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sexta-feira, 24 de junho de 2011

“DESCULPE, DESCULPE, DESCULPE”...

Estas palavras são repetidas diversas vezes seguidas na trilha sonora proto-gregoriana de “Erótica, a Fêmea Sensual” (1984), filme do Ody Fraga que vi recentemente e que me fez lembrar bastante de minha amiga erotizada e passional Ninalcira Sampaio. Eu não sei se ela conhece este filme, mas, se ela precisar de ajuda para se crucificar nua à beira da praia, estou aqui, visse?

Wesley PC>

terça-feira, 8 de março de 2011

VENDO ESTAS DUAS BOCETAS JUNTAS, EU PENSO: “CARALHO!”

Na cena em pauta, uma garota tenta seduzir outra com o pretexto de que o melhor aspecto de uma relação sexual entre mulheres é o de que, por não haver penetração, elas sempre se sentirão incompletas e estarão sempre desejando uma à outra. Até que o vibrador que a mãe de uma delas usa para fazer massagem facial entra em cena. Trata-se do episódio “As Gazelas”, dirigido por Luiz Castellini, que abre o filme “Pornô!” (1982), cujos episódios subseqüentes, dirigidos por David Cardoso e John Doo, são muito melhores e entraram definitivamente para o panteão das imagens mais eróticas de toda a minha vida. Filmaço: viva a tal da pornochanchada, um dos gêneros mais injustiçados do glorioso cinema brasileiro!

Wesley PC>

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

AS BACANTES


É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora

E sozinha supor
Que se estivesses dentro

Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora

Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.

(Hilda Hilst)



Desejo. Ausências. Corpos. Aromas. O vinho. O dionisíaco. Porque Hilda fica assim: pulsando em minha cabeça. Meu corpo-sensação se pergunta a todo momento: aconteceu ou sou uma ficcionista? Antes, sonhava que a música me excitava a ponto de me masturbar com o som. Eu era amante, assim, da música. Uma amante clássica. E é por isso que Ariana, assim aroma, assim corpo, assim bacante, assim tambor, me faz pensar: aconteceu ou sou uma ficcionista?

O meu corpo, eu o sentia corpo de Dionísio. Era a tatuagem dele o ponto de referência do meu olhar. Eu não queria significados. Mas, perguntei, como um tempo a mais para tocá-la e para tocá-lo. Para sentir o relevo da pele em desenho. Proximidade. Nunca pensei no siginifcado de tal palavra. Eu que me denomino sacerdotisa de Baco e, portanto, consagrada aos mistérios desse deus. Os mistérios. Os mistérios e seus significados guardados, velados. Eu, naquele momento de toque, queria era apenas tocar e nada mais. Tocar para sentir. Lamber para saber o gosto. O vinho respirava vivo por entre as veias. Dionísio em mim, Ariana, a preparar o corpo desde quando? Eu não o preparara, ao menos, não que eu assim soubesse. Mas, Pessoa falava, através de Caeiro, que "basta existir para ser completo". O gosto-lembrança não era de completude. Era de loucura inacabada. Bêbedo. Quando um personagem de Nelson Rodrigues falou assim "bêbedo" numa película de Jabor, eu ouvi platéias sorrirem. Mas, eu, Ariana, sabia. Aquela palavra não era para os risos. Era para o gozo. E o gozo, o gozo viria sem vinho, sem bebedeiras. Bêbedo uma vez, era necessário a rudeza da sanidade. Para o gozo, completo da existência pessoana: estar são. Antes, tudo vira sonho ou um não-saber-e-só-sentir-que-se-sabe-que-alguma-coisa-aconteceu. Nem toda existência, assim, Ariana, é completa, é isso o que dizes? Sim, responderia, eu, Ariana. Há aquelas exitências que são insanas. E para tanto, para não mais arder e arder: sábias são todas as ausências, Dionísio.

E, por isso, eu preparo aroma e corpo e festa e, ardendo, sozinha suponho coisas e pensamentos e repito para mim: é bom que seja assim, que não venhas, Dionísio.

