quinta-feira, 22 de julho de 2010

Meu paraíso

Sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca. (Jorge Luis Borges)
Por esses dias habitei numa biblioteca. Fugi de minha cidade natal segunda-feira à noite, depois de duas cervejas com uma amiga e depois (que veio antes bem antes) de perceber que eu estava pirando na cidade.
Precisava viver um clima de cidade de interior. Sair de casa e chegar aos lugares caminhando, sem precisar esperar e pegar ônibus. E precisava estudar. Lá eu não estava conseguindo me concentrar. Tudo era motivação para me desviar dos fichamentos dos livros e da escrevinhança do artigo para, enfim, encerrar o período letivo.
A Bicamp (Biblioteca do Campus de Itabaiana) tem um acervo legal. Nada mal. Especialmente o ainda não catalogado e, portanto, disponível apenas para consulta in loco.
Fui criada entre livros. Minha mãe trabalhava na sala de leitura da escola onde eu estudava. Ela estava afastada da sala de aula por conta de um calo na garganta. Por isso aquela voz dela rouca, grave, sensual.
E eu aprendi o fascínio de conviver com os livros, com suas histórias e personagens. E sempre imaginei o paraíso como uma grande biblioteca. Pois a sala de leitura era par mim, muitas vezes, fuga da sala de aula onde as coisas se davam de maneira monótona, disciplinar demais e amorosa de menos.
Na sala de Rodolfo (amigo que trabalha na Bicamp), mais livros: em processo de catalogação e outros para serem restaurados.
A idéia de restauração me fascinou como se eu tivesse de novo do alto de meus cinco anos de idade.
De repente eu era aquela guria loirinha e perguntadeira de antes.
Bombardeei Rodolfo de perguntas e ficava imaginando o processo de restauração dos livros como quase igual ao milagre da multiplicação dos peixes ou dos pães.
O fantástico se apossou de mim.
Imaginei as mãos que restauram livros. todas as mãos do mundo. O cheiro de papel e de cola. A paciência, a dedicação para a restauração. O milagre da renovação. O livro amarelado, poeirento, com páginas frágeis quase virando material para reciclar, sendo transformado, ajeitado, cuidado. Para, assim, continuar compondo as prateleiras das bibliotecas, para continuar sendo companhia da gente.
Imaginei a prática da restauração como uma prática amorosa que se faz devagar, com presteza e atenção.
Uma prática corpórea, sensual.
Os homens e mulheres restauradoras com seus livros nas mãos, sobre as mesas, ressiginificando-os. Soprando-lhes vida nova.

2 comentários:

  1. meu paraíso também é uma biblioteca...
    mas tem filmes também...
    e um homem lindo e inteligente para me atender...
    pra...ajudar...a...procurar...os os... livros e filmessssss
    e tem também caipirinha, que ninguém é de ferro ne?

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  2. Nina, sempre que leio sua biblioteca sinto-me entre livros belos e fluidos.

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