. O piano, suave, gostoso de se ouvir. Marcela cantava forte, bonito, iluminado.
Então, ela abriu suas pernas, encontrou o seu sexo e ao fim da música, gozou com Marcela.

Poderia ter dado para Martha ou para Júlia. Para qualquer uma ali da rua, da escola, das aulas de música. Mas, deu para uma que ela não sabe ainda quem é. Conheceram-se depois que ela vira Marcela na TV. Conheceram-se durante um intervalo de aula, entre baforadas de cigarros e coca-cola. Esse rosto também ilumina quando sorri.

E agora pensa que, sem querer, Marcela lhe desvendara o segredo de uma vida quase inteira.
 
P.S.: A gravura é de João Werner e se chama "As duas amantes".

Muito íntimo para publicar?

Por muito tempo eu escrevi diários íntimos. Quase todos eu destruí. Os de minha adolescência e, mais antigos ainda, os da pré-adolescência. Por vezes eu me cobrava: "Oh, porque é que eu fiz isso?" e reclamava: "Seria massa saber de mim naquela época, como eu pensava/sentia as coisas". Mas, acabava me confortanto com a idéia que muita gente faz de mim e que acabei fazendo também: a de que tenho uma memória de elefante. Lembro-me, realmente, de muitos detalhes, de muitas coisas/acontecimentos. E sou mesmo capaz de lembrar a roupa que não-sei-quem estava usando na ocasião em que segurando um copo verde de água falou "não-sei-o-que, não-sei-o-que, sei-que-lá".
Isso acontece em muitas e muitas oportunidades. Recordo acontecimentos, sensações, épocas, etc.
Tanto que lembro da sensação ruim, de abandono, que sofri algumas vezes quando minha mãe me deixava na escola quando eu era bastante pequena. Era uma dor meio de mágoa, pois eu imaginava que ela estava me deixando para sempre.
Essa não é uma memória por tabela - daquelas que a gente não lembra, mas de tanto nos falarem, fica em nossa cabeça como um acontecimento. Não, nem ela mesma sabia disso que eu sentida. Eu só falava da alegria que era quando ela ia me buscar. Da tristeza, eu não comentava. Guardava num canto qualquer para  esquecê-la. Mas, isso não aconteceu. Até hoje sinto o coração apertado quando vejo guris sendo deixados em portas de escolas. Imagino se algum deles está naquela hora achando que nunca mais verá a pessoa que mais ama no mundo.
Ok. Também essa recordação pode ser um indício de que eu seria uma pessoa dramática. Mas, aí pode já ser uma superinterpretação. Prefiro continuar acreditando na tal memória afetiva.

Voltemos ao motivo que me levou a falar em diários íntimos. Ontem, pela madrugada, mexendo em papéis, encontrei um diário meu. Mais recente, de 2007.
Li algumas partes. Mas, antes pensei: olha só, estou prestes a viver um encontro comigo mesma.
Tamanho o susto: não era eu. As situações as mesmas, em sua grande parte, mas a minha percepção, o meu jeito de ver, de sentir...tudo mudado.
E as surpresas eram algumas. Pessoas das quais eu não me separava, hoje estão tão distantes que nem ocorre de eu pensar muito. Inda bem que não houve ruptura alguma de maneira ruim, porque fulana me tratou mal ou eu tratei fulana mal ou coisas que o valham. Afastamento por conta das mudanças mesmo. Essa que tanto me assustou.
Coisas que eu, a pessoa que tem memória de elefante, não me lembrava.
E a percepção de que o ano de 2007 foi um dos mais difíceis de minha vida. A morte de minha mãe foi em 2006. Mas, as complicações se deram em 2007. Talvez meu organismo tenha reagido com tamanha força com o passar do tempo. Quando, para todos, o tempo (que costumam falar que é remédio) havia solucionado as coisas, para mim, a idéia-sensação era de que tudo só havia piorado.
Sobrevivi a 2007. Foi essa a graça da noite de ontem. A certeza de que aquele ano está longe de mim uma distância de 3 anos e de incontáveis mudanças.
Não sei se é caso de dizer que as coisas melhoraram ou pioraram (ainda que eu mesma tenha usado palavras assim nesse texto, algumas linhas antes). Mudaram.
Percebi que tal processo de mudança teve o dedo meu, da vida e de todas as pessoas por perto de mim.
Bom, enfim, percebi que mesmo com o diário em mãos, ainda assim, aquele ano será digerido por alguns muitos anos a fio...não será ainda para já, em alguns aspectos.
Uma dúvida me restou e eu falei, sozinha, para mim: "Não seria melhor tê-lo destruído?".
Tenho pensado que sim. Não porque as coisas passaram, não porque eu não sou mais a mesma, não porque foi um ano ruim para caralho. Pelo fato de que realmente, pensando-se no que venha a ser a memória para a construção de identidades, muitas vezes o esquecimento é por demais necessário para prossigamos com a vida normal.
Aqui, penso numa memória política. Os presos e torturados em regimes ditatoriais, etc.
Algumas marcas devem nunca serem esquecidas para não haver mais repetição. Outras, devem ser esquecidas para que se continue a viver. Pois, a memória também é passado. E revisitar algumas coisas é o mesmo que concordar com o presente como um passado que não quer passar...
Hoje percebi que a fitinha de Nosso Senhor do Bomfim que eu tinha no braço esquerdo caiu.
Não sei quando foi exatamente. Mas, o mais estranho foi que passei tanto tempo com ela, que chegava a pensar que ia estranhar quando ela se rompesse. E isso não aconteceu Não estou sentindo falta da tal pulseirinha roxa, meio guerreira de chuva e sol. Agora imagino: é tempo de se realizar os desejos pedidos antes de prendê-la em meu braço?

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Pica-flor

Trio de amantes
gravura digital raster
42x60 cm.
06/06/07

A uma freira que satirizando a delgada
fisionomia do poeta lhe chamou "Pica-Flor".


Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber,
Se no nome que me dais,
Meteia a flor que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor.

Essa imagem merecia um dos poemas de Gregório de Matos de que mais gosto: Pica-flor.
MET
gravura digital raster
42x60 cm.
09 de novembro de 2008

Velho, lembrei-me, ao ver essa gravura, de João Werner, de algumas conversas com Tati sobre poseia metalinguística e a promessa de um seu curta-metragem discorrendo sobre o tema...Já temos como colocar um objeto de cena no curta, viu?

Modos de amar XV

 Para fechar os momentos, tem esse de Maria Tereza Horta, que é muito longo, e eu gosto particularmente, desse "Modo de amar XV":

 

(A boca – A rosa)

Entreabre-se a boca
na saliva da rosa

no raso da fenda
na fissura das pernas

Entreabre-se a rosa
na boca que descerra
no topo do corpo
a rosa entreaberta

E prolonga-se a haste
a língua na fissura
na boca da rosa
na caverna das pernas

que aí se entre-curva
se afunda
se perde

se entreabre a rosa
entre a boca
das pétalas

Cerejas, meu amor

 Momento Renata Pallottini?


Cerejas, meu amor,
mas no teu corpo.
Que elas te percorram
por redondas.

E rolem para onde
possa eu buscá-las
lá onde a vida começa
e onde acaba

e onde todas as fomes
se concentram
no vermelho da carne
das cerejas...

Sem você...

 Momento Ana Cristina Cesar?

Sem você bem que sou lago, montanha.
Penso num homem chamado Herberto.
Me deito a fumar debaixo da janela.
Respiro com vertigem. Rolo no colchão.
E sem bravata, coração, aumenta o preço.

Ariel


 Momento Sylvia Plath?

Êxtase no escuro,
E um fluir azul sem substância
De penhasco e distâncias.

Leoa de Deus,
Nos tornamos uma,
Eixo de calcanhares e joelhos! – O sulco

Fende e passa, irmã do
Arco castanho
Do pescoço que não posso abraçar,

Olhinegra
Bagas cospem escuras
Iscas –

Goles de sangue negro e doce,
Sombras.
Algo mais

Me arrasta pelos ares –
Coxas, pêlos;
Escamas de meus calcanhares.

Godiva
Branca, me descasco –
Mãos secas, secas asperezas.

E agora
Espumo com o trigo, reflexo de mares.
O grito da criança

Escorre pelo muro
E eu
Sou flecha,

Orvalho que avança,
Suicida, e de uma vez se lança
Contra o olho

Vermelho, fornalha da manhã.

O meu amor

Momento Chico?

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

Sossegue Coração

 Momento Lemisnky?


sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora

calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa


(Paulo Leminsky)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

ANTES VER AS ESTRELAS AO SAIR DO QUE ABANDONAR AS ESPERANÇAS AO ENTRAR...

Talvez o título seja um tanto “interno” para quem ainda não leu “A Divina Comédia”, de Dante Alighieri, mas este é propositalmente o meu intento: acabo de ler este livro canônico da literatura mundial numa edição comentada de 1955 da editora portuguesa Sá da Costa e enfrentei trocentos pequenos dilemas enquanto consumia as páginas dos trinta e quatro cantos que compõem este belo livro. O principal destes dilemas atrela-se a um problema (entre aspas) comentado noutro texto: a minha velocidade de leitura versus o estilo poético do texto de Dante Alighieri, que obrigava-me a repousar demoradamente num dado aforismo, numa dada passagem, que eventualmente me empurrava para uma consulta às notas explicativas de rodapé, e aí por diante... Foi uma leitura difícil, mas muito recompensadora e, se empenho-me aqui em recomendá-la discretamente, é porque creio que seja um excelente contraponto conteudístico ao pessimismo iracundo que tomou Jadson quando de seu contato com um livro de Antônio Carlos Viana em que o Inferno era também citado. A diferença: no livro citado por Jadson, o Inferno estava aberto. No livro citado por mim, o Inferno está como sempre esteve: o autor e seu cicerone romano é que aceitam voluntariamente a tarefa de visitar os nove círculos e, oh, as atrocidades que eles encontram pelo caminho!

Não vou abrir aqui a minha boca presunçosa para dizer que consumir o livro da forma adequada (na verdade, apenas a primeira parte do livro, visto que ainda me faltam o “Purgatório” e o “Paraíso”, mas... Não é sobre o “Inferno” que todos falam?), mas o li com paixão, sorvi cada palavra e situação como se fosse eu próprio a estar lá, passeando por aqueles corredores naturais de horror, punição e pecado. Não me atrevo a tachá-lo de “obra-prima” porque algo na tradução apresentada me incomodou. “Aprenda a ler em italiano, Wesley”, aconselhou-me o amigo Flaubert, ao telefone. Eis o que devo fazer, depois que findar a modinha idiomática levada a cabo pela telenovela das 21h (risos). Salve, Dante Alighieri (1265-1321)!

Wesley PC>

domingo, 12 de setembro de 2010

(IM)PERMISSIVIDADE x OBSESSÃO EM WILLIAM WYLER, O PEDRO ALMODÓVAR DE OUTRORA!

Costumo comentar e defender a tese de que William Wyler pôs em voga um tema central da obra futura de Pedro Almodóvar: a obsessão amorosa por parte de seus protagonistas. Se o irreverente diretor espanhol merece os elogios geniais que lhe aplicam, isto deve-se muito à sua capacidade de conciliar referências múltiplas e metalinguagem aos seus roteiros embasados sobre alguém que ama alguém e faz qualquer coisa para estar perto deste alguém, mesmo que isto não seja permitido. E esta é a premissa básica de muitos dos clássicos filmes de William Wyler!

Percebi isto em duas obras bastante distintas no tempo do imponente diretor alsaciano, posteriormente naturalizado estadunidense: “O Morro dos Ventos Uivantes” (1939) e “O Colecionador” (1965), ambos baseados em romances famosos de Emily Brontë e John Fowles, respectivamente. No primeiro, um pária esnoba do amor tardio de uma jovem burguesa, mimada e traída. No segundo, um misantropo seqüestra a rapariga por quem se apaixona perdidamente. Os finais são trágicos em ambos os filmes, conforme não é difícil de imaginar e, para além disso, conformam a minha impressão: são filmes sobre obsessão, como também o são os maravilhosos “Jezebel” (1938), “O Galante Aventureiro/ A Última Fronteira” (1940), “Pérfida” (1941), “A Princesa e o Plebeu” (1953), “Da Terra Nascem os Homens” (1958), “Ben-Hur” (1959) e “Infâmia” (1961), para ficar em apenas alguns que vi. E é sobre este último que eu gostaria de antecipar algumas palavras, ainda em progresso e em processo no campo pessoal: “Infâmia” é uma dolorosa estória de frustração!

No filme, Shirley MacLaine e Audrey Hepburn interpretam duas professoras primárias que se conheceram na faculdade e resolveram fundar uma escola para meninas juntas. Uma delas está noiva e a outra é uma solteirona. Uma das crianças ricas é demasiado mimada e, no afã por se livrar de uma punição por mentir descaradamente, inventa (ou melhor, hiper-interpreta) que as duas professoras compartilham uma forma “inatural” de amor. A polêmica é lançada, a escola é fechada e as conseqüências são irreversíveis. Ao final, eu e Jadson, localizados em platéias individuais distintas, estávamos ambos com um nó na garganta. E, no meu caso, um agravante subjetivo me perturbava: a identificação contemporânea.

A fim de não comprometer o baque de quem ainda verá o filme, um leve redirecionamento de assunto: no local onde trabalho, há um menino bruto que me causa paixonite. Como sói acontecer neste tipo de situação, grito aos quatro ventos que sou obcecado por ele. Algumas meninas traiçoeiras descobriram que meus olhos brilham mais forte quando estou ao lado do moço e começaram a zombar dele, a escarnecer de sua discrição. Daí, ele veio reclamar comigo, dizendo que meus cuidados estão fazendo com que suspeitem de sua sexualidade e que eu deveria continuar quieto no meu canto, visto que jamais seremos amigos, que ele não tem a menor intenção de manter qualquer afinidade comigo, o que não deixa de ser uma falácia injustamente defensiva, visto que temos muito em comum fora daquelas paredes burocráticas. Assim sendo, eu supliquei para que ele visse o referido filme. Ainda aguardo a resposta...

Wesley PC>

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Postaria ontem, mas sem net, postei hoje: anacrônico?

