Na noite de ontem, li um dos livros que, emprestado por Yuri Fonseca com muito conhecimento de causa de minhas idiossincrasias mnemônicas e sexuais, tornou-se um dos meus favoritos: “Confissões de uma Máscara” (1949), de Yukio Mishima. Obra-prima autobiográfica, sadomasoquista e nacionalista em que, entre trocentas outras possibilidades e desvios narrativos, ele explica como tentava pensar em mulheres nuas quando se entregava aos seus “maus hábitos” onanistas. E eu lembro que já tentei pensar nisso também, mas não escolho quem me vem à mente numa hora destas: meus vizinhos mais insuportáveis, meu próprio irmão (que não acho bonito), minha mãe, mendigos sujos, cães e gatos, as criaturas mais diversificadas possíveis já compartilharam meu gozo solitário e repetitivo em noites de punheta. E como sei que subconsciente é algo que deve ser respeitado, não acho isso ruim não. Gosto muito, aliás. E agradeço ao Deus-aranha por tudo o que ele faz por mim, desde bem antes de eu nascer...
E, a fim de provar o que digo, abri o livro numa página completamente aleatória (juro: só fiz abrir e caiu na página 59 da edição do Círculo do Livro) e destaco aqui uma citação: “tendo resolvido uma vez que renunciara ao amor, afastei de minha mente todo pensamento posterior relativo a ele. A conclusão foi apressada, com falhas de percepção. Eu estava deixando de levar em conta uma das mais claras evidências que existem no amor sexual – o fenômeno da ereção. Por um longo período de tempo, tive minhas ereções e também me entreguei àquele ‘mau hábito’ que as incitava sempre que me encontrava só, sem jamais tomar consciência do significado dos meus atos”. Tem como não acreditar piamente em Deus – e amá-lo obcecadamente – depois disso?
Wesley PC>