domingo, 29 de agosto de 2010

Identidade, autoridade e liberdade - o potentado e o viajante


Identidade, autoridade e liberdade - o potentado e o viajante é o nome de um dos textos do Edward Said que está no livro Reflexões sobre o exílio e outros ensaios.
Said refletia sobre o que falar numa determinada palestra quando encontrou-se com um colega ao qual pediu sugestões. O colega, então, perguntou-lhe o nome da palestra e ele respondeu que era Identidade, autoridade e liberdade. E o amigo disse-lhe: "Interessante. Você quer dizer que identidade é o corpo docente, autoridade são os administradores e liberdade…"Liberdade", disse ele, "é a aposentadoria".
Comentário não só chistoso, mas cínico, mas que apesar da irreverência, reflete sobre a questão da liberdade acadêmica.
Todo o texto vai versar, partindo de um ponto de vista bastante afetado pela situação da Palestina, com a qual Said se identifica por origem e por escolha e, dessa maneira, defende, sobre a Universidade, sobre a liberdade acadêmica.
Gostei muito de muitas passagens do texto. Posso dizer, de maneira menos hermética, que gostei do texto.
Especialmente me fez lembrar sobre os papéis que desempenhamos como estudantes mesmo, e me fez lembrar até do último post que li de Wesley sobre o Dumbo, sobre sua participação e insistência e esperança de servir para alguma coisa essa sua perseverança em exibir filmes na Universidade, mesmo ouvindo vez por outra, ou mesmo quase sempre, coisas absurdas que vão de filmes, gosto à concepções do que vem a ser infantil, leia-se, de como se concebe o que é uma criança.
A uma altura do texto, Said escreve que "Dizer que alguém estuda ou leciona é dizer que tem a ver com a mente, com valores intelectuais e morais, com um determinado processo de investigação, discussão e troca, atividades habitualmente não muito praticadas fora da academia".
Eu acho que esse trecho, mesmo assim deslocado, desapertado do inteiro do texto do Said, responde um pouco do que acho que deveria ser a academia.
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Lendo-o pela terceira vez (e não vou ficar colocando passagens do texto aqui para não ficar algo muito acadêmico ou mesmo enfadonho), fiz muitas viagens pensando em outros textos. Lembrei-me de Clifford Gertz em Interpretações da Cultura, no texto Rinha de galos em Bali. Eu o havia lido e, recentemente, alguém o comentou ligeiramente e me fez rememorá-lo. Gertz diz em seu texto da dificuldade de colher depoimentos das pessoas envolvidas na rinha e que só os conseguiu quando a polícia chegou na área, todos correram e ele, por medo ou por intuição, correu junto. Daí, na próxima investida, o estudioso ouviu: "Vamos falar, pois você é um dos nossos".
Essa passagem do Gertz rememorada um santinho antes de meu contato com esse texto do Said me fez pensar em como o ambiente acadêmico é representado no imaginário de pessoas que não o freqüentam e até mesmo de nós que o freqüentamos.

Mais adiante, vejo escrito no texto de Said, esse fragmento: "Nenhum de nós pode negar o sentimento de privilégio levado para dentro do santuário acadêmico". Antes de falar sobre a questão do privilégio, me fez dar outra viajada a expressão santuário acadêmico. Viajei para o texto de Virginia Woolf: Um teto todo seu.
Lembrei-me da descrição irônica, irresistível do começo de seu texto. Virginia conta-nos de sua primeira inspiração (na verdade de como a sua primeira idéia fora cortada) para escrever a palestra que irá proferir sobre "A mulher e a ficção". Ela está tentando explicar como deveria construir um argumento para desenvolver a idéia de que a mulher, para escrever ficção, precisa ter dinheiro e um teto todo dela.
Virginia é acometida pelo "puxão"da idéia nascendo, à beira do rio (por esse motivo ela vai usar a metáfora do peixe pequeno para a idéia nascendo ainda). Assim que sente a inspiração para o desenrolar das idéias nascer, ela se levanta e se põe a caminhar. Logo, vê-se na grama, andando para um lado e para o outro. E, sente o primeiro embargo: Um bedel a interrompe. Ali só pode estar Estudantes. O lugar dela é no cascalho.
Ok. Ela acha que andar na grama é mais confortável que andar no cascalho, mas continua a andar, no cascalho e põe-se a pensar mais e mais porque perdera o fio da meada, ou como a mesma diz, perdera o seu peixinho (pois Virginia usa a metáfora do peixe pequeno para a primeira idéia nascente).
Lembra-se de referências bibliográfica e, lembra-se, de que pode consultá-las na biblioteca da Universidade de Oxbridge. Santuário que guarda tesouros como os que agora aparecem em seu pensamento.
Sobre as escadas, envolta em pensamentos mil que vai nos citando… Até que, pela segunda vez, é barrada. Agora, ouve que as damas só eram admitidas na biblioteca da faculdade acompanhadas por um Fellow (estudantes que tinham privilégios, que já haviam terminado os cursos, mas tinham ligação com a instituição, tipo pós-graduados) da faculdade ou providas de uma carta de apresentação.
Virginia se afasta, dessa vez possessa. Pensa em o que fará para o resto do dia. E a uma certa altura, encosta-se a um muro, de onde enxerga a universidade e nos diz: "Quando me encostei no muro, a universidade pareceu-me de fato um santuário onde se preservavam tipos raros, que logo se tornariam obsoletos se deixados a lutar pela existência nas calçadas do Strand".

