sexta-feira, 4 de junho de 2010

Paula Rego


Futucar. Cafucar. Palear. Eram verbos usados por minha mãe para nomear as minhas mais corriqueiras ações do dia-a-dia de criança. "Essa menina vive futucando as coisas. Catuca de um lado para o outro. Não deixa de paleio". Não deixava mesmo e ela adorava isso, eu bem sabia. Assim foi que quando eu aprendi a ler, num caderno por ela inspirado e por ela executado, chamado "Caderno com a mamãe", eu não parava de mostrar minhas habilidades com as letras numa "sibiteza" (como dizia a querida Maria, moça de vida dúbia que nos ajudava lá em casa, leia-se, que ajudava a minha mãe a me pegar num rabo de vento e levar para debaixo do chuveiro, para depois pentear meus cabelos: é, pessoas, precisava de duas ou mais pessoas para conseguir tal façanha!)de dar gosto. Lia, soletrava todas as placas nas ruas, todas as propagandas grafadas/pintadas em muros pela cidade...Era a exposição em figura-mirim!
Cresci e fiquei uma adolescente tímida. Continuo uma "tímida meio-sem-vergonha" na juventude que já se esvai (ai que esse mês é mês de crise, mês de completar anos...ai, ai, ai). Mas, tímida ou não-tímida eu continuo a cafucar. Futuco as coisas como aquela pequena pesquisadora-curiosa-rinitente de antes. E continuo tendo dúvidas tão pueris que me assusto comigo mesma. E, muitas vezes fico feliz. Apesar de outras tantas, achar que é mesmo "tonhice", retardamento sério isso em mim!
Que fazer contra mim mesma?
Decido aceitar como se tem que aceitar a geléia do conto Hereditariedade de Amílar Bettega Barbosa. E vou vivendo, dizendo para mim: "É a geléia", ou seja, "É a vida".
Futucando em meus silenciosos paleios, agora saudosos das broncas felizes de minha mãe, encontei essa tela de Paula Rego. Nascida em Lisboa em 1935, a moça tem obra falada, mal-falada e bem paga (dia desses um quadro dela que não o aqui postado foi vendido por mais de meio milhão de euros). É pintora contemporânea. E declarou que a mulher é uma história por contar e que a história das mulheres nunca foi contada em pintura.
Já falei outras vezes aqui mesmo que não entendo nada de pinturas, de artes plásticas. E que a relação que mantenho com essa Arte é bastante sensualista: os quadros me pescam pelo olhar.
Fui pescada por essa tela aqui postada e de nome Casa da Celestina.
Busquei outras coisas dela e gostei. Mas nenhuma como a Casa. Para mim, deveras forte.

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