terça-feira, 13 de julho de 2010

Sobre entendimentos, sentimentos e revoluções.


Discutíamos no Tribus, um barzinho esquisito (no mal sentido) da cidade, para o qual roda e vira, vira e roda damos as caras. Falamos de música de mulheres cantoras. Conversamos sobre Elis e sobre Gal. Lembro que Wesley Soares e Jadito defendiam a postura de Gal Costa nos primórdios de sua carreira e eu lembrando aos dois o fato de que a Elis manteve-se coerente até a morte... No mesmo fim de semana, na manhã do mesmo sábado ouvi “Dois pra lá, dois pra Cá”, um tango brasileiro composto por João Bosco e Aldir Blanc, cravado em minh’alma pela voz de Elis Regina. Uma música-mulher como a já mencionada aqui por Ninete, Atrás da Porta.

De fato conheço pouco da Gal e se Jadito e Cintinho dizem de suas qualidades eu acredito de olhos fechados, mas sabem o lance do sentir, do sentimento...? foi a isso que me apeguei na vida e é a isso que me apego nos últimos dias... (lembro aqui do poema Ensinamento da Adélia Prado, postado por Ninete, essa provocadora de minh’alma-perturbada – eis a minha essência, Jadito (rsrs): “(...) a coisa mais fina do mundo é o sentimento”.

Entender, entender, até entendo algumas coisas, disso, daquilo, mas para que essas coisas saiam do estado de coisas e consigam um status de relevância dominante eu preciso antes de tudo senti-las. Assim, as reconheço. Só assim farão diferença para mim. (estou agora me confessando ideologicamente) Elis, Elis, por que Elis? Por causa do “Band-aid no calcanhar...” que só ela tem o tom certo para dizer isso para mim. A questão aqui é: Por que devo entender antes de sentir? Dentro de mim, em algum lugar entre os meus pensamentos essa “ponta de um torturante” me causou revolução, sem claros entendimentos, mas sem dúvidas de que sou outro.

Água Viva de Clarice Lispector, em cima da cama, me emprenhando e me fazendo parir ali mesmo, uma interpretação de Elis Regina e eu tod(a) confus(a), esse poema de Adélia Prado, os desejos e os sofrimentos da minha mãe doados em sacrifício ao deus-Família. De nada tenho limpo entendimento, mas condenso tudo isso e faço a minha revolução.


Em homenagem à Ninete e às vaginas pulsantes desse mundo:


Dois Pra lá, Dois pra cá

Composição: João Bosco e Aldir Blanc


Sentindo frio em minh'alma
Te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava
São dois pra lá, dois pra cá

Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô
Tremia mais que as maracas
Descompassado de amor

Minha cabeça rodando
Rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
E não me pergunte mais

A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quanto tempo rondaram
As minhas noites vazias

No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante
Band-aid no calcanhar

Eu hoje me embriagando
De whisky com guaraná
Ouvi tua voz sussurrando
São dois pra lá, dois pra cá.


T.

2 comentários:

  1. Nossa! Estou entre sempre embasbacada com teu jeito de escrever e emocionada com a homenagem direta a mim! Como é bom compartilhar sentires com você que funciona como um mim. E nunca, nunca esqueço da vez que postei Elis aqui com confissões apaixonadas pela música dela e pelo estilo dela e você na mesma hora falando que estava a tentar o dia inteiro postar a mesma coisa, o mesmo trecho, a mesma Elis. Bom isso né? Inexplicável. Sentível. Pulsante. Nas vaginas e no corpo inteiro.
    Beijos.

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