Porque fiz tantas viagens para pensar e falar num só texto como o do Edward Said? Talvez não seja porque sou louca não. O subtítulo do próprio texto é o potentado e o viajante. Por todo o texto, então, perpassa a idéia de que não podemos justificar nosso anseio por justiça se defendemos apenas o conhecimento nosso e de nós mesmos. Portanto, nos diz Said que "o modelo de liberdade acadêmica deve ser o migrante ou o viajante, pois se no mundo real, fora do universo acadêmico, precisamos ser nós mesmos e apenas isso, dentro da academia precisamos ser capazes de descobrir e viajar entre outros eus, outras identidades, outras variedades da aventura humana. Mas - o que é mais essencial -, nessa descoberta conjunta do eu e do Outro, o papel da academia é transformar o que poderia ser conflito, disputa ou asseveração em reconciliação, reciprocidade, reconhecimento e interação criativa".

Claro que não estamos mais no tempo em que mulheres e negros não entravam nas universidades. Mas, não é demais reavivar um texto assim como o de Woolf. Não é demais reavivar lembranças traumáticas como a Shoah, o Apartheid, o que foram as ditaduras militares na América Latina, enfim, nunca é demais lembrar erros cometidos no passado. Até mesmo para não repetirmos esses mesmos erros no presente ou no futuro.

E o Outro de hoje, pode não ser a mulher, mas existem muitos Outros ainda. E a academia é um lugar para adotarmos espaço para pensar sobre a questão. Com liberdade. Adotando o ponto de vista de um viajante. Que muda a rota, que mesmo com mapa, se perde, conhece, observa, interage, pergunta, aprende na carne.

São questões a se pensar. Sobre o Outro. Sobre o cânone. Sobre o que se estuda e como se estuda. O que se aborda. E daí é tão importante nos perguntarmos: E criança não pensa?
Diziam isso dos índios os portugueses quando aqui chegaram. Diziam, esses mesmos portugueses, dos negros que não tinham alma.
Dizem das mulheres que pensam menos que os homens.

É bom viajar. Nos textos. Nas idéias. E construir junto com os outros passageiros da viagem que é optar por estar nesse ambiente que é a academia.

sábado, 28 de agosto de 2010

Memória e subjetividade amorosa


"Uma memória coletiva se desenvolve a partir de laços de convivência familiares, escolares, profissionais. Ela entretém a memória de seus membros, que acrescenta, unifica, diferencia, corrige e passa a limpo. Vivendo no interior de um grupo, sofre as vicissitudes da evolução de seus membros e depende de sua interação. Quando sentimos necessidade de guardar os traços de um amigo desaparecido, recolhemos seus vestígios a partir do que guardamos dele e dos depoimentos dos que o conheceram. O grupo de colegas mal pode constituir um apoio para sua lembrança, pois se dispersou e cada um se integrou num meio diverso daquele que conheceu. Como salvar sua lembrança senão escrevendo sobre ele, fixando assim seus traços cada vez mais fugidios?" (Ecléa Bosi, in: Memória e Sociedade - Lembranças de velhos)

