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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Copa sim, despejo não! ou Eu não sou daqui...

"...Porém, porque peço silêncio não creiam que vou morrer. Passa comigo o contrário, sucede que vou viver. Sucede que sou e que sigo. (...) Sucede que tanto vivi, que quero viver outro tanto. Nunca me senti tão sonoro, nunca tive tantos beijos. Agora, como sempre, é cedo. Voa a luz com suas abelhas. Me deixem só com o dia. Peço licença para nascer." ... (Pablo Neruda)

Já estou em Mariana/Ouro Preto desde o final de semana. Ouro Preto é uma cidade mágica. Suas ladeiras, seus morros, as casinhas, o verde, as cores (as muitas flores, todas tão lindas, oh, Deus, das mais vagabundinhas e pequerruchas de beira de caminhos às mais raras), as ruas que me lembram canções de ninar (ouço tanto em meus ouvidos quando por lá caminho aquela sempre canção...se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes para o meu, para o meu amor passar...). Enfim, gosto das bandas de cá. E gosto dessa coisa de interior, de as pessoas serem solícitas como foi uma senhora chamada Vera que encontrei na rodoviária de Ouro Preto: me ajudou com as bagagens, conversou conversa mole comigo, me deu boas-vindas e disse onde morava para, no caso de eu me demorar por aqui, ir visitá-la. E o motorista do ônibus que, sem pressa, me deixou colocar as malas na frente, aguardou eu entrar e pagar e me sentar, para então colocar o carro em marcha...
Mas, vou viver essas cidades em seu dia-a-dia para ver o que rola, para sentir suas instabilidades, suas lutas diárias e aí sim falar mais sobre.
Digo tudo isso porque passei uma semana em BH e quando, ontem, me perguntaram o que achei de BH eu tinha respondido que gosto do clima meio cidade grande e meio interior que BH transpira. E falei a verdade. Lá é isso mesmo para mim.
Mas, quando fui dormir, sob um frio quase insuportável (já aqui em Mariana), vestida em duas calças, duas meias, com luvas, e quatro camisas (dois casacos, uma normal e outra de manga comprida) e ainda assim tremendo de frio. Ok, esquecemos eu e Maria uma janela aberta e isso foi o suficiente para eu imaginar que morreria congelada e a pensar como estariam as pessoas que não têm casa e que mesmo em albergues quase nunca estão suficientemente protegidas - esse pensamento não veio de um  sentimento de caridade cristã, mas de uma constatação política: eu passara, na semana anterior, todos os dias pela Vila Recanto UFMG, localizada na Av. Antonio Carlos. Nessa avenida, nessa vila, famílias e famílias estão sendo despejadas por conta das reformas das cidades que sediarão a Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Mundo em 2014.
Eu cortava caminho justamente pela vila já sendo demolida. Restos de vidas ali entre montes de pedras, muita areia e transeuntes (geralmente universitários). Nas paredes, algumas pichações de reivindicação por justiça (ao menos nas indenizações).
Chamou a minha atenção repetidas vezes ter encontrado no fim da tarde uma moça jovem, sempre sentada numa cadeira quebrada (sem o encosto) com o olhar triste ou perdido, no meio de escombros. Pensei em fotografar todos os dias o ambiente que me parecia cada vez mais desolado, destruído, em ruínas. Porém, quando vi crianças (muitas) correndo, brincando, suas bonecas expostas na terra... Entendi que era invasão demais fotografar aquilo. Já era invasivo demais eu cortar caminho por ali, ver aquilo tudo e nada fazer...Presenciar as mudanças impostas e injustas das paisagens, das histórias, das memórias das pessoas...
As imagens foram fotografadas por minha cabeça que a tudo rememorou na noite de tanto frio de ontem. Pensei na moça sentada esperando sabe-se lá o que, nas crianças com suas bonecas quebradas e sujas de terra. Da terra que restava de suas casas. E me senti filha-da-puta, despolitizada, inerte... E pensando que enquanto estivermos gritando, torcendo pelo Brasil  em qualquer partida de jogo da copa em 2014, aquela menina da boneca de terra também estará talvez junto à moça da cadeira que, por ver o Brasil ganhando ou perdendo, estará, quem sabe, menos desolada que nessa semana que passou.
Esquecidos todos nós do lema Copa sim, despejo não!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Para esquentar os motores

