Quando estou
A lamber-lhe o cu,
Imagino a infância
Ali :
Frutas chão quintais...
... línguas atrevidas...
Eu feliz.
Quando estou
A lamber-lhe o cu,
Imagino a infância
Ali :
Frutas chão quintais...
... línguas atrevidas...
Eu feliz.
Lendo o Cartas de um sedutor, de Hildinha (rs), me deparei, sem muita ênfase, com a sugestão que faz do livro de João Silvério Trevisan “Devassos no paraíso”. O livro da escritora já é bem delicioso e libertino, mas andando pela livraria como se a andar atrás de diversão, eis que se expõe para mim feito michê, o livro do Trevisan. Leio-o como se a beber vinho. Ao mesmo tempo em que se enrijece o meu pau, conheço coisas fascinantes, me introduzo em conhecimento sobre o “homoerotismo”, ou homossexualidade, ou homossexualismo (e aí, já não significam mesmo para mim a mesma coisa) de maneira nunca antes pensada por mim.
O Trevisan cita fatos históricos da época do Brasil Colônia muito relevantes e desmunhecadores. Quando penso que estou a ler um texto meramente acadêmico, de repente, estou molhado de tesão, ou mergulhado em revolta. E não apenas. Eis uma pequena citação de um livro de Conrad Detrez, escritor Belga que veio ao Brasil na época da ditadura militar prestar serviços de seminarista:
“Meu amigo me prendeu bruscamente entre suas pernas, abriu minhas nádegas, me penetrou. Urrei de dor. Minha carne, minha pele se rasgaram. Sangrei, gritei que o amava, que ele estava me matando, que estava doendo, doendo muito, e que eu me entregava. Meu esperma jorrou sob mim, meu sangue escorreu por minhas coxas. Dormimos, comemos, nos amamos num cheiro de sangue seco, de suor, vivemos dois dias numa mistura de lágrimas e de jogos, de carícias muito suaves e perigosas, sentados, deitados, em pé, cometendo todos os desregramentos, todos os excessos que nossa imaginação pudesse conceber, excessos que nos teriam levado à morte se o Carnaval não tivesse terminado”.
Bem, ainda não o terminei. Tenho, pois, muitas outras coisas a fazer... o livro é grosso e pelo que me parece fora atualizado para a reedição. A primeira se esgotou há mais de dez anos desde a publicação. Moral da história: não sirvo mesmo para disciplinaridade, com tanta coisa para estudar, acabo sempre me inclinando à devassidão. Adoooro.
... e os pensamentos iam-lhe como clareiras abertas na selva. Assim deviam ser os loucos, pensamentos-aberturas. Pensava na coisa secreta que o regia como maestrina a um concerto. Ele era tudo aquilo: violinos e tambores, cordas e metais. Ele era tudo aquilo mesmo: A DOIDA SINFONIA, SELVAS E CLAREIRAS. Aquela noite estava fria e daquele instante por diante nada mais se mostraria mesmo claro. Restava mais uma hora do violoncelo, mas decidiu ir. Sem casaco, pôs as mãos geladas dentro dos bolsos da calça, foi descendo a escadaria do conservatório desejando a noite. Do lado de fora, viu duas mulheres fumando, uma era a Marcela, a outra parecia ser nova ali baforando estranhas formas com a fumaça dos cigarros, parecia brincar. Ele pediu um, ascendeu e foi embora. A fumaça expulsa da boca subia e subia como que a se esconder no breu do céu. Se fosse cuspe, já teria lambuzado a barba e se derramado no plexo, desajustado que era até para cuspir. E também, querer fumar de uma hora para outra... Mas é assim, não é? Não, não é assim. De um instante para o outro é destruída uma estrela no universo. Foi de um segundo para o outro que a bomba de Hiroshima dizimou centenas de milhares. Mas... tudo tem uma história e isso é certo. Tudo aquilo era para tornar a coisa secreta em uma estratégia de vida. Estava mesmo aprendendo a lidar com cigarros. O melhor é que já não precisava mais dividi-los com ninguém, encontrara o caminho. Mas aquilo de fumar era complexo. Nada tinha a ver com chupar fumaça e só. Não para ele. Aquilo guiava-lhe ao definhamento das células e ao enegrecer dos dentes, ingênua e secretamente. Comprou uma carteira, puxou um ainda novinho. Sugou-o com as narinas. “Maravilhoso”. Ninguém está mesmo preparado para o repentino, todo mundo entende, todo mundo se conforta quando, aos poucos, as coisas mínguam: até que os dentes enegrecessem, até que magro e quebradiço, no fim, seu corpo se tornasse, ele fumaria os cigarros. Mas ninguém precisava saber. Melhor assim, melhor até mesmo que um suicídio convencional. Sem surpresas e desesperanças. Sem drásticas rupturas. Deixaria que o acontecimento de sua morte fosse como a aparição de um corpo afogado trazido pela corrente marítima. O corpo esquecido e transfigurado trazendo a insignificância da carne, e a corrente cedendo-lhe a visibilidade: o corpo codificado pelo oceano. A morte, matéria-prima do esquecimento. A corrente era o segredo do oceano. Vastos e profundos mares codificados. Vezenquando corpos na praia como fogos de artifício, como os vaga-lumes de Braudel na escuridão. A passagem do livro era essa: “quando penso no indivíduo, sou sempre inclinado a vê-lo como prisioneiro de um destino sobre o qual pouco pode influir”. Leu e tentou fingir que era devaneio intelectual, riu um pouco ainda. Fazendo-se de desentendido chupou mais um cigarro, os cientistas diziam que era um dia a menos. Eis que ali estavam a fragilidade do indivíduo e o poder da sua consciência. Um dia, fogos de artifício anunciariam algo, a escuridão predominaria para além do brilho do belíssimo espetáculo dos vaga-lumes e o corpo insurgiria nas ondas.
As sílabas e as vírgulas
Reluzem como setas sinistras
Revelando teu beco, tua pica.
Com gosto na boca de seu cu,
Entreteço as palavras,
Esse caminho de amargura.
Enrola em meus dedos
A rubra língua maldita,
Demoníaca criatura.
Tua bunda é um vale e eu sou
O PÁSSARO.
Entorna tuas águas em mim, entorna,
Diabo!