Impossível para mim reler esse livro da Ecléa Bosi e não fazer, a cada releitura, uma releitura de mim mesma com a minha mãe, com a minha infância, com o meu passado, com os espaços os quais já percorri e, portanto, com o meu presente.
Não temo dizer que meu principal objetivo ao trabalhar com a temática da memória no mestrado seja o de nunca esquecer. Seja o de estar sempre perto de minha mãe.
É como se eu tivesse um dever de memória, precisasse criar um lugar de memória, para falar nos termos de Pierre Nora.
E não há dúvida de que identidade e memória tem muito a ver um com o outro. E ao estudar memória, acabo constituindo uma noção grande de identidade. Acabo pensando coisas sobre mim e sobre ela (a minha mãe) e sobre o lugar que nos abrigou por quase toda a minha vida que foi a cidade de Propriá e sobre Aracaju essa cidade sempre presente também em nossas vidas. E assim, talvez me confunda mais e melhor sobre o que seja eu. Sobre o que foi ela. Sobre o que é que fui eu. Sobre quem é ela.
Outro dia estava eu a ler um livro escrito por Todorov chamado O homem desenraizado. Ele começa esse seu livro falando sobre a experiência que viveu ao viajar para ministrar uma palestra na Bulgária. A Bulgária é o seu país de origem. E ele retornou, depois de um exílio "circunstancial", como o próprio diz ter sido o seu, uma vez que não foi convidado a sair de seu país por motivos nem políticos (diretamente) nem econômicos ou de qualquer outra ordem. Foi uma opção. E ele não optara ingenuamente por deixar deixar uma terra "marginal"(em se pensando que Paris, lugar para onde foi, era, à época o "império" ou lugar onde outros lugares estariam em sua órbita). Ele foi estudar e lá ficou. Mas, é verdade que nunca concordou com a política governamental desenvolvida em seu país.
Depois de 18 anos fora de seu lugar de origem, distante lingüística e emocionalmente de seu lugar de origem, ele se viu em Sófia. Em sua casa. Reencontrando a mãe, amigos e até seus sapatos de jardinagem que sabia que eram seus pois que ainda guardavam os mesmos vícios de seus pés, as mesmas marcas.
Mas, antes, anos antes, Todorov nos conta que sonhava um sonho recorrente. Sonhava que visitava seu lugar de origem e, quando estava prestes a voltar à França, ia para estação de trem e de lá não conseguia sair. As situações nos sonhos eram muitas e variadas. Vezes havia esquecido a passagem em casa e se voltasse perderia o trem, outras ele entrava na estação, mas ao atravessá-la nada via que não fosse mato, outras ainda, estava de carona com um amigo que pegava um atalho e se perdia e chegavam atrasados à estação.
Ele estava impossibilitado de voltar à sua terra eleita, a França. E isso o apavorava.
Era um sonho. E quando se viu prestes a viajar de verdade para esse mesmo lugar dos sonhos e que era o de sua origem, ele tratou de prevenir possíveis não-voltas. Casou-se com a companheira de anos, escreveu a amigos que mantinham contato com a imprensa todos os dados de onde estaria e o que iria fazer lá, enfim, precauções que nos parecem absurdas ao lermos seu texto, mas que não são tão absurdas assim se lembrarmos que a Sófia vivia um regime autoritário comunista e que não seria tão absurdo acontecer-lhe algo.
Uma vez em Sófia, Todorov vive um processo estranho e dominante de reflexão quanto à sua identidade. Ele sente como se fosse um personagem duplo. Oras ele é o personagem búlgaro, outras ele é o personagem francês.Tudo o que se passava em seu interior, antes, com tranqüilidade, sem violência, todo o processo de desculturação, aculturação e de transculturação já vivenciados e já "superados", tudo veio à tona quando este se viu na Bulgária.
Foi preciso temer perder uma identidade escolhida, foi vivendo o embate junto aos que ficaram, foi se perguntando o que seria ele se ele não tivesse saído, foi pensando em tantas coisas que ele chegou a compreender que as identidades culturais não são apenas nacionais, existem outras ligadas aos grupos pela idade, pelo sexo, pela profissão, pelo meio social. Foi vivendo certas coisas na carne, como se de repente tivesse que não agir de maneira simples, mas sim ligando e desligando tomadas de si mesmo: a tomada búlgara, a tomada francesa, a tomada de ser filho, a tomada de ser amigo, a tomada de ser um intelectual que ia proferir uma palestra num país onde era estrangeiro e pertencente ao mesmo tempo, a tomada de ser isso ou aquilo. Entendeu, então, que em nossos dias todos já vivemos, ainda que em níveis diferentes, este reencontro de culturas no interior de nós mesmos.
E ao ler Todorov testemunhando um processo de identidade e de memória, eu lembrei de um conto de Luis Borges, que está em O livro de areia, chamado O outro. Nesse conto, Borges velho encontra-se com Borges jovem. Não são o mesmo. É seu duplo. Apesar de ser o mesmo Borges em tempos diversos, são pessoas diferentes. Vale a pena ler o conto. Por que agora estou já cansada de tanto fluxo de pensamento. De tanto sentir entrecortado. Já falei demais. E tudo isso para dizer que morro de saudades e que encontrei um jeito sim de ficar mais perto de minha mãe. E está aqui na memória, em cada coisa que escrevo, que relembro, que monto de novo. Mergulho. Superfície. Tudo ao mesmo tempo.
E tudo isso me ajuda a deixar de ser preconceituosa. A tentar compreender que se eu sou construção, também ela foi para ela mesma e para mim e continua a ser. Assim como qualquer outra pessoa. Assim como acontece com todo mundo.
Mas, ser construção não significa deixar de ser verdade.
E se um mesmo homem não mergulha num mesmo rio porque ambos, homem e rio, já não são o mesmo, como querer de mim ou dela ou de qualquer pessoa que seja algo estático?
E eu não falo aqui de hipermodernidade, de pós-modernidade, de tudo líquido.
Falo de possíveis e prováveis preconceitos mesmo. De como a gente encara uma mãe, uma mulher.
Minha mãe era uma mulher inquieta. Buscava coisas (e aqui coisas não é só o que de material possa existir, mas sim também idéias, sentires, etc.). Era inconformada com muito do que viveu, do que vivia. E isso é o que foi mais marcante dela para mim.
Isso estava em sua voz, grossa, rouca, de gritar para a vida. Seus grandes olhos verdes. Sua postura ereta. Ela era alta. E dizia ter só tamanho. Pois que se via como uma manteiga derretida. Isso estava em suas memórias, no que ela lembrava dos anos 60, de como rememorava o golpe de 64, ela com 20 anos de idade. Como ela reconstruía as ruas de Prporiá, a festa de Bom Jesus, o Cine Veneza, alguns tantos acontecimentos políticos. Como ela me explicava os nomes das ruas ou de como as ruas eram conhecidas.