Nunca mais escrevi por essas plagas.  Esse o lugar de encontro de pessoas que vivem tão perto e que tanto se encontram e que desencontram também. Eu vivo me desencontrando de mim. E nesses desencontros, quase me perco e quase perco a vontade imensa que sempre tive de escrever nesse Maracujá. Esse Maracujá que se assemelhou tantas vezes ao pequeno planeta do Pequeno Príncipe para mim. Lugar onde bastava eu afastar a cadeira um tantinho para ver um pô-do-sol. E quando eu estava triste, afastava a cadeirinha (que é escrever aqui no blog) quantas vezes fossem necessárias para que a tristeza se esvaísse um tiquinho.
Nem sempre se esvaía a tristeza, mas risos eram arrancados de mim. Outras vezes a discussão azedava, enrugávamos a testa todos nós e escrevíamos. Criávamos e matávamos demônios. Azedávamos e açucarávamos esse Maracujá conforme nossas tristezas, alegrias e convicções.
O Maracujá era filosófico, literário, psicodélico, musical, gastronômico, polêmico, de declarações de amor, cinéfilo. Maracuja danado, polissêmico, inententível, composto por pessoas malucas, que se amam, que são tão iguais e tão diferentes. O Maracujá poderia se chamar também mixórdia, miscelândia, samba do criouolo doido ou simplesmente o blog de Nina, Jadson, Tiago e Wesley.

Mas, por um tempo, mesmo ainda acreditanto nisso tudo: embarguei. Vinha aqui e até tentava. Mas, não saía nada. Ou não saía como eu gostava: de coração, com vísceras, cortante, pulsante. Eu e minha cadeirinha de ver pôr-do-sol quando estou triste.

Aqui eu não ligava para as recomendações quanto às redes sociais: cuidado com o que você escreve, as pessoas estão te observando, elas fazem juízo de você. As pessoas fazem juízo umas das outras por tudo (inclusive eu): pelo que alguém ouve, pelo que alguém lê, pelo que fulano assiste, pelo que ciclano veste... Esse aqui é só mais um meio para que alguém que goste de enquadrar as pessoas por tipos, colocar tarjas de "descolado", "feliz", "triste", "inteligente", "contido", "introspectivo", "louco", etc.fazê-lo e ainda achar que o modo de escrever, as coisas escritas realmente cristalizam as pessoas. Como se não houvesse a possibilidade de mudanças, de encher o saco de tudo e mudar, de reler o que se escreveu e entender que nem sempre se é tão convicto assim das coisas, ou, ao contrário, compreender que não se muda mesmo: o que escrevi hoje é o que pensava há anos e será o que vou pensar daqui a muito tempo.
A gente muda e permanece. A gente é e não é. E a gente é tão complexo que não cabe muito em uma classificação qualquer, barata e apressada.
Eu me transformo a todo o momento. E com isso assusto as pessoas que me rodeiam e a mim mesma. E nem sempre isso é bom e nem sempre isso é ruim. Muitas vezes é mesmo é necessário.
A gente descobre, a gente inventa, a gente re-inventa. A gente muda de cidade, de religião, de corte de cabelo, de amor, de curso. Assim como a gente não deixa de amar a mesma pessoa, de lembrar as mesmas lembranças, de gostar do cabelo sempre curto ou sempre longo.
Por isso adoro quando Clarice diz "gênero não me pega mais".
Gênero nenhum me pega mais. Fato. E acho que não pega a nenhum de nós daqui do Maracujá.
E essa mesma mulher que fala sobre gênero não mais pegá-la, fala também, noutro texto, sobre termos bastante cuidado com o que mudamos em nós, especialmente sobre defeitos (é de se pasmar com isso!), ela nos diz que há defeitos que seguram toda uma coluna...
E complicação, paradoxos, comunicação tronxa nunca deixou de ser o nosso forte aqui, portanto...me sinto agora bem-vinda a recomeçar a escrever aqui. De coração, tronxamente, paradoxalmente, com defeitos seguradores de colunas em mim e com mudanças que nem eu mesma posso imaginar. Yudo junto num só Maracujá.

E o que me moveu a voltar a escrever aqui foi o fato de Jadson estar indo embora (mudando, portanto) para Brasília para fazer o mestrado dele.
O Maracujá continuará sendo nosso ponto de encontro nos encontros e desencontros de nossas vidas. Nas mudanças e nas mesmices. Até que cessemos de azedumes e doçuras e cambiemos para outras formas de nos (des)comunicarmos.

Assim: que venham doces e azedos, que venham demônios e anjos. Que voltemos a nos comunicar assim: trágica e comincamente como tem sido desde que estamos juntos nesse Maracujá.

E, por falar em mudanças e mesmices, recordo aqui o dia em que caminhava eu pelo centro da cidade e uma moça me chamou com dúvida:
- Nina?
Eu respondi com certeza de nunca tê-la visto:
-Sim, sou eu.
E ela disse em forma de pergunta de novo:
-Você é a filha de Dona Deise?
-Sim, sou.
-Eu fui sua babá! Você tinha uns dois ou três anos. Você continua com a mesma carinha: só cresceu!
E conversamos um bom trecho amigavelmente, ela recordando coisas que minha mãe me falava e eu não lembrava... Mas, bastou a senha "você é filha de Dona Deise" para que eu me achasse íntima daquela que cuidou de minha numa infância longíqua e esquecida.
Nos abraçamos e eu me emocionei ao deixá-la na rua Laranjeiras com uma parte de minha vida.

Dia desses, estou eu estudando na Bicen quando me chega um rapaz e me diz:
- Sabia que estudamos juntos?
Eu respondi:
- Não.
E ele disse:
- Fizemos datilografia informatizada no Senac em Propriá. Eu tinha uns dez anos, você deveria term uns quinze. Eu era aquele guri que dava choque em todo mundo...
Eu não recordava dele, nem de seus choques nem das coisas outras que ele me falou. Recordava que fiz esse curso e de apenas uma pessoa que ele falou que também frequentava as aulas.
Rimos de alguém em alguma época ter feito um curso desses e ri dele com dez anos de idade fazer o tal curso.

A memória me prega peças. Nem sempre está tão viva em mim. Mas, o que me assusta é que se me olho no espelho, me acho tão diferente...e as pessoas teimam em me reconhecer, em me falar que continuo a mesma...E um grande amigo meu, paradoxalmente, me olha e me diz sempre: "Nina, você está tão diferente!". Peço que ele me explique como, por que, em que...e ele só faz cara de agoniado e me deixa com minhas mudanças e minhas mesmices a não entender muito...
E um outro querido amigo me disse: "Destes seis anos que te conheço, acho que essa é a terceira Nina que vejo".

Eu mudo. Ainda que permaneça a mesma.
E assim o é com todo mundo, por incrível que pareça a cada um.
Dessa forma: para que taxar, classificar?

Um pequeno Adeus....


Nasci em um povoado chamado Tapera localizado na cidade de Itaporanga d`Ajuda. Meu parto, relata minha mãe, foi rápido e quase indolor, nasci com 8 meses. Pouco tempo depois estava viajando para o Estado da Bahia, contam minhas tias que passei uns tempos lá numa cidade chamada Alagoinhas, não sei precisar quanto tempo. Mas, quando voltei para Sergipe voltei sem minha mãe que foi "tentar a vida" por lá.

Aos nove anos minha mãe volta à Aracaju e decide por me tutelar novamente, mudança mais uma vez. bairro Cidade Nova e logo depois Conjunto Residencial Marcos Freire I no qual morei dos nove aos 25 anos, por lá vivi toda a minha pré e adolescência, mudando uma vez apenas de rua.

De mudança novamente até Aracaju passo esses últimos 5 anos em minha casinha, lugar que redeu muitas e muitas alegrias para mim e para muitos de meus queridos amigos as pequenas reuniões e festinhas, as sessões marcantes de filmes fantásticos, os almoços macarronescos, os aniversários e tantas outras coisitas . Viajo nesta segunda-feira(21/03/2011) acho que passo apenas um tempo fora cuidando de um desejo intelectual.

No mais um grande Beijo em todos vocês.

AMO MUITO TODOS E VOS ESPERO EM GOIÂNIA/BRASÍLIA.

JADÃO

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Notícias de uma paz particular?

Estou numa lan hause...em Propriá...bem perto do Velho Chico. Já o olhei de soslaio, enquanto vinha aqui para falar urgente com Rogério. Vim resolver problemas. Mas, claro que olhei bem a gurizada saindo da Fundação Bradesco e me vi entre eles. Pequeninha, loirinha, presepeira, tímida...criança ainda.

Depois qu resolver tudo: vou dar uma olhada gingantesca no rio de minha infância. Vou passar também em frente à casa da minha meninice e vou dar um abraço na minha melhor amiga de infância: acabamos de marcar isso.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Doce azedume

Quando estou

A lamber-lhe o cu,

Imagino a infância

Ali :

Frutas chão quintais...

... línguas atrevidas...