P.S.: texto inspirado no poema de Hilda Hilst e nas idéias e adaptações de Zé Celso e no sempre Dionísio, deus amado e querido e sempre ovacionado aqui.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O pau ou ainda As cores ou ainda A boca ou ainda Glutir ou ainda...


Gabava-se de ter aquilo roxo
Jurava em mesas de bar que já havia assustado muitas mocinhas com o diâmetro de seu pau
Listava as damas que havia comido
Até conhecer a grande boca que o engoliu inteiro e o calou por tempos a fio
Em casa, na cama, sumido, quieto, feliz.

domingo, 21 de novembro de 2010

PARA QUEM AINDA NÃO CONHECE O JUAN JOSÉ BALLESTA...

...nada como ter uma TV em casa!

Conheci este astro juvenil espanhol de 23 anos de idade através do filme “Sete Virgens” (2005, de Alberto Rodríguez), singelo e um tanto homoerótico filme, em que o protagonista é um delinqüente juvenil que recebe permissão para sair do reformatório em que está preso para comparecer ao casamento do irmão mais velho e responsável. Jamais saiu de minhas retinas eróticas mentais!

Meses depois, reencontrei o artista em “Cabeça Oca” (2006, de Santi Amodeo – vide foto), filmeco deslumbrado em que ele interpreta um rapaz que vive confinado numa bolha médica por causa de uma grave doença mental que o faz ter ataques narcolépticos duradouros, até que se apaixona e resolve arriscar sua vida em prol da garotinha que ama. Eu é que não faria diferente. Eu é que não pude dizer que não tive inveja dela. Um filme deveras fofo e, por isso mesmo, recomendável.

Em seguida, foi a vez de conferir “Ladrões” (2007, de Jaime Marques), este sim, bobo e moralista, sobre um batedor de carteiras órfão que se apaixona por uma garotinha também tendente à cleptomania, num filme que adapta o clássico “Pickpocket” (1959, de Robert Bresson) para as massas adolescentes. Se ele obteve sucesso, em minha opinião? Não, não obteve, porque o diretor e roteirista é fútil, mas vale pelo Juan José Ballesta, num papel tendenciosamente mais dramático que os anteriores.

E, se tudo der certo, dentro de alguns minutos, estarei tendo o prazer de ver “El Bola” (2000, de Achero Mañas), primeiro papel cinematográfico do astro juvenil, ainda aos 13 anos de idade, a ser exibido na TV Brasil, cujo sinal é repassado pela TV Aperipê, aqui em Sergipe. A trama é um daqueles típicos retratos de infância delinqüente, muito comum no cinema espanhol, desde a ascendência do cinema quinqui, no início da década de 1980. Estou ansioso para finalmente ver este elogiadíssimo filme, desejado desde que conheci (e me encantei) pela cara de tolo do Juan José Ballesta. E é com este filme e com esta postagem que eu tenciono evadir-me um pouco do que os objetos artísticos mui dramáticos citados na postagem anterior me causou... Ainda me dói, dói muito – e é bom assim mesmo!

Aliás, cadê Tiago, hein?

Wesley PC>

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Nanomania

Gostava de mulheres pequenas
Seios pequenos, durinhos os bicos
A bunda arrebitada, redondinha
O sorriso largo para contrastar com a miudeza da vida
Tudo cabendo-lhe nas palmas das mãos, a sensação de guardar o mundo ali
Dizia sempre que a boca tem o tamanho da gula e que a gula era que era imensurável...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Miosótis


Flores pequenas
Pequenos clitóris vermelhos, rosáceos
Enrijecer sem perder a doçura
Regra da boa, dialética da boa
A boca é quem sabe
Do doce das flores e do mel...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Modos de amar XV

 Para fechar os momentos, tem esse de Maria Tereza Horta, que é muito longo, e eu gosto particularmente, desse "Modo de amar XV":

 

(A boca – A rosa)

Entreabre-se a boca
na saliva da rosa

no raso da fenda
na fissura das pernas

Entreabre-se a rosa
na boca que descerra
no topo do corpo
a rosa entreaberta

E prolonga-se a haste
a língua na fissura
na boca da rosa
na caverna das pernas

que aí se entre-curva
se afunda
se perde

se entreabre a rosa
entre a boca
das pétalas

Cerejas, meu amor

 Momento Renata Pallottini?