Eu a amava e a temia (não só porque ela era a minha mãe, mas porque ela sabia assustar quando ficava brava). Respeitava. E falávamos de tudo. E éramos verdadeiramente amigas. Mesmo que vez ou outra ela dissesse: "Ei, mocinha, a mãe aqui sou eu, viu?". Ela era muito conversadeira (era assim mesmo que falávamos rindo quando varávamos a noite conversando: hoje estou conversadeira, estou com o conversador aberto).
Ela era intensa e como pessoa intensa não vivia as coisas por oportunismo ou de maneira reducionista.
Amava. E por amor sofreu.
Fumava. Parou um mês antes da morte. Parou porque estava doente e não podia mais. Mas, o cigarro era o seu companheiro. Daquelas tantas horas de insônia e que eu estava dormindo. E daqueles momentos que todos nós temos: aqueles que a gente não deixa ninguém penetrar, por mais que a gente ame muito, sabe?
Ela era assim e muito mais. Porque ela era gente. Gente  muito gente. E, como disse Clarice Lispector, para além de gente ela era uma Pessoa. Assim com maiúscula.
Ela era uma Pessoa. Tinha suas máscaras, seus sonhos, seus silêncios, suas brigas, suas opiniões, sua voz. Suas escolhas, suas dúvidas. Suas contradições. Era, enfim, uma Pessoa.
Amava música, livros, cinema. Falava sempre de tudo o que via, lia, assistia. E adorava pessoas e solidão. E era bonita, vaidosa. Era crítica, nada falava ou pensava sem fazer reflexões sobre.
Depois, adoeceu. Encucou com muita coisa. Na verdade com uma coisa. Desprezou o seu corpo. Mas, ela era tão e tanto, que mesmo depressiva, que mesmo doendo sempre, que mesmo com câncer, que mesmo sentindo dores recorrentemente, mesmo assim ela era encantadora. E, antes e depois, se permitia. Era uma Pessoa.
E eu morrerei se me esquecer de como foi especial, diferente, importante, feliz ter nascido dela, ter sido criada por ela, ter vivido tudo o que vivi com ela.
Tudo o que eu disser sempre vai ficar aquém. Pois é indizível ter tido a oportunidade de ter vivido ao lado dela.  De ter experimentado o que experimentamos.
Por isso pessoas como Kelli, como Suyanne, como Deise, como mesmo Tiago, como Delaninho, como Gustavo, com Cândida, como Silvinha, Dênia, Lísia, como todos os meus amigos (tantos, tantos, tantos que se eu for citar vou escrever eternamente) que a conheceram são tão importantes também como figuras que conviveram com ela meio que para testemunhar uma época, um fato, uma pessoa, um acontecimento. Que cantaram na cozinha lá de casa, que riram, que choraram, que ouviram-na tanto com sempre suas muitas histórias, que falaram, desabafaram (porque muitos de meus amigos falavam das coisas, conversavam mais com ela do que comigo sobre amores, dúvidas, medos, incertezas). Ela sabia ouvir como ninguém.
Era controversa. Chegando a ser engraçado. Lembro-me de que um dia, quisemos descobrir porque ela juntava a gente em casa, conversávamos cantávamos, bebíamos muito café, comíamos uma coisinha ou outra (porque ela adorava cozinhar e adorava que as pessoas gostassem das comidas que ela fazia ou mesmo, ela era toda jeitosa, cortava queijo, colocava azeitonas, um patê, biscoitinhos num prato e refrigerante a vista, copos para quem quisesse se servir…sempre tinha que oferecer algo, mas sem a insistência chata, era sempre como se partisse de nossa vontade e como ela sabia respeitar os outros!) e de repente, todos nós decidíamos ir embora, deixar para continuarmos os papos e a cantoria amanhã, mas isso sempre coincidia com o cansaço dela. Ela juntava a gente sem que a gente percebesse e desfazia o ajuntamento sem que a gente percebesse também. Era ao bel-prazer dela, a danada. Ela sempre charmosa, cheia de conversa mole. E a gente caindo, caindo.
Quando digo que era gente, Pessoa, é que ela mudava de humor, ficava triste, zangada, não queria ver ninguém, depois voltava toda alegre, eufórica, e isso nem sempre era assim tão evidenciado ou tão antagônico e demarcado, era um cotidiano, um dia-a-dia, mas ela driblava isso com uma beleza simples (se bem que outras tantas sofisticadas).
Pintava quadros, panos, toalhas, bordava, coloria as coisas, dava um outro tom. Lembro-me de ela ter pego uma toalha de renda toda branca e tê-la pintado. Pintou flor por flor. Ainda guardo a tal toalha, inclusive ainda a uso. Ficou um trabalho ímpar. Belo. E ela feliz, orgulhosa, mas,  muito sinceramente soltou: "Essa vai ser a única, pois estou com os olhos arrombados, ô gota!". Era assim. Espontânea. E desarrumava as coisas para rearrumá-las com graça, com arte, com beleza.
Adorava Augusto dos Anjos e o Castro Alves sensual. Citava-os sempre. E vivia lembrando de que o beijo era a véspera do escarro.
Claro que de uma personalidade como a dela eu só posso morrer de falta.
Não era submissa, não passava desapercebida nunca. E me ensinou que a amar e ser amado não significa subjugar a outra pessoa nem estar subjugada.
Não era utilitarista. Não puxava saco. Apesar de ser carinhosíssima e muito compreensiva. Tinha um olho de lince. Sabia viver.
Não olhava para trás quando andava e dizia que se alguém a chamasse pelo segundo nome, nunca acharia que era com ela.
Falava do tempo em que seu pai era gerente de um grande cinema em Propriá com tamanha paixão que me apaixonava também pelas suas histórias. E acho que acabei testemunhando um tempo que não o meu. Como é viva a imagem de um homem que perdera a mãe, foi ao cinema, assistiu a um rama, riu a sessão todinha e, quando todos foram embora, chorou copiosa e dolorosamente, sozinho, emborcado, caído da cadeira, em posição de feto. Essa era uma lembrança dela, que eu herdei e posso testemunhar. Eis a memória coletiva aí, minha gente!
Suas histórias cheias de invenções e memória (pois a memória vem carregada de invenções muitas vezes) faziam dela uma pessoa única para a idade, para a região, para o tipo de vida e os sofrimentos todos que já havia passado e que passava ainda.
Era uma grande amiga.
Outro dia, me enchi de coragem e fui visitar a sua melhor amiga. Elas eram unha e carne há trinta anos. Aprontaram juntas na juventude e era linda a cumplicidade delas.
Ela não era a mesma pessoa. A falta de mainha na vida dela era tão destruidora quanto na minha. Ficamos eu e ela a nos olhar e a saber da falta daquela mulher em nossas vidas. Não tínhamos nada a fazer. A morte é mesmo assim. Ela me disse, perdi a minha amiga. Com os olhos cheios de lágrimas. E eu respondi: eu também.
Ela deixou de fumar no enterro de minha mãe. Mas, depois, a saúde dela declinou. Era como se minha mãe fosse uma força para ela. Quatro anos depois da morte de minha mãe foi como se ela tivesse envelhecido anos. Se minha mãe tivesse viva, talvez isso não tivesse acontecido e aquela jovialidade estivesse ainda pulsando.
Elas  trocavam bilhetes engraçados. E eram irmãs, irmãs. Tia Marilene era testemunha da vida de minha mãe, do que era a mãe de minha mãe para minha mãe. Pois que elas também tinham tido uma amizade muito bonita. Mas, era uma relação muito mais tradicional de mãe-filha, muito mais diferente do que foi a nossa…