Eu feliz.

sábado, 25 de setembro de 2010

Infância e a memória perdida


A memória é uma coisa realmente fascinante, outro dia caminhando pelas ruas do bairro em que moro, lembrei de quando criança brincava nas ruas de muitas coisas e era muito divertido, a minha geração curtia pimbarra, queimado, manja, esconde-esconde, cipozinho quente, garrafão, elástico, pedra-papel-tesoura, eram tantas....
Fiquei me perguntando o que faz que essas coisas percam o sentido quando crescemos, ao menos, o que acontece para que paremos de brincar? De fato passamos a nos divertir de outros modos, esse universo infantil se distância com a chegada das responsabilidades, do modo como vivemos ou como nos submetemos ao modo de produção capitalista.
Ambicionamos tantas coisas, ou mesmo, introjetamos um discurso que diz que precisamos ser algo na vida, ou seja, manter a lógica social em ordem. É uma discussão talvez aporética, o que nos desejamos e aquilo que pensamos que estamos desejando. Mas será que em todo caso somos vítimas da vontade?
Esses dias vi um filme interessante chamado “Moon” no Brasil “Lunar, uma mistura de várias ficções científicas, mas bem legal, que o foco era a memória, a memória implantada em clones de um homem que deveria ter sido astronauta, que teria uma mulher e filha, tais clones serviam em uma base de produção de energia na lua e eram despertados no momento em que convinha a empresa por um computador tipo o HAL de “2001- uma odisseia no espaço”, muitas questões podem e devem ser levantadas a partir das implicações éticas deste tipo de prática, que não duvidem que já aconteça por ai a fora....
Estou numa fase estranha ultimamente, muitas interrogações estão vindo a tona, será que vale a pena viver sendo um clone com memórias implantadas? E Como viver daí em diante sabendo que não existe memória verdadeira?
Olhar o passado é um movimento que as vezes pode ser cruel, se é que temos memórias verdadeiras ou se são as romantizadas as que dão sentido a vida...... e o esquecimento como podemos falar dos hiatos que se formam na nossa mente com o passar do tempo, na verdade o que podemos é criar coisas para preencher os vazios....

Jadson Teles

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

As sereias

Eu gosto muito das sereias.
Em pequena, queria porque queria ver uma. Ia para a beira do rio. Chamava. Esperava. E, certo dia: senti um medo tremendo.
Saí da margem do rio que era o rio de minha infância sem voltar o olho para trás.
Imaginei a figura de Iemanjá gigante, saindo do mar. E fiquei apavorada. E calada, entrei em casa e fui dormir.
Dia desses, chegamos eu e um grupo de amigos à conclusão de que criança quando acha que fez merda, vai dormir.
Eu sempre ia dormir nessas situações, causando, assim, suspeitas seriíssimas...

Ainda hoje gosto das sereias.
Fato.
Elas são animais, que refletem a beleza feminina e, por isso, são belíssimas e têm um canto tão insólito que encanta, apaixona os homens.

Senti medo naquele dia em que fui dormir mais cedo do canto da sereia.

O mar.
O mar é o meu grande mistério e salvador.
As águas, para ser mais clara e verdadeira.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Meu paraíso

Sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca. (Jorge Luis Borges)
Por esses dias habitei numa biblioteca. Fugi de minha cidade natal segunda-feira à noite, depois de duas cervejas com uma amiga e depois (que veio antes bem antes) de perceber que eu estava pirando na cidade.
Precisava viver um clima de cidade de interior. Sair de casa e chegar aos lugares caminhando, sem precisar esperar e pegar ônibus. E precisava estudar. Lá eu não estava conseguindo me concentrar. Tudo era motivação para me desviar dos fichamentos dos livros e da escrevinhança do artigo para, enfim, encerrar o período letivo.
A Bicamp (Biblioteca do Campus de Itabaiana) tem um acervo legal. Nada mal. Especialmente o ainda não catalogado e, portanto, disponível apenas para consulta in loco.
Fui criada entre livros. Minha mãe trabalhava na sala de leitura da escola onde eu estudava. Ela estava afastada da sala de aula por conta de um calo na garganta. Por isso aquela voz dela rouca, grave, sensual.
E eu aprendi o fascínio de conviver com os livros, com suas histórias e personagens. E sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca. Pois a sala de leitura era par mim, muitas vezes, fuga da sala de aula onde as coisas se davam de maneira monótona, disciplinar demais e amorosa de menos.
Na sala de Rodolfo (amigo que trabalha na Bicamp), mais livros: em processo de catalogação e outros para serem restaurados.
A idéia de restauração me fascinou como se eu tivesse de novo do alto de meus cinco anos de idade.
De repente eu era aquela guria loirinha e perguntadeira de antes.
Bombardeei Rodolfo de perguntas e ficava imaginando o processo de restauração dos livros como quase igual ao milagre da multiplicação dos peixes ou dos pães.
O fantástico se apossou de mim.
Imaginei as mãos que restauram livros. todas as mãos do mundo. O cheiro de papel e de cola. A paciência, a dedicação para a restauração. O milagre da renovação. O livro amarelado, poeirento, com páginas frágeis quase virando material para reciclar, sendo transformado, ajeitado, cuidado. Para, assim, continuar compondo as prateleiras das bibliotecas, para continuar sendo companhia da gente.
Imaginei a prática da restauração como uma prática amorosa que se faz devagar, com presteza e atenção.
Uma prática corpórea, sensual.
Os homens e mulheres restauradoras com seus livros nas mãos, sobre as mesas, ressiginificando-os. Soprando-lhes vida nova.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Mnemosine

