quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Da coisa pública

Meu celular está quebrado. Não ouço as pessoas, apesar de elas me ouvirem muito bem quando me ligam ou quando eu ligo para elas.
E entre ontem e hoje eu precisava urgentemente resolver um assunto que não é simples. Envolve muitas outras coisas. Sentimentos. Os dias têm sido difíceis há tempos por conta disso. É tocar numa ferida que não se fechou ainda.O processo de transportar os ossos de minha mãe do cemitério daqui para o cemitério da cidade de Propriá é um assunto que fragiliza e me coloca diante de um mundo duro, que se importa apenas com dinheiro e onde questões de vida e de morte viram meros comércios.

O fato é que entre ontem e hoje precisei usar o telefone para falar com taxista para fretar carro, para falar com as pessoas responsáveis pelos dois cemitérios das duas cidades. E tudo isso em frangalhos, mas tendo que ficar forte, pois deve-se engolir os choros para falar com essas pessoas...Afinal de contas, é o dia-a-dia delas e elas não compreendem muito bem.

Não tendo telefone fixo, precisava de orelhões. E eis que começaram os martírios adicionais. Em quase todos os orelhões que fui, no centro da cidade, quase nenhum deles funcionava. Depredação total.
A cada tentativa, eu me sentia mais desamparada. A sensação era essa. Desamparo. Enfim, consegui resolver depois de oito tentativas.
Quando entrei no ônibus para voltar para casa, notei chicletes no lugar onde as pessoas se apóiam, na barra onde os passageiros colocam as mãos. Imaginei o quanto deve ter parecido divertido ou "coisa de gente revoltada" para quem fez aquilo.
As pessoas já não se incomodam com as outras há tempos. Mas, o processo já tem ficado acéfalo. Orelhões públicos, barras de ônibus são coisas que todos nós usamos. Inclusive as pessoas que depredam podem precisar um dia, uma noite, numa ocasião qualquer. Ainda que isso possa parecer difícil de acontecer para elas.
Mas, o sentimento de ser super-homem, super-mulher, super-humano tem sido cada vez mais forte. O que fazer? Enquanto as dores forem de cada um e pronto, será sempre assim. Processo crescente de acefalia, depois de um já conretizado processo de petrificação do coração...

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