Cerejas, meu amor,
mas no teu corpo.
Que elas te percorram
por redondas.

E rolem para onde
possa eu buscá-las
lá onde a vida começa
e onde acaba

e onde todas as fomes
se concentram
no vermelho da carne
das cerejas...

Ariel


 Momento Sylvia Plath?

Êxtase no escuro,
E um fluir azul sem substância
De penhasco e distâncias.

Leoa de Deus,
Nos tornamos uma,
Eixo de calcanhares e joelhos! – O sulco

Fende e passa, irmã do
Arco castanho
Do pescoço que não posso abraçar,

Olhinegra
Bagas cospem escuras
Iscas –

Goles de sangue negro e doce,
Sombras.
Algo mais

Me arrasta pelos ares –
Coxas, pêlos;
Escamas de meus calcanhares.

Godiva
Branca, me descasco –
Mãos secas, secas asperezas.

E agora
Espumo com o trigo, reflexo de mares.
O grito da criança

Escorre pelo muro
E eu
Sou flecha,

Orvalho que avança,
Suicida, e de uma vez se lança
Contra o olho

Vermelho, fornalha da manhã.

O meu amor

Momento Chico?

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai

O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai

Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz

Sossegue Coração

 Momento Lemisnky?


sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora

calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa


(Paulo Leminsky)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A língua lambe



Ilustração de Milton DacostaA língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

domingo, 15 de agosto de 2010

QUEM CHEGAR ANTES, ESPERA O OUTRO, VIU, NINALCIRA?

“Espérame en el cielo corazón
si es que te vas primero
espérame que pronto yo me iré
ahí donde tú estés.

Espérame en el cielo corazón
si es que te vas primero
espérame en el cielo corazón
para empezar de nuevo.

Nuestro amor es tan grande, y tan grande
que nunca termina
y esta vida es tan corta y no basta
para nuestro idilio.

Por eso, yo te pido por favor
me esperes en el cielo
y ahí entre nubes de algodón
haremos nuestro nido”


Não vou esperar o título (risos), mas digamos que tenha a ver com a canção interpretada por uma tal de Mina que toca ao final de “Matador” (1986, de Pedro Almodóvar): eis o que sentia antes e depois daquele grito imenso, que somente eu, Ninalcira e Fábio Rogério ouvimos na madrugada de hoje. Jadson e Tatiana, deitados do outro lado da cama, não ouviram. Por quê? Houve a especulação que tenhamos os três imaginados o grito. Houve a especulação induzida de que o grito teria provido de alguém que acordara de um pesadelo, o que oficialmente nos consolou antes de adormecer. Houve uma saraivada de memórias eróticas antes de eu deitar naquela cama. E haverá muito mais por acontecer daquele instante em diante. Bela madrugada entre amigos, uma das mais ricas de minha vida!

Wesley PC>

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Rua de mão única

Gosto muito de Walter Benjamin.
Não é por pimbice não (risos). É mesmo por me sentir inapta tantas vezes a compreender quem escreve muito difícil. E Benjamin nao escreve difícil (ao menos sempre). Rua de mão unica, por exemplo, trás uma escritura leve, brincalhona, erótica, porque trata de coisas tão cotidianas, tão perto de nós de maneira táctil ou a apertar o botãozinho mais emotivo para mim que é o da memória. A relação que o moço traz com os livros é assim:

I. Livros e putas podem-se levar para a cama.
II. Livros e putas entrecruzam o tempo. Dominam a noite como o dia e o dia como a noite.
III. Ao ver livros e putas ninguém diz que os minutos lhes são preciosos. Mas, quems e deixa envolver mais de perto com eles, só então nota com têm pressa. Fazem contas, enquanto afundamos neles.
IV. Livros e putas têm entre si, desde sempre, um amor infeliz.
V. Livros e putas - cada um deles tem sua espécie de homens que vivem deles e os atormentam. os livros, os críticos.
VI. Livros e putas em casas públicas - para estudantes.
VII. Livros e putas - raramente vê seu fim alguém que os possuiu. Costumam desaparecer antes de perecer.
VIII. Livros e putas contam tão de bom grado e tão mentirosamente como se tornam o que são. Na verdade eles próprios nem o notam. Anos a fio alguém vais e entregando a tudo "por amor" e um dia está lá como corpus bem corpóreo, na ronda das calçadas, aquilo que 'para fins de estudo" sempre pairava somente acima delas.
IX. Livros e putas gostam de voltar as costas quandos e expõem.
X. Livros e putas remoçam muito.
XI. Livros eputas - "Velha beata - jovem devassa".
XII. Livros e putas trazem suas rixas diante das pessoas.
XIII. Livros e putas - notas de rodapé são para uns o que são, para as outras, notas de dinheiro na meia.

Dá para falar que essa pessoa não se relaciona com os livros de maneira erótica, sensual?
E isso me fascina, me faz saber das coisas. Porque simples, porque táctil. Ora, para um intelectual falar de livros: tudo bem. Mas, falar de putas e de forma poética, assim... Não, não é um estudo antropológico sobre prostituição. É uma relação. Bonita, feia, bruta, de poder, de igualdade, de necessidade, de amor... Uma relação. Assim como a com os livros.

Esse texto (Livros e Putas) se intitula "N. 13", a saber.
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E um outro texto desse mesmo livro (Rua de mão única) com o nome de "Estas plantas são recomendadas à proteção do público"traz algo que me fascina:

"Quem ama não se apega somente aos "defeitos"da amada, não somente aos tiques e fraquezas de uma mulher; a ele, rugas no rosto e manchas hepáticas, rospas gastas e um andar tortoprendem muito mais duradoura e inexoravelmente que toda beleza. Há muito tempo se notou isso. E por quê? Se é verdadeira a teoria de que a sensaçãonãos e aninha na cabeça, que não sentimos uma janela, uma nuvem, uma árvore no cérebro, mas sim naquele lugar onde as vemos, assim também, no olhar para a amada,e stamos fora de nós. Aqui, porém, atormentadamente tensos e arrebatados. Ofuscada, a sensação esvoaça como um bando de pássaros no esplendor da mulher. E, assim, como os pássaros buscam proteção nos folhosos esconderijos das árvores, refugiam-se nas sensações sombrias rugas, nos gestos desgraciosos e nas mdoestas máculas do corpo amado, onde se acocoram em segurança, no esconderijo. E nenhum passante advinha que exatamente aqui, no imperfeito, censurável, aninha-se a emoção amorosa, rápida como uma seta, do adorador".

Ai como gosto de ver o amor assim. E a beleza idem. Essa coisa táctil e verdadeira, que vai acontecendo, amadurecendo...O corpo é isso. Mas, não deixa de ser belo, desejável, poema e erotismo.

Para fechar a minha declaração de amor (e não de pimbice - mais risos) a Walter Benjamin e a seu Rua de mão única, deixo a dedicatória que ele fez do livro à sua amada italiana:

"Esta rua chama-se Rua Asja Lacis, em homenagem àquela que, na qualidade de engenheiro, a rasgou dentro do autor".

