domingo, 15 de agosto de 2010

Pães Mofados


Roçava na parede as costas tamanha a gastura dos ratos na cozinha. Há um ninho, imaginava. Atrás do armário. Os piados eram de fome. As mãos para tapar os ouvidos. Os olhos cerrados. Mas também era culpa dela aquela presença nojenta. Os pratos e talheres sempre por lavar, jogados na pia. Migalhas de biscoitos, restos da janta, os pães esverdeados do último café da manhã que preparara sobre a mesa.

Ele não suportaria mesmo uma vida com ela. Descobrira isso em um sábado em que os dois faziam o supermercado. Na fila, ela o olhava sem que ele percebesse através da jarra de suco que fingia querer comprar. Também, tinha que admitir, não suportaria alguém como Afonso, só o fazia porque era ele.

Um piado esganiçado ouviu para estremecer-lhe todas as células do corpo. "Ela pariu mais um, essa ratazana maldita! essa ratazana maldita!" Espatifou os pães, em cada pedaço um pouco de veneno. Olhou-os como solução. Mas não para ela, para Afonso, ele sim merecia comê-los.

3 comentários:

  1. Coincidência das coincidências: Nina ontem lembrou que eu já comera queijo mofado (alimento de ratos) na casa dela... Um sinal?

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  2. (risos)

    Deus tomara!

    PS: baixei o CD da Rita Ribeiro. Comecei a ouvir mais cedo. Amanhã digo o que achei...

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