Enfim…falta. Vontade de um dedo de prosa com ela que era tão inteligente, tão viva e vivaz, tão interessante, tão envolvente, tão charmosa, tão não cansativa.
Saudades de suas invenções. Saudade de levantar no meio da noite e ela estar fazendo alguma peripécia, de eu perguntar o que era e ela desenrolar um fio de Ariadne e mais fios e fios e dali por diante evocarmos Minemosyne, Clio, Apolo….e Vênus.
A memória, a história, a arte e o amor. Foram ensinamentos que ela me deixou. E são coisas que ela ressignificava a todo momento. Eu sinto falta. Muita. Latente. Para sempre.



GENTE GRANDE PENSA MAIS?!

Já deve ser de conhecimento geral que eu estou envolvido com aquelas sessões de filmes patrocinados pelo COPRE/UFS (Coordenação de Promoções Culturais e Recreativas da Universidade Federal de Sergipe) às quintas-feiras. Basicamente, meu papel (por enquanto) se resume a entregar uma lista de filmes, que será revista pelo Pró-Reitor de Graduação e, se aprovada, exibida. Dentre os filmes programados para os meses vindouros, organizei uma verdadeira salada de gêneros, de maneira que fui visitado por uma funcionária do COPRE na semana passada:

-“Wesley, estávamos aqui a verificar os filmes que tu enviaste para o mês que vem e percebemos que DUMBO é um filme infantil.
- Sim, e o que é que tem isso?
- Tu vais passar um filme infantil mesmo?!
- E o que é que tem?!
- (...)
- Se serve de consolo, avisa a quem quiser contestar que este filme, na verdade, tem um contexto sob-reptício sobre crianças usuárias de drogas.
- É?!
- É. Na verdade. É um tema secundário, mas rende um bom discurso universitário”.


A conversa seguiu adiante, mas o que eu queria abordar inicialmente já está contido no diálogo acima: queriam boicotar uma das minhas sugestões não por que o filme é demasiado comercial (Disney) ou coisas do gênero, mas... Porque ele é infantil! Infantil? Meu Deus, o que quer dizer este termo hoje em dia?! E, pior: como pode que alguém não conheça “Dumbo” (1941, de Ben Sharpsteen), que não reconheça o quanto este filme é genial enquanto forma e discurso, que não admire todo o cabedal nostálgico a ele atrelado, que não conheça o seu subtexto psicodélico? Absurdo! Por essas e outras é que, com todas as concessões apolíticas que impinjo a mim mesmo enquanto subsumido a este projeto alheio, eu insisto em participar dele, em alimentá-lo materialmente: nem que seja no plano da mera exibição, deve funcionar para alguma coisa!