domingo, 1 de agosto de 2010

Canções de Baal

Sexta-feira, enfim, assisti ao Canções de Baal, de Helena Ignez.
Antes, ela prórpia, em terra sua - a Bahia- o apresentou. Estava com uma bata cor de goiaba e meias coloridas, dessas que lembram pinturas, parecem-se com tatuagens...
Na entrada da sala do TCA (Teatro Castro Alves), quando a avistei, não pude deixar de lembrar-me do filme do Sganzerla em que ela, roda a cidade, a gritar: "Eu não sou tarada, eu não sou tarada!", depois (ou antes) de repetidas frases de medo da velhice.
Ela era bela, jovem.
Hoje, seu rosto já envelhecido, guarda sinais de uma beleza sapeca e brehtchiana, avacalhadora da época daqueles filmes. E seu tamanho mignon faz com que nunca esqueçamos daquela Helena da Boca do Lixo.

Voltando das minhas viagens, ouvi uma garota falar: "O que é que o rock não faz com as pessoas, não é?". Falava, rindo-se muito, que encontrara Helena Ignez no banheiro  (antes da apresentação do filme) e olhou para ela e pensou logo essa coisa do rock, achando-a acabada, velha... E mais adiante, ironizou: "Será que devo esboçar alguma emoção, afinal de contas "fulano" me disse que ela teve uma importância tão grande pro cinema brasileiro...não, acho melhor eu ir fazer xixi".
Essa pessoa diz ter uma ligação muito forte com fotografia e vive frequentando cursos de cinema, etc.
Oquei.

Vamos ao Canções.
Terminada a sessão, é importante eu falar, eu disse: "Ufa! Valeu ter namorado Glauber, Bressane e Sganzerla, viu?".
Comentário machista, infame, piada sem graça. Era o dia de Helena (inda bem que ela não nos ouvia)!

Gostei muito do filme. Belo. Dionisíaco. Avacalhado, sem ser a fórmula do cinema da Boca. Leia-se: não é nostálgico, não é re-leitura de uma época. Não é o filme que a atriz desses tantos filmes das décadas dos 60 e 70 poderia fazer. E muito menos pode-se dizer que ela é um Bressane ou, mais ainda, um Sganzerla de saias. Apesar de o filme guardar um diálogo com Sganzerla sim. Esse que não só foi o grande amor da vida de Helena, mas um grande diretor de cinema do Brasil.

A arte é esplendorosa nesse filme de Helena Ignez. Os planos são de uma elaboração feliz. E Baal, cafajeste macunaimizado, que come as mais belas ninfetas é posto com tamanha sensibilidade para a gente que não dá raiva, que, ao contrário, emociona.

Como o filme se propõe um filme de canções, as músicas e versões cantadas por Careqa são uma mistura de nonsense e poesia, de tirar o fôlego.


Helena Ignez é uma atriz brechetiana e faz um filme em homenagem a Brecht. Assim, temos como primeiro plano a entrevista deste, em língua inglesa, dando satisfações aos americanos no Comitê de Atividades Anti-Americanas. E, todo o filme é permeado por essas falas e a todo momento, desse modo, somos chamados atenção para o absurdo da existência de comitês desse tipo à época e, consequentemente, somos levados a pensar nos resultados disso para nós, hoje.
Temos um Einstein interpretado por ator brasileiro que é espetacular ao nos fazer pensar a antropofagia cultural que arranjamos por aqui no Brasil e que perpetramos, agora, noutros moldes - e é esse o ponto do filme de Helena Ignez: ela fala dessa antropofagia hoje.
E, por mais que eu tenha dito que Baal é um cafajeste macunaímico, não podemos, por conta do colorido do filme, das sacanagens de Baal, da sedução deste, da preguiça e da boemia suas também, não podemos dizer que Helena não lança um outro olhar a todo esse processo que seja diferente do dos anos do cinema marginal.

E a estetização, a homenagem que ela faz a questão cinematográfica mesma, nos informa isso. Helana faz opções e segue um caminho que é dela própria. Isso é muito fortalecido nas aparições de Djin Sganzerla numa projeção de filme numa parede e nas aparições de Simone Spoladore no banho de cachoeira (vide a foto da postagem) e, mais adiante, num tipo de tanque, com águas esverdeadas, como se fosse uma tela (são as águas do cinema, sua fluidez atualmente debatida?).