Estou a estudar a Memória. Na verdade, estou tentado, a duras penas, compreender o livro Matéria e Memória, de Henri Bergson.
Livro que considero bonito. Leio passagens que dizem poeticamente do tempo, da duração, das imagens, da intuição.
Sua filosofia surgiu do fato de ele ter-se posicionado contrariamente ao acento cientificista do positivismo que se desenvolveu nos séculos XIX e XX.
A noções de que passado, presente e futuro formam um uníssono, de que um necessita do outro para ser duração e, assim, duração não ser um momento estático, mas sim ser movimento, mudança, contingência. Mudar, aqui, querendo dizer devir, significando que nunca nada é idêntico a si mesmo e que tudo se transforma constantemente em algo distante de si.
Não sei se estou compreendendo de maneira correta... São as primeiras leituras, é a fase do tatear um texto, de desvendar conceitos...
Mas, também é só a primeira fase de um longo trabalho. Outros textos para fazer exegese. Outros autores para eu adentrar no mesmo processo de desvendamento, de luta, corpo-a-corpo...
Bergson, Paul Ricoeur, Maurice Halbwachs, Pierre Nora, Ecléa Bosi e tantos outros, agora, em minha cabeceira, em minhas anotações, em minha vida, organizando conceitos, solidificando-os, fragmentando-os... Como se não me bastassem os pensamentos, as lembranças sempre presententes desde sempre, a minha ligação com o rio de frente à minha janela da infância, rio dos banhos proibidos, mas nunca das memórias esquecidas.
Rio com nome de santo. São Francisco. O velho Chico de minha vida. Banhar-me naquele rio era subversão para uma mãe que perdera o irmão para as águas bravias de um outro rio. Mas, rio é rio. E as águas enganam. Carregam.
E era justamente isso. O carregamento o que me encantava. O devir. O fluir das águas. Quantas vezes o vi, ao velho chico, carregar pedaços de árvores, em suas enchentes, as águas barrentas significavam isso. Para mim, criança ouvindo tudo que falavam os adultos, para mim era o rio prenho. Ouvira que estar prenha era carregar memino dentro da barriga.
O rio que era a natureza, carregava coisas da natureza dentro dele. A barriga era a correnteza. Exposicão.
Quando vim-me embora, o rio ficou. Ficou dentro de mim. Pregado em meus olhos. Olhos que nunca mais amanheceram e o olharam. A ele e à árvore querida defronte da janela dos acordares.
São tantas as lembranças, as imagens... São tantos os rios dentro de mim.
E agora a memória virou o meu tema.
Conceituada memória.
Que eu nunca a torne acadêmica no sentido ruim.

Trabalhando memória insistentemente como venho fazendo, pus-me, muito mais fortemente a lembrar-me das pessoas que por minha vida passaram.
Lembrei-me de três queridas amigas de infância. Busquei-as em meio eletrônico. Encontrei-as. Enviei-lhes mensagens.
Recebi notícia de uma delas, a mais íntima, por sinal, instantaneamente. E-mail, MSN, orkut, Sonico, Facebook.
Tem uma loja de vidros. Hoje.
Achei bonito isso de trabalhar com vidros. Vidro é transparência. Reflexo. Iluminura.
Adicionei-a.
Vou esperar contato.
Talvez esteja esperando contato comigo mesma. Pois, que ando perdida por esses tantos rios.
E, hoje, nós não somos as mesmas, não é mesmo?
mas, como me lembro do quintal da casa dela. Do caminho que eu fazia de minha casa para a casa dela. Sempre para dividir um segredo.
Lembro-me de tanta coisa!
Como eu era uma criança e uma pré-adolescente estranha já.

