sexta-feira, 18 de junho de 2010

Epifania, Literatura, Besteira e Gargalhada - quase uma paródia de um texto espetacular de Tiago esse título, não?


Desde os doze anos de idade eu fui fisgada pela escritura de Clarice Lispector. Nada intelectual. A coisa se deu da maneira mais táctil e sensível possível. Deparei-me com Água Viva e o li no quintal de casa. Ao terminar o livro eu sabia que um eu feminino escrevia para um tu masculino. Que esse eu era pintora e agora lidava com as palavras e que sentia o domingo parecido como eu sentia.
Eram as impressões de uma menina de doze anos.
Não larguei mais Clarice e as relações foram se dando sempre de maneira mais complexa. Até que decidi fazer o curso de Letras.
A relação com a obra da minha então escritora preferida não mudou. Continuava amorosa. Ela não era meu objeto de estudo e quando o foi, não me afastei. Pelo contrário, a aproximação era sempre e cada vez mais significativa.
Por esse motivo, deixei-a guardada só para mim e estudo hoje uma outra escritora que me emociona muito especialmente com a escritura do livro que se fez objeto do projeto de Mestrado. Ela é Alina Paim e o lviro é A sétima vez.
Acho que não consigo estudar de maneira mecânica. Para mim se faz necessário haver paixão.
A obra de Clarice Lispector e a de Alina Paim são plenas de construções linguísticas próprias, reforçadas por uma estrutura sintática peculiar, capaz de, simultaneamente, encantar e envolver o leitor em um universo linguístico e poético renovando conceitos de leitura.
Sabia eu que as obras de Lispector geralmente focam a epifania, traduzida em momentos de revelação, em que determinado personagem se defronta com a verdade.
Aliás, esse foi o tema da monografia que escrevi para concluir o terceiro período do curso (estranho, não é? Mas, foi isso mesmo: à época, não rolava TCC no curso de Letras aqui na UFS e fizemos monografia como uma tipologia textual na disciplina Produção de texto III).
Não me envergonho do que escrevi, uma vez que eu era semi-caloura à época.
A vida continuou. Os períodos foram se sucedendo. Concluí o curso e hoje estudo essa outra autora, sob um outro viés: o viés da memória.
Daí que de repente pensei: não é que há e muito de epifania nesse A sétima vez?
Também Teodoro (personagem principal do livro) é exposto a um acontecimento, que ele denomina de fenômeno, que muda sua vida, que o faz conhecer um tipo de verdade. Apesar de que todo seu envolvimento com esse tal fenômeno está ligado á duras questões como a Ditadura Militar brasileira, etc.
Não vou desenvolver à exaustão esse pensamento. Talvez ainda o faça por gosto para apresentar algum trabalho.
Agora, só fico mesmo feliz com o descortinar do pensamento à caminho da padaria.
Hoje já vivi ápices de sentires (vulgo raiva mesmo). Agora, me diverti para caramba com uma última espiadela no que mais me chateou e ri. Ri. Ri muito e tanto, que lembrei-me dessa denominação: epifania.
O descortinar de uma verdade. Um momento que transforma. Não aplica-se ao que citei agora que me fez rir, mas sim às duas escritoras.
E, assim, fico feliz de verdade.
Termino o dia às gargalhadas com a besteira que me fez rir de verdade e à bessa e feliz em ter percebido essa ligação entre duas grandes escritoras que estão comigo sempre.

3 comentários:

  1. Fico sempre contente ao perceber o quanto estes "eu femininos" te fazem ainda bem, contribuem tanto para que sejas estas MULHER encantadora que és, esta pessoa que me faz gemer e gozar...

    Amo-te, tal qual Clarice e suas demais bases literárias bocetudas!

    WPC>

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  2. A paixão para mim é determinante, como não se apaioxar por Clarisse e esse monte de bucetas?

    Ninão o riso é arma realmente das fortes!

    BEIJOS

    JT

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  3. A Clarice sempre esteve pertinho, ali. Quase todos os dias tinhamos um momento de gozo que produzia esta súbita sensação de realização ou compreensão do significado de algo. Não conheço a Alina Paim, vc podia apresentar-me?

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