Estou ainda em Salvador. Já já viajo. Estou cansadíssima e, por esse motivo, talvez não consiga atingir o ponto que eu quero falando de Canções de Baal se não for do jeito que sei falar de cinema, de filme que me deixa feliz em assistir: É um filme do caralho e que me deixou feliz. É bonito, é de uma sensibilidade singular e, para mim, guarda importância por ser dirigido por ela, que é uma das atrizes brasileiras que mais admiro.

P.S.: não poderia deixar de frisar que nas cenas iniciais, no encontro de Baal com figuras nada comuns, (doente, velhos, drogados, loucos, nus, degradados) bebendo champagne, a velha que abrira as portas para Baal aparecer no filme, para nós telespectadores, ela fala: "Não entendi nada". E, Baal, olhando direto para a câmara, ou seja, para o cinema ou para cada um de nós escpetadores, responde: "Se alguém que ouviu uma história diz que entendeu tudo é porque a história não foi bem contada".

Ui. Tome-lhe bofetada na cara dos que saíram da sala (porque sempre há essas pessoas, assim também aconteceu na exibição de Saló, de Pasolini, um cara saiu dizendo que para ver pornografia, viria na Internet mesmo) ou dos que se propõem a estudar fotografia, cinema, seja lá o que for e não sabem dar a devida importância a Helena Ignez. Ui, tome!
Se bem que teve gente que me respondeu, quando comentei isso ao vivo e a cores, que não era todo mundo que tinha a obrigação de gostar das coisas que eu gostava.
Como se eu tivesse impondo um modo, um gosto por achar estranho alguém desconhecer a existência de Helena Ignez quando se propõe a estudar cinema no Brasil.
Oquei.

P.S. do P.S.: a homossexualidade é abordada de maneira singular também aqui nesse Canções de Baal...

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Literatura erótica – uma conversa entre casal numa conversa de uma mulher



Eu descobri todas essas mulheres para você.
Todas essas com as quais você, agora, também vai para a cama.
Delta pubiano. Covinhas. Nádegas. Dobrinhas ondulantes. Pura gostosura, é?
Fui eu quem botou em sua boca todas essas palavras. E mel. Muito mel para adoçar e para lambuzar.
Sacanagens. Leitura que se faz com uma mão só, hein?
Se te apanham com esse aí, disfarçado em desenhos azul-vermelho... No trabalho, você está ferrado: ou tarado ou viado. Não tem outra.
E quanto a elas, ainda dormem comigo. Para sempre vão dormir. Acordam comigo. Andam de ônibus comigo. E quando me apanham a mim com elas em punho, junto, me olham como quem diz: “Essa aí, hein?”. Nem ligo.
Quando é homem deve imaginar: solteira? Deve tocar siririca toda noite. Casada? Tira o couro do marido, coitadinho!
Que pensem o que quiserem.
Estamos nós aqui agora. Nós e mais elas, todas elas esparramadas pela cama. Pois que nem demorou para que você se rendesse, né?
Meio que de fininho, noite dessas, você falou: é só para conhecer...
Depois, a pergunta: “quando você lê literatura erótica, sente vontade de se masturbar?
Riso de quem sabe muito bem o que se queria perguntar mesmo. Meto a mão embaixo do lençol. Compreendo que não errei no que pensei.
Apago a luz do quarto. A da sala, acesa. Gostamos os dois de olhar. O olhar é um hábito. Uma construção.
Depois de tudo, uma certeza: a literatura erótica não é para todos a bíblia nossa de cada dia.
Para mim, o é.
Apaguem suas luzes, por favor, pois que com amor ou sem amor pela literatura erótica, ela bem que foi feita, num bom bocado de vezes, para se ler mesmo com uma só mão.
Se isso a torna menor?
Nunca. Pois que engrandece, e como engrandece a tal literatura do tal tipo. Quer saber? Meta a mão por baixo do lençol e veja se estou mentindo!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

I
É bom que seja assim, Dionisio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora
E sozinha supor
Que se estivesses dentro
Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora
Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.