Wesley PC>

CICLO CINEMA E LITERATURA

VAI SER NA UFS. NINA SAMPAIO, FÁBIO ROGÉRIO E ANTÔNIO CARLOS VIANA FARÃO PARTE DO ENVENTO.

SEMPRE QUE COLOCAREM ALGUM EVENTO NOVO, PONHAM-NO NO MARCADOR EVENTO, PODE SER?

http://www.ufs.br/?pg=evento&id=1545

beijo.

"Mundo do mortos ou do silenciamento"

Creio, e apenas isso, que ele reverbera em nós vivamente!

Sintonia e sempre:

Antes de ler seu post, Ninete, estava eu a escrever coisas, assim como pequenas explosões, sabe? Que nascem como brotinhos e que ferem carregados de pequenos espinhos. Resolvi não terminá-lo por hora. Segue ...

Que mais eu digo? Bufou de raiva a menina sentada com a bunda apoiada no frio de seu quintal. Que mais eu digo, mamãe? Sobre o que – a mãe questiona sem entender. O que é que eu tenho que escrever aqui ?– apontava para um pequeno caderno azul celeste. Escreva aí que você é feliz. O que é feliz? Feliz.... é quandoo não se é triste. E você é feliz, mamãe?


Ps.: amo a estranheza das coisas que rolam entre todos nós. Sei pode não ter nada a ver, mas... não sei.
xeru.



SIMPÓSIOS!


EI PESSOAL, ESTAVA PENSANDO QUE PODERÍAMOS USAR ESSE NOSSO CANTO PARA DIVULGAÇÃO DE ENCONTROS E SIMPÓSIOS. SABEMOS BEM QUE SÃO COISAS "IMPORTANTES" PARA NÓS, PELO MENOS PARA AQUELES QUE QUEREM SEGUIR NA ACADEMIA E TAL.

BEM, RECEBI RECENTEMENTE ALGUMAS DIVULGAÇÕES NO MEU EMAIL, SEGUEM ABAIXO:

*ALGUNS SÃO DE SOCIOLOGIA, OUTROS DE GEOGRAFIA (ANDO AGORA COM UMA QUEDINHA...), MAS VEJO QUE PODEM INTERESSAR A NINA PORQUE ALGUNS TRATAM DE MEMÓRIA E LINGUAGEM, INCLUSIVE COM OFICINA DESSA TEMÁTICA.

LINKS:

1 - http://www.simgeo.faed.udesc.br/
2 - http://grupoentrelace.blogspot.com/
3 - http://www.iesa.ufg.br/biotek/
4 - http://ecsbarragens.ufpa.br/site


MESMO QUE NÃO SEJAM DA ÁREA DE VOCÊS, DIVULGUEM QUANDO FICAREM SABENDO PORQUE PODEM INTERESSAR A OUTROS, BLZ?

MAS... SE NÃO QUISEREM, VÃOSEFUDÊ!, NO BOM SENTIDO SEEEEMMMMPREEEE....

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Mulheres com TPM, uni-vos!

Não. Não é em tom de reclamação que queroe screver o que vou escrever. Mas, ao contrário, é um tom de surpresa. Mas, de uma surpresa antiga e que se renova a cada mês. E comigo: a cada mês há anos.
Ontem, quinta-feira, acordei tão indisposta que deixei o dia se arrastar e não comi. Não consegui sequer comer biscoito puro, sem manteiga, sem fazer café ou suco. Simplesmente fui acometida de um desânimo e de uma falta de coragem-energia tamanhos que me impediram de comer.
Hoje, vim para a aula. Normal. Estava até animada para sair à noite, de burlar os planos de estudar e estudar e simplesmente sair com as pessoas que tanto amo.
De repente pareceu que minha bateria descarregou.
Sentei-me entre os corredores de uma das didáticas daqui da UFS e ali fiquei por quase duas horas. Sentada. Olhando para o nada. Mas, antes, caminhei pela universidade sem coragem de sair. Era como se eu criasse, sem o saber, uma impossibilidade de ir para casa. Estava sem energia. Mole. Estranha. E incomodada com a situação que eu achava exdrúxula, deveras.
Depois das quase duas horas sentada, levantei-me, com esforço, e fui ao banheiro.
Lá descubro que estava menstruada.
Eis a surpresa mensal: o antes da menstruação é sempre inusitado. Quando não me acabo de chorar, fico muito bruta, quando não choro nem fico bruta, sinto cheiro de cobre em todas as águas (até do mar), quando não é uma coisa estranha, é uma muito esquisita. Tudo isso é feliz quando não vem acompanhado de dores nas pernas, no "pé-da-barriga", de cabeça, nos seios...
Eu incho, fico me sentindo muito mais gorda do que sou. Eu mudo e é como se fosse novo. Como se nunca me tivesse acontecido antes. Mas, acontece sempre. A diferença só é de intensidade. Há meses onde tudo acontece de maneira mais branda, quase que imperceptível. Noutros, avario como nesse.

No mais, é engraçado depois, como falei há pouco com Jadson.
Falei porque dou a notícia de que menstruei como a de quem mentruou pela primeira vez na vida (lembro-me agora da pobre Pombinha de O cortiço).
Estive com medo de precisar que alguém viesse me resgatar da UFS.
Já pensou que inusitado? E depois como explicar?
"Não consiguia sair da UFS porque, porque, porque....estava com TPM".
Oi?
Quem acreditaria em tal impossibilidade e ainda explicada a partir de tal argumento?
Eu.
Eu acredito em tudo vindo de uma mulher antes de menstruar.

Oi?Foi como se eu fosse movida a bateria: descarregou!

Notícias do mundo de cá: o nascimento de uma criança - reflexões para o mundo dos mortos ou do silenciamento

Fumei um cigarro preto hoje. Negro era o meu semblante. Negra a interrogação quanto ao meu futuro. O que desejo de verdade?
Inconformada eu? Nem sei do que não me (in)conformo ou o que mesmo desejo. Porque do impossível eu já sei que não se fala.
O cigarro negro da solidão que venho fumando desde mesmo quando você era viva e estava comigo estranhamente não amarga na boca. Amarga por dentro quando sabemos da possibilidade do câncer. Do câncer que ferra a vida, a alma e a fala da gente.
Fumávamos as duas desse cigarro, mamãe. Você na sua geração e eu na minha. Você e eu fumávamos desse cigarro mesmo quando não fumávamos nada e quando não havia fumaça.
Lembrávamos de um tempo que não chegamos a viver. Também eu não vou chegar lá.
Ontem soube do nascimento de mais uma criança em nossa família. Eles também não me procuram. Como antes, estamos sós. Estou só.
Há uma outra família. A qual não pertenço, mas que diz ter-me abraçado por conta de um dos membros. Há uma linha de não-entrega tão demarcada que muitas vezes eu rio, sabia?
Lá eu como, durmo, tomo banho. Mas, não sou. Lá eles são eles e eu a parte. Mas, as pessoas, mamãe, continuam a fingir. Também eu o faço. Mas, não muito bem, pois sempre em crise. Vivo sempre em crise.
Sabia que nunca mais um abraço de verdade? Nunca mais ninguém tirou cravos de minhas costas. Eles saem no banho, com os óleos com os quais tomo banho. É. Tenho tentado parecer um pouco com você. Assim, os óleos durante os banhos e os hidratantes depois.
Outro dia achei um dos que você usava. O cheiro me emocionou. Mas, não havia muito sentido em dividir isso com outra pessoa.
Este é um escrito desorganizado. Como sou desorganizada.
Como é possível, mamãe, alguém como eu, hein?
Nasci mesmo assim? Fui-me transformando? O processo sempre foi silencioso? Será sempre?
Enfim, são tantas coisas. Algumas dizíveis sim, mas não por ora. Por ora, só a negra fumaça do cigarro da solidão.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

SEM NET

Estou numa LAN, logo com pouco tempo.
Ainda estou sem NET em casa. por isso aparecendo pouco aqui
Li coisas violentas nos últimos tempos e concomitatemente participei de um cerimôria nada confortante nos últimos dias como bem anunciou o caro Wesley de Castro, mas fiquei bem com a felicidade da minha mãe e outros parentes, tive apenas vergonha de mim mesmo...
estou a ler um livro sobre arte: "Vanguarda e subdesenvolvimento" do escritor Ferreira Gullar e caramba é muito bom, assumidamente marxista ele questiona desde o termo vanguarda até a possibilidade da chamada arte de vanguarda surgir em meio ao contexto do subdesenvolvimento, até onde estou ele já tira algumas conclusões e fiquei satisfeito com elas, mesmo que o ranço marxista ortodoxo esteja marcando profundamente a sua análise, mas a frase: " o rigor formal da obra de arte surge da necessidade de mostrar concretamente o imaginado" me deixou encantado é claro. e conclusões do tipo " uma obra de arte atingi o universal apartir da singularidade do contexto social em que o artista vivi", termino minha leitura em breve e passo pros meus queridinhos.
Mas como havia anunciado antes, eu li o já famoso livro de Ana Paula Maia "Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos" dizem que ela é uma Tarantino tupiniquim, sei não, sei que a leitura do livro me deixou embasbacado tanto pelo rigor formal, quanto pelo conteúdo extremamente violento, e mais sem fazer espetáculo da violência como faz tarantino no cinema, o livro é bem visual, mas conserva um grau de crueza até semelhante mas o universo que ela trata no livro é bem diferente daquele retratado pelo cineasta, o livro ja rendeu otimas discursões entre Tiago e eu, e espero que todos leiam para comentarmos mais... é realmente um primor, sinto que as vezes ela excede em alguns momentos mas sempre justifica os excessos. é realmente uma aula de literatura moderna!

beijos

Jadson

Cava escura

Revólver, coração.

Explosão, ruptura,

Cava escura.


Carne-viva.

Carne-VIVA,

Crua.


Carne trêmula,

Carne-morta,

Carne Dura,

Cava escura.


terça-feira, 24 de agosto de 2010

Quem és? Perguntei ao desejo.
                Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.