Assisti, há pouco, ao filme Nome Próprio. Não vou falar do filme, nem se ele é bom, se ele é ruim, nem de seus planos, nem de sua ambientação, nem fazer uma análise de imagem e som. Muito menos vou falar da sua história. Nem vou pagar pau para o filme, nem para a personagem, nem para a direção. Nem pagar pau nem falar mal.
Mencionei o filme só para começar a escrever mesmo. Sem motivo. Sem conexão qualquer. Mas, também não quero entendimentos nem desentendimentos. Quero só escrever isso e postar. Pelo simples fato de que eu fiz uma conta para ter um blog. e porque ter um blog se constitui em mais ou menos isso: escrever e postar coisas. Só isso. Se eu não quiser escrever, não escrevo. E se eu não quiser publicar, não publico. Simples assim.
Talvez guarde na lembrança recente de que a personagem tinha um blog, se expunha. Sua página não possuía espaço para comentários e, por esse motivo, ela designou sua página de "não interativa". Talvez esse seja o motivo para eu ter começado a escrever falando sobre o tal filme.
Aqui tem espaço para comentários e, por esse motivo, comenta-se e, dialoga-se, interage-se. Além de que aqui é um espaço onde convidei mais pessoas e ele acabou muitas vezes sendo várias coisas ao mesmo tempo. Certa vez louvei essa não-classificação (em termos de gênero) dos blog's. Em espaços como esses pode-se escrever e publicar e trocar e oferecer e dividir crônicas, contos, poesias, diários, ficções, resenhas, desenhos, músicas, misturebas das maiores e das mais misturadas.
E, para a gente do maracujá, funciona até mesmo como um jeito de saber notícias uns dos outros. Quando um viaja, quando se mete em muitos trabalhos dos cursos e de seus trabalhos mesmo, ou seja qual for o motivo para sumirmos. O fato é: as vezes sumimos, e o blog também funciona como o lugar onde dizemos que estamos com saudades, que queremos notícias, desejamos saber da pessoa, etc.
Cada blog deve ter a sua especificidade e o da gente é bastante específico. Mesmo nesse emaranhado todo.
Pessoas entram, pessoas saem como colaboradores. E a gente, serelepe e incansavelmente, posta coisas e mais coisas. E muitas vezes, deixamos de postar por tempos a fio: ou por falta de acesso à Internet ou porque não queremos mesmo ou porque temos mais o que fazer. Horas é um meio de comunicação, outras de não-comunicação, ou como já colocou-se certa vez nos marcadores, de comunicabilidade incomunicável ou de incomunicabilidade comunicável.
Memórias, desejos, ficções, diários, sensações, desabafos, opiniões, divisões (de vídeos, de livros, de filmes, de casos e de causos, de quadros, de desenhos, de músicas), construções, resenhas de livros, de filmes. Misturebas.
E, aqui, diferente da página da garota do filme, tem espaço para comentário, inclusive espaço sem mediação alguma, ou seja, qualquer um que queira pode vir e comentar o que queiramos e tenhamos postado.
Certa vez quis instalar um medidor de visitas e até um desses lances (programas) que a gente fica sabendo das estatísticas: quem acessou e quando e por quanto tempo; qual a faixa etária, qual a região onde moram as pessoas que entram no blog, etc. Desisti. Primeiro, porque me deu trabalho, segundo, porque não tinha deliberado com os outros, terceiro, porque achei bobice: nunca compreendi minha intenção em ter um blog e muito menos entenderia um tipo de monitoração a esse blog, pra que me serviriam estatísticas, números? A mim, falo. Outros blogueiros, não os julgo, nem é isso o que estou escrevendo, qualquer tipo de agressão ou crítica. Só não me interessou saber. E, também, as vezes que tive contato com páginas que tentavam me explicar o porquê de ter um tipo de programinha destes, sempre falavam em melhorar o que postávamos para atingir mais público, para agradar as pessoas, para sermos lidos. Isso me desinteressou deveras. O clima era de competição e eu, mesmo sem saber para que tinha feito um blog, sabia que não era para competir ou para ser muito lido ou seja lá o que for nesse sentido. É bom eu ressaltar que não estou criticando quem faça uso de coisas assim. Um dia posso vir a usar neste ou noutro blog, sei lá. É só para frisar que não estou escrevendo, agora, nada agressivo nem peremptório, nem para a posteridade ad infinitum, salve, salve...
Como já havia falado noutras ocasiões, não sou muito ligada nessas coisas de Internet, entrei aqui de soslaio (como tem na primeira postagem) e começou a fazer mais sentido isso aqui para mim quando chamei meus amigos para participarem junto comigo disso que é para mim a estranheza boa de escrever assim. Uns chamei outros pediram para escrever. E assim tem sido. Uma mistureba.
E as fronteiras: público? privado? verdade? ficção? isolado? conjunto? continuam assim: com interrogações no final.
Aqui não há uma linha condutora, uma coerência de forma nem mesmo de conteúdo. É fluxo, é como se fosse a vida acontecendo, sem forma. Inesperada.
O interessante é que eu, sempre ou, para ser menos drástica, vez ou outra, fico me indagando quanto a escrever num blog. Por ora. Pois sei que posso deixar de escrever a qualquer momento. Ou nunca deixar de fazê-lo. Como tudo o que acontece normalmente na vida.
Vez ou outra é que ligo a tomada chamada blog. Por que tenho um blog? Por que escrevo coisas aqui? Para mim isso não é virtual, como certa vez respondi para Tiago. Mas, isso é só algumas muitas vezes. Noutras, tenho total consciência de que é virtual sim. Mas, virtual não é mentiroso. E por não ser mentiroso também não é que tudo seja a verdade mais verdadeira do mundo.
Às vezes há direcionamento ou psotagens direcionadas para pessoas, outras: não. Misturebas.
E tem a grande questão da escrita. Do escrever para matar demônios. E para criar outros tantos.
Talvez o espaço dos comentários seja mesmo um indicador que há interação. Pois há mesmo abertura para um tipo de diálogo. Se eu escrevesse e cagasse, talvez fechasse o espaço para os comentários.
Mas, não tê-lo fechado também não indica necessidade de que haja essa tal interação. Pois, muitas vezes escrevemos aqui para escrever e pronto. Porque escrever salva. Porque escrever mata demônios. Porque escrever cria outros tantos demônios. Porque a gente não sabe de nada nessa vida. Porque escrever corta, sangra, mata, agride, melhora, adoece, cura. Porque as palavras têm rabo e a gente gruda nesses rabos das palavras e vai parar não sabe aonde. E porque a gente também as usa para não falar e para não fazer nada.
Seja como for, a gente pensa nas palavras e no ato de escrever. Para bem ou para mal. Isso nos interessa. A linguagem nos une e nos parte. Mas, amamos ou odiamo-las. O que não resta dúvida é de que algo sentimos por ela. Ela é a nossa grande questão. Antes de tantas outras tão grandes e tão, tão. Tão importantes para a gente também.
E, para amantes tão singulares da linguagem, nada melhor do que maracujá com açúcar. Para acalmar. Mas, também para esquecer o açúcar e lembrar do azedinho da vida. Do azedume de viver. Ou para esquecer o azedo e lembrar do doce do açúcar. La doce vita. O doce que mata. A diabete. O veneno doce. A gordura que fere.
Paracalmar. Maracujá com açúcar. Escrever para matar demônios. E para criar outros tantos.
Uma mistureba. Uma experimentação. Eterna até o tempo em que durar. Sempre cheia de interrogações, reentrâncias. Verdade e mentiras. Idas e vindas. Renovações e permanências.
Interação nem sempre tão interativa. Citações. Paródias. Teorias. Práticas. Escrevinhança. Pontes. Travessias. Desdobramentos. Infinitudes finitas. Paradoxos. Contradições. Popular. Erudito. Pseudo. Pimba. Da moda. Demodê.
Escrevi isso agora enquanto me perguntava tantas outras coisas. Mas, quis dizer só essas (ou nenhuma). E disse-as. Para quem? Esqueci de escolher. Tanto faz. O destinatário, o destino, o remetente, as noções, as divisões, as classificações, os porquês. Pouco importa. Disse. Escrevi. Quilos para nada dizer.
Essa é a graça. Ou a desgraça. Posso prolongar. Encurtar. Enrolar. Cansar. A mim e aos outros.
Outra coisa vista/ouvida no filme: não gostou? Não lê.
Nervoso (a) com a futilidade e com a inutilidade do texto? Maracujá com açúcar, bem.





terça-feira, 7 de setembro de 2010

Rua da amargura, vale da agonia



As sílabas e as vírgulas

Reluzem como setas sinistras


Revelando teu beco, tua pica.

Com gosto na boca de seu cu,

Entreteço as palavras,

Esse caminho de amargura.

Enrola em meus dedos

A rubra língua maldita,

Demoníaca criatura.

Tua bunda é um vale e eu sou

O PÁSSARO.

Entorna tuas águas em mim, entorna,

Diabo!