II
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.

III
A minha Casa é gurdiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência
E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.
A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?
VI
Três luas, Dionísio, não te vejo.
Três luas percorro a Casa, a minha,
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães
E fingindo altivez digo à minha estrela
Essa que é inteira prata, dez mil sóis
Sirius pressaga
Que Ariana pode estar sozinha
Sem Dionísio, sem riqueza ou fama
Porque há dentro dela um sol maior:
Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada, mais luzente e alta
Quando tu, Dionísio, não estás.
VIII
Se Clódia desprezou Catulo
E teve Rufus, Quintius, Gelius
Inacius e Ravidus
Tu podes muito bem, Dionísio,
Ter mais cinco mulheres
E desprezar Ariana
Que é centelha e âncora
E refrescar tuas noites
Com teus amores breves.
Ariana e Catulo, luxuriantes
Pretendem eternidade, e a coisa breve
A alma dos poetas não inflama.
Nem é justo, Dionísio, pedires ao poeta
Que seja sempre terra o que é celeste
E que terrestre não seja o que é só terra.

IX
           “Conta-se que havia na China uma mulher
   belíssima que enlouquecia de amor todos
   os homens. Mas certa vez caiu nas
   profundezas de um lago e assustou os peixes.”

Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo
Pensando
Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.
E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata
Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas.

X
Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa
E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.
Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Contando ovelhas – ou insônia danada, se vocês quiserem.



Ouço uma música bonita. Simples. Cantada em outra língua. Fala de amor? Não sei. A melodia me faz quase fechar os olhos e voar daqui. Para onde?
São ovelhas que conto para dormir. Ponho chapéu, laços, botas, pinto-as a cada uma de uma cor. Dou vida a essas minhas ovelhinhas. Serelepes algumas. Outras gordas, nem pulam. Apenas fazem méééééé e se mexem, ousadas, robustas. Gostosas, até. Gordura é sinal de formosura, meu bem! Pula, ovelhinha, pula! Não posso empacar no cem. Quero ir até mil, ouviu fofinha?
Fofinha é o caralho! Não vou desmanchar meu vestido assim pulando por causa de uma louca insone. Vou ficar aqui. Não me arrisco em cerca qualquer.
Volto do cem mesmo. Essa não pula nem a pau. Encontro ovelhas legais. Uma que viu um E.T. tem os olhos esbugalhados e parece doidona, tadinha. Feliz? Marijuana? Ou E.T. mesmo? Eu vi a luz. Era E.T., minha gente. Ela tem até a lã bagunçada, arrepiada, sei lá. Não, não é punk essa ovelha. A outra sim. Essa viu mesmo extraterrestre. E, por isso, também não quer pular, a desgracida.
Assim o sono não vem nunca!
Uma é gostosa demais par pular. A outra, é maluca, meu Deus!
Imagino que vou me deparar com uma ilustração do kama sutra quando chegar a ovelha de número 69.
Não. Mas, confesso que estava ansiosa. Mas, essa pulou rapidinho. Era bem normalzinha a de número 69... Opa! Pulou a cerca mesmo, MESMO! Vejo-a, a de número 69, do outro lado. Tinha uma cartola na cabeça e agora, agora ela está na posição que supus. Mas, não é do carneirinho a lingüinha ilustrativa. É de um sapo! Verde! Grande Gordo sapo de língua...todos sabem bem como é que é a língua dos sapos. Eles a lançam longe em busca de mosquitos, de moscas. E a simples ovelhinha soube bem me enganar e distrair! Essa foi a melhor pulada de cerca que uma ovelha poderia pular nas minhas insônias! Sapos são sapos com suas línguas e não são príncipes não. Danada!
Já pulei cem ovelhas. Cem não, noventa e nove. Noventa e nove não, noventa e oito. Por conta da gostosa e a doidona, né? A do 69 pulou sim e pulou feliz da vida ao encontrar um sapo de firme língua (ambígua).
De todos os tipos. As ovelhas. Quase todas as noites. As que não tomo diazepan. Com paz. Bonito nome diazepínico. Compaz.
Voltei as noventa e oito. Sempre assim: primeiro, cem da direita para a esquerda. Depois, voltam da esquerda para a direita. 1, 2, 3, 4...100. Então: 100, 99, 98...3, 2, 1.
Encontro cada ovelha nesses descaminhos, que só eu sei! Mas, agora, escuto uma música bonita. Simples. Cantada em outra língua. Fala de amor? Não sei. A melodia me faz quase fechar os olhos e voar daqui. Para onde?
Os olhos pesados, pesados. É uma ovelha. Com violão. Country é o que ela toca.
Voar, voar. Cadê a do E.T.? Meu Deus. Voar para onde?????????
                                                                                             

