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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Vigiar e punir ou "das posições"


Toda a instituição parapenal, que é feita para não ser prisão, culmina na cela em cujos muros está escrito em letras negras: ”Deus o vê”.(Michel Foucault, Vigiar e Punir, pg. 242).

No terceiro capítulo de Vigiar e Punir, intitulado “O cárcere”, Foucault elege Mettray (lugar onde jovens delinqüentes ficavam depois de serem condenados nos tribunais) para fixar o que completaria a formação do sistema carcerário. Ao se perguntar pq Mettray ele responde que é porque “é a forma disciplinar no estado mais intenso, o modelo em que concentram todas as tecnologias coercitivas do comportamento”. E mais adiante ele nos diz como é feita a divisão em grupos e diz que “os chefes e subchefes em Mettray não devem ser exatamente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem suboficiais, nem “pais”, mas, um pouco de tudo isso e num modo de intervenção que é específico. São de certo modo técnicos do comportamento: engenheiros da conduta, ortopedistas da individualidades. Têm que fabricar corpos ao mesmo tempo dóceis e capazes”. E depois ele vai nos falando como se comportavam os homens da direção, os chefes e subchefes, como se vestiam (“tão humildes” quanto os internos), como estavam sempre próximos, vigiando-os (aos internos) dia e noite. Criavam uma rede de observação permanente. Etc.
Ontem, eu voltava para casa, e pensei: “Há os que vigiam e punem se algo sair das normas. Mas, estes (que vigiam e punem) não estão livres de serem vigiados e punidos, caso algo saia das normas”. E lembrei-me também do filme Saló de Pasolini e da rede de observação permanente que ali acontece, naquele casarão. E de como há um momento onde um sai “entregando” o outro para livrar-se das punições cada vez mais severas...
Essa tal rede (de observação permanente) é tecida e posta em prática até hoje: nos sistemas penais, em “casas de recuperação”, nos sistemas parapenais (ave as escolas (muito mais para os professores, até, pois, lembro-me de já ter postado aqui uma matéria que falava sobre a criação de quartos escuros para castigar professores)!) e em toda a parte, por vezes “disfarçados” de distração...

P.S.: devo explicar que essas coisas todas se passaram em minha cabeça porque eu estava sendo fiscal no vestibular ontem, o próprio sistema de fiscalização se dá assim: os fiscais vigiam os candidatos e os supervisores vigiam os que vigiam os candidatos. Além do que muitas vezes o ambiente escolar me lembra essa criação de “corpos dóceis e capazes” e ainda, andar em ônibus lotado de pessoas que nunca vi, voltando para casa, com calor, sono e cansaço e olhando uma placa que nos informa que para nossa segurança estamos sendo filmados, nos faz pensar coisas...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Nota

Já encontrei os livros que queria. Inclusive e especialmente o da Ecléa Bosi. Todos os exemplares estão intactos.
O modem já voltou da "manutenção" e, portanto, já tem Internet na Bicen.
Mais, calma, percorri, com os números das chamadas devidamente anotados, e muita atenção, as prateleiras.
Dará para sobreviver, sim. Havia o susto, o impacto das trocas de lugares, do alvoroço de pessoas a procurar livros, etc. Mas, não foi tanto exagero meu observar as coisas observadas do post anterior.
E, seria legal deixar claro que assim que deparei com as portas fechadas da bicen, procurei conversar com um bibliotecário, uma pessoa super gentil e acessível, que me recebeu muito bem e me explicou algumas coisas sobre o funcionamento, na verdade, sobre as dificuldades de funcionamento da Bicen na UFS,  e sobre o ocorrido, etc. Não vou citar nomes publicamente, mas é só para marcar que procurei informações e fui fazer a minha reclamação "meio oficial". Isso é para me proteger de pensamentos apressados sobre a minha fala de que "só aqui para uma biblioteca fechar durante um mês, reeabrir, sem explicação alguma...".
Mas, já estou fichando o livro.
Já está tudo se encaminhando...
Mas, o silenciamento de todos juntos, continua a me incomodar... Ao menos numa questão como a da Bicen.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

SUPERHERÓTICO


              Enquanto o Incrível Hulk
              cresce na parte de cima
              verde que nem perereca,
              a pobre parte de baixo,
              vermelhinha de vergonha,
              não rasga nem a cueca.
              Já o Homem Invisível
              tem um troço tão encolhido
              que ganhou este apelido.
              E o Homem Aranha? Coitado!
              Dia e noite, noite e dia
              só na luta contra o mal
              deve ter teias no pau...
              Êta turminha sem sal!

              Não é ridículo?
              Ninguém agüenta mais os Super Homens,
              com seus cintos de utilidade
              e estreitas mentalidades...
              Homens com maiúsculos agás,
              "gagás".
              Chega dos valores desta escala:
              muito falo e pouca fala.
              Se afinal é preciso mudar tudo,
              que se tire então, do homem, o H mudo.

              (Leila Míccolis)

domingo, 30 de maio de 2010

Quando o trágico não tem o lirismo de Antônio Carlos Viana (leia-se: uma visita forçada ao hospital João Alves)


Madrugada do dia trinta de maio, o carro apresadamente subia pelos quebra-molas e sacudia o meu corpo e a cabeça rasgada de uma bela moçoila, a madrugada estava fria, assustadora.
Terríveis pensamentos. No balcão burocracia, burocracia, burocracia e o sangue jorrando,jorrando. Local: Hospital, nome do estabelecimento: João Alves.
Lágrimas desesperadas de um homem apaixonado, assustado.
Entregando-se a toda boa sorte e enquanto girava a roda da fortuna eu aguardava impotente, impaciente no suspense, o frio calava.
O corredor se abria a meus olhos, fui convocado e pedaços de pessoas por todos os lados, seios sem vida de uma velha mucha se mostrava num entre abrir de um banheiro, havia dedos espalhados, olhos esbugalhados, ossos expostos ensanguentados, tosses engasgadas, vômitos, desencanto, miséria, fome, tristeza, perda, amontoados de corpos tratados, maltratados,mastigados, abusados, violentados, dores, castigo, culpa, roubo, vísceras, tripas, desespero, desespero, desespero, um homem sem dedo, outro sem alma, uma mulher pálida outra esquálida, objetificados, corpos sem nome, sem dono, jogados, amputados, marcados, capotados, enclausurados no limbo do esquecimento, eram apenas pedaços de vida.
A moçoila foi atendida, costurada, exposta na viela de um corredor onde pessoas gritavam, choravam, clamavam, pediam, sofriam, sangravam e reivindicavam ao leu um espaço de esperança. Enfaixada, com fome, com susto, com medo, com vontade, ainda tinha em sua face a vontade de continuar, eis que vejo uma placa: Capela, mas dentro nenhuma vela, nenhum altar, estava vazia e nem parecia.
Era manhã do dia trinta de maio e voltamos menos para casa.

J