Do Desejo, Hilda Hilst.

A língua lambe



Ilustração de Milton DacostaA língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

domingo, 22 de agosto de 2010

Schopenhauer, caminhada, homens, filosofia: pequena reflexão despretensiosa.

Hoje também é um dia de estranha paz, íntima paz, a que persigo, que se esconde e que, embora às vezes eu saiba precisamente onde encontrá-la, nunca tenho a menor idéia de como chegar até ela. Será mesmo que sei precisamente onde encontrá-la?

Mas não é sobre a paz que pretendo escrever aqui e agora.

Em conversas comigo mesmo sobre tantas coisas, sobre os deuses e os homens, concomitante a algo que me é muito novo, a leitura filosófica, eu percebo em mim um certo desprezo à humanidade, não ódio, mas desprezo. Ainda ontem, na manhã de sábado, nas minhas caminhadas recomendadas, vi no fundo de um carro coisa mais ou menos assim: “Quanto mais conheço os homens, mais gosto do meu cachorro”. Estranha essa frase agora – eu pensei. (É que para mim eventos precisam ser muito bem analisados para depois então chamá-los com total desprezo: coincidência, assim como coisa neutra ou desastrosa)

Por indicação de um amigo muito querido estou por terminar a leitura de “A arte de conhecer a si mesmo”, uma organização de textos íntimos de Schopenhauer. Tamanha foi a identificação que quase a termino na primeira hora de meu despertar nessa manhã de domingo.

Saudavelmente misantropo, assim se define o filósofo. Desprezar os homens, mas não os odiar. Mas não é um ensinamento, foi apenas, creio eu, um modo que ele encontrou para obter suas revelações filosóficas. É, portanto, a leitura de um diário o que estou fazendo.

O então jovem Schopenhauer decidiu contrariar o que ele chamava de inclinação natural à sociabilidade. Citou em seu diário uma regra de Gracián: “ evitar demasiada intimidade no trato”. E ainda: de William Shenstone “Virtudes, assim como essências, perdem sua fragrância quando são expostas. São plantas sensíveis que não suportam o contato demasiado íntimo.”

Bem, é a sinceridade de um filósofo, longe de mim discutí-la.

Nada sei de sua filosofia e de muitas outras, talvez meus amigos filósofos possam me ajudar em descobertas. E não pretendo seguir o que ele escreveu no diário, especialmente porque o fez para si e não como coisa de todos ou ensinamentos. E também porque não costumo seguir mesmo muita coisa. Apenas me senti parecido. Ao menos, momentaneamente parecido.

Sabedoriaamor implícitos

Hoje é dia da minha mãe. Acordou tagarela. Porque isso é isso, aquilo é aquilo, etc etc... E no final, angustiada com pesada frustração, disse: Eu não tenho sabedoria para conversar com vocês - Embora eu tenha mantido uma cara séria, fazendo-me de casmurro, impenetrável e sentimentalmente hermético, por dentro eu sorria.

Uma vontade de beijar aquelas bochechas penduradas e de cheirar-lhe o cangote rechonchudo e dizer ainda: sua boba, é AMOR o que está me ensinando!

Lembrei-me de uma das poesias mais lindas e profundamente sensíveis que já li aqui nesse blog da Adélia Prado, postada certa vez por Ninete. Repito-a aqui tomado por estranha paz. Estranha paz é efeito de amor?


Ensinamento


Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.


sábado, 21 de agosto de 2010

SIM, E DE JADSON, ALGUÉM SABE?

Então, oficialmente hoje seria o dia da formatura do mais novo licenciado em Filosofia da Universidade Federal de Sergipe, Jadson Teles. Mais oficialmente ainda, o mesmo havia combinado comigo que compareceria à cerimônia oficial e que, como costumamos fazer aos sábados, veríamos algum filme cerimonioso, antes de comparecermos à cerimônia propriamente dita. Desde a meia-noite de ontem para hoje, porém, que eu pelejo para falar com Jadson via telefone e não consigo. Alguém obteve melhor êxito que eu?

Pelo sim, pelo não, tendo ou não ele comparecido à tal cerimônia, quero deixar aqui um voto pós-moderno de felicitações graduandas a o meu amigo, ao passo em que deixo patente que respeito os caminhos acadêmicos que ele deseje trilhar a partir de agora, visto que suas paixões gnosiológicas levam-no a deambular pelos congressos do Brasil afora – e até mesmo da Argentina, de onde ele me trouxe uma bela fotografia de transeuntes pós-adolescentes.

De resto, aguardo notícias.
Tentei contato.
Talvez eu não seja de todo inteligente (risos), trazendo aqui à tona um equívoco comparativo que uma amiga em comum revelou há algum tempo, insinuando que ele teria afinal me superado. Não existe isto de “superação” entre nós – ou melhor, entre quem realmente ama o que estuda – mas sim um exercício perene de cooperação, que, se agora revelo, é porque estou lamentoso de não tê-lo encontrado no dia fetichista por hoje representado. Gosto de fetiches. Sou um burocrata nato!

Wesley PC>