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A velhice - seria um comentário, pois que sem mais: virou postagem!



Antes de tudo: também eu estava afastada de escrever aqui, um lugar que também eu aprendi a gostar. Estive mergulhada em livros por conta do mestrado e aproveitando o feriado-quase-férias para dormir também até bem mais tarde.
Li o texto de Jadito e comecei a comentá-lo. Decidi postar porque no comentáio não rola de colocar foto e eu queria ilustrar o texto com uma foto (ô, mania) e também lá não tem a opção de colocar nome de livro em itálico, colocar corezinhas (e hoje estou fresquinha, fresquinha). E também queria motivos para escrever aqui. Andava ressabiada...
Enfim, abaixo o texto-comentário:

"A velhice é o meu tema (falo tema que estudo no mestrado, no livro da Alina Paim, a memória e a velhice de Teodoro, personagem de A sétima vez). Assim como a morte muito me interessa, mas ainda não tive impulso (leia-se: coragem) de estudá-la. Adoro Teodoro, o personagem da Alina Paim porque ele tem 67 anos e nem por isso deixa de viver e de lutar pelo que acredita defensável: falar na época da Ditadura Militar brasileira. Adoro a Hilé, da Hilda Hilst que também está velha. Gosto da Olímpia, personagem de Adélia Prado (Quero minha mãe) porque ela também tem mais de 60 e o livro é foda e ela busca na memória a vida dela toda e a vida dela no presente não deixa de ser interessante porque ela tem mais de 60. Adoro todo o A via crucis do corpo, da Clarice porque traz muitos personagens velhos. A velhinha que arde, que se masturba. A outra que se perde no Maracanã, masque se perde mesmo é na vida (essa de outro livro de contos que não o A via crucis...). Um dos livros "teóricos" que mais me encantou foi o Memória e sociedade - lembranças de velhos, da Eclea Bosi. Os filmes como Umberto D, como aquele Hamaca Paraguaya (que vimos juntos) e outros tantos que tocam nesse tema me encantam. Me encantam e me fazem pensar.
E penso nas coisas que você escreveu e que fazem todo sentido para mim.
E lendo agora Matéria e Memória e A memória, a história e o esquecimento: tudo isso faz muito sentido para mim, sim! Sentido e significado.
Também tenho a sensação de intensidade guardada na pele, na boca, em mim. E tenho pensado que isso da eterna juventude, de enxergarmos a potência só na juventude,  as possibilidades do sexo só na juventude é mais uma construção, assim como o é a sexualidade, etc.
Lembro-me, agora, para fechar, do que propôs Hilda Hilst às escritoras: montar um bordel geriátrico! Ela já imaginava Lygia Fagundes Teles de luvas sete oitavos, no caixa a receber a grana...
Lembra-se do "Teje presa", da Hildinha?
Envelhecer faz parte.
E o nosso velho Bukowski?
E o nosso velho e erótico Carlos Drumond de Andrade?
Fecho, de verdade, com um poema dele:

Amor e seu tempo

Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.