lembro-me, agora, nesse instante-já, de um outro amigo. Mais recente. Por quem nutro carinho especial també. Ele é do Maranhão. Enquanto esteve aqui, quando fomos para o mangue, em passeio integrador com a mãe-natureza ( a diamba por lá era muito mais diamba, os cheiros no mangue muito mais adocicados por conta da diamba) e depois tomamos banho de rio e de mar, na ordem inversa, lembro-me de que ele me falou que tomar banho de rio e de mar era necessário para que tirássemos a "coíra". Coíra era a "carraspana " falada por minha mãe de influências pernambucanas.

Queria, agora, ter nove anos de idade. Qual era mesmo a idade que eu tinha quando presenciei a maior enchente (da minha vida) do rio São Francisco?
Eu era miúda. Mas, não tanto. Pegávamos piabinha de mão. Molhando a farda da escola. As amigas desse tempo não eram essas de agora. Eram Carlinha, Melissa...não lembro o nome das outras. Lembro-me de nossas risadas, de nossa aventura na enchente e dos senmões que cada uma de nós levou de nossas mães.
A minha, viva à época, tinha sempre seus grandes olhos verdes em cima de mim. Por horas eram amorosos, mas outras, eram furiosos. Igual a esse dia e a um outro (a história do vestido azul) que conto numa outra oportunidade.

Queria lavar-me nesse rio. O da minha memória. Para tirar coíra, para me livrar das carraspanas.
Já é hora. Eu sei.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O palhaço e a bailarina



Pela manhã, li o livro infantil escrito por Antonio Carlos Viana e Sônia Maria Machado, intitulado "O palhaço e a bailarina".
O palhaço e a bailarina é a história de Alegria, uma cidade triste que se renova com a chegada de dois artistas (o palhaço e a bailarina).
Mas, para lá de ser apenas isso, o livro mostra o surgimento de uma disputa. A cidade, uma vez alegre após o contato com as artes, passa logo a criar dois partidos: o da bailarina e o do palhaço, sem mesmo que esses saibam da tal cisão.
Os dois acabam por ficar tristes e buscam logo uma solução. A solução pensada não deixa de carregar beleza e faz com que surja uma nova expressão artística em Alegria: o teatro.
Assim, pode-se falar que a história é uma história de disputas e que mostra que cada um tem o seu espaço.
É uma fábula que fala sobre a arte e que não há uma arte melhor que a outra.
É um livro para crianças. Surgido, segundo os autores, das histórias que a professora Sônia contava para o seu filho numa rede para que este dormisse e viajasse na imaginação. Mas, que faz om que adultos pensem muito em suas ações.
As ilustrações são belas.
Apesar de numa primeira leitura, apressada, imaginarmos apenas a oposição entre o Bem e o Mal, o livro carrega um elogio às Artes necessário para que pensemos sobre as nossas relações com os outros.
O livro é belo. E é bom imaginar uma cidade chamada Alegria que é triste quando seus moradores não a preenchem com bons sentimentos, com bons momentos. É bom porque me fez pensar que toda e qualquer sociedade começa em minha testa (na testa de qualquer um de nós).
Lembrei-me das cidades imaginadas pelos bichos do Saltimbancos.
Todas elas seriam governadas por crianças.


terça-feira, 15 de junho de 2010

Da mágoa.


Constatei, com tristeza, que sou uma pessoa que carrega mágoas. E as carrego de uma maneira singular. Por isso, sempre me emociona ouvir essa passagem inteira do dvd da Elis Regina - dirigido, pasmem, por Daniel Filho para um especial da Rede Globo intitulado "Série Grandes Nomes" exibido em 1980. As músicas do trecho são Cadeira Vazia (Lupicínio Rodrigues), Atrás da Porta (Chico Buarque) e Essas Mulheres (Joyce).
Gravei na memória essa imagem de uma mulher bonita, um palco apenas com uma cadeira e os olhos da moça manchados com lágrimas negras.
Eu havia visto tal imagem de relance, numa das correrias de criança pela casa. E paralisei à época.
Há uns dois ou três anos, de tanto falar nessa imagem, agora nomeando a moça bonita com lágrimas negras de Elis Regina, ganhei o dvd. E sempre parava no trecho. E sempre sentia a mesma coisa de quando eu era criança.
Ontem, constatei o motivo. A letra de Lupicinio Rodrigues diz muito de como eu sinto mágoa.
Não odeio. Não detesto. Esqueço o gosto amargo da raiva com muita pressa. Porém, não consigo mais dar "carinho nem afeto" apesar de ser capaz de oferecer o meu teto.
Nomeio a isso de mágoa.
E eu sou dessas. Talvez fosse mais feliz de outro jeito. Mas, uma vez que alguém sai de meu coração: sai para valer. Não cismo com facilidade, mas quando cismo é para sempre.
Por isso o gosto por músicas "dor de cotovelo", por Almodóvar, pelo drama. Por isso os exageros, a entrega.
Sou brega. Desde pequena.
E a música, essa em especial, me fez conhecer um pouco mais de mim.
Não duvido que essa tenha sido uma das apresentações mais emocionantes da carreira de Elis Regina.
Termino o post lembrando-me de uma outra letra: "A fonte secou" de Raul Moreno:

Eu não sou água pra me tratares assim
Só na hora da sede é que procuras por mim
A fonte secou
Quero dizer que, entre nós, tudo acabou
(Bis)

Seu egoísmo me libertou
Não deves mais me procurar
A fonte do meu amor secou
Mas os teus olhos nunca mais hão de secar (Bis)

Pois é. Apesar de brega e de magoada, sou alguém que se diverte. E, como já constatou junto comigo um grande amigo querido: "Adoro música de vingança". 

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Mafalda de meu coração!



























Eu adoro a Mafalda! Acho o máximo ela ter uma tartaruguinha chamada Burocracia. E todos os que povoam as tiras da história são tão palpáveis! Quem nunca esteve perto de uma Susanita ou de um Miguelito? Difícil mesmo é encontrar uma pessoinha como a pequenina Liberdade...

Algumas tirinhas soltas, sem conexão. Só para eu me sentir pequenininha de novo.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Paula Rego


Futucar. Cafucar. Palear. Eram verbos usados por minha mãe para nomear as minhas mais corriqueiras ações do dia-a-dia de criança. "Essa menina vive futucando as coisas. Catuca de um lado para o outro. Não deixa de paleio". Não deixava mesmo e ela adorava isso, eu bem sabia. Assim foi que quando eu aprendi a ler, num caderno por ela inspirado e por ela executado, chamado "Caderno com a mamãe", eu não parava de mostrar minhas habilidades com as letras numa "sibiteza" (como dizia a querida Maria, moça de vida dúbia que nos ajudava lá em casa, leia-se, que ajudava a minha mãe a me pegar num rabo de vento e levar para debaixo do chuveiro, para depois pentear meus cabelos: é, pessoas, precisava de duas ou mais pessoas para conseguir tal façanha!)de dar gosto. Lia, soletrava todas as placas nas ruas, todas as propagandas grafadas/pintadas em muros pela cidade...Era a exposição em figura-mirim!
Cresci e fiquei uma adolescente tímida. Continuo uma "tímida meio-sem-vergonha" na juventude que já se esvai (ai que esse mês é mês de crise, mês de completar anos...ai, ai, ai). Mas, tímida ou não-tímida eu continuo a cafucar. Futuco as coisas como aquela pequena pesquisadora-curiosa-rinitente de antes. E continuo tendo dúvidas tão pueris que me assusto comigo mesma. E, muitas vezes fico feliz. Apesar de outras tantas, achar que é mesmo "tonhice", retardamento sério isso em mim!
Que fazer contra mim mesma?
Decido aceitar como se tem que aceitar a geléia do conto Hereditariedade de Amílar Bettega Barbosa. E vou vivendo, dizendo para mim: "É a geléia", ou seja, "É a vida".
Futucando em meus silenciosos paleios, agora saudosos das broncas felizes de minha mãe, encontei essa tela de Paula Rego. Nascida em Lisboa em 1935, a moça tem obra falada, mal-falada e bem paga (dia desses um quadro dela que não o aqui postado foi vendido por mais de meio milhão de euros). É pintora contemporânea. E declarou que a mulher é uma história por contar e que a história das mulheres nunca foi contada em pintura.
Já falei outras vezes aqui mesmo que não entendo nada de pinturas, de artes plásticas. E que a relação que mantenho com essa Arte é bastante sensualista: os quadros me pescam pelo olhar.
Fui pescada por essa tela aqui postada e de nome Casa da Celestina.
Busquei outras coisas dela e gostei. Mas nenhuma como a Casa. Para mim, deveras forte.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Obsoleta




Ok. Sou obsoleta quando o assunto é a última notícia, o último vídeo que bombou na Internet. Eu não tenho Internet em casa e os meus acessos são restritos e, geralmente, apressados. Portanto, filtro mesmo tudo o que me interessa e eis que navego como quem está em um barquinho em alto-mar. Não vou longe. Não me demoro.
Portanto, a notícia é atrasadíssima, mas me causou estranhamento. E estranhamento é bom para desautomatizarmo-nos e pensarmos nas coisas da vida, né?
Deparo-me com uma foto de uma criança da Indonésia que aos dois anos de idade fumava 40 cigarros por dia!
As notícias que via e lia eram de maio. Mês passado. Obsoletas, portanto, para a "bitola" internética!
Busquei mais sobre crianças fumantes e vi a notícia de Capena, vilarejo italiano, onde na festa de Santo Antônio as crianças são liberadas para fumar. Fumar para Santo Antônio.

Fica o vídeo para os que, como eu, são atrasados e não viram isso bombando Internet a fora mês passado.
Eu, vou ficar aqui pensando. Afinal, é a cultura dos outros. E quanto a isso, devemos sempre pisar em ovos antes de falar qualquer coisa.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

(DIS)FUNÇÃO EDUCACIONAL QUE ENTRA PELOS OUVIDOS E SAI PELA IDEOLOGIA...

Apesar de embelezar algumas músicas tristes do australiano Nick Cave com seu choro performático indidental, a estrela ‘pop’ igualmente australiana Kylie Minogue é conhecida mesmo por sua euforia dançante. Apesar de sempre ouvir falar sobre ela, nunca tinha me dedicado a ouvi-la cantarolando seus refrõezinhos grudentos. Este “nunca” acabou na manhã de hoje, quando “Fever” (2002) foi executado em meu aparelho de som. Com exceção de duas ou três faixas, achei o CD muito chato, mas a voz fofa da cantora e o bate-escala gracioso dos acordes sustentaculares à sua voz me fizeram rodopiar pela sala. E foi aí que eu comecei a pensar que, mais importante do que comparar se a Kylie Minogue é pior despejando seus gritinhos enfeitados ou gemendo mortalmente nas maravilhosas litanias românticas de Nick Cave and the Bad Seeds, é constatar que meu arcabouço musical é predominantemente anglofílico. E isto é um problema crasso!

Ao contrário de Jadson ou de Ninalcira, que consomem preciosidades do cancioneiro tupiniquim desde que eram pequenos mancebos apaixonados, eu fui inoculado na mesma idade com o que chamam de “música alternativa internacional”, de maneira que fui preparada para enfrentar o mundo globalizado da cultura de massa, mas permaneço ainda frágil e deslumbrado diante da arte singular deste País em que habito. Neste fim de semana, por exemplo, assisti a três preciosos documentários sobre diferentes gêneros musicais brasileiros e, na manhã de hoje, conheci um artista fabuloso (em mais de um sentido) chamado Edy Star, extremamente homossexual e amigo íntimo dos falecidos (e eternos) Raul Seixas e Sérgio Sampaio. Genial!

Mas, enquanto toda esta explosão sadia de brasilidade me tomava, mais e mais canções anglofílicas eram ouvidas, desejadas ou elogiadas por mim... Kylie Minogue à beira da morte incluída (vide foto). Sou um filho deste pós-modernismo atroz, teve razão Jadson ao dizer. Que eu sobreviva ao som da versão do Edy Star para “Esses Moços”, do Lupicínio Rodrigues:

“Esses moços pobres moços
Ah! Se soubessem o que eu sei
Não amavam..
Não passavam aquilo que eu já passei
Por meus olhos, por meus sonhos
Por meu sangue tudo enfim
É que eu peço a esses moços
Que acreditem em mim, se eles julgam
Que a um lindo futuro só o amor nesta vida conduz
Saibam que deixam o céu por ser escuro
E vão ao inferno à procura de luz
Eu também tive nos meus belos dias
Essa mania que muito me custou
E só as mágoas eu trago hoje em dia
E essas rugas o amor me deixou!”


Se eu tivesse que fazer tudo de novo, faria tudo igual!


Wesley PC>

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Hoje estou com o memoriador aberto!



Quando mainha cantava essa para mim, eu achava que eu era Samba Lelê e que eu estava sendo ameaçada de levar lambada!
Se bem que acho que mainha cantava uma versão do tipo: "Samba Lelê tá doente, tá com a cabeça quebrada, Samba Lelê precisava era de umas boas palmadas!"