Eu quero é ir embora, eu quero dar o fora...
Um dos muitos pontos do filme O céu de Suely que me emociona imensamente é quando Hermila chega num guichê de rodoviária e pergunta algo similar ao título do post.
Sinto uma tamanha identificação com aquele filme. O nordeste de plástico, as paisagens grandes, quase desérticas, os caminhões que passam, a cidade pequena, que mais parece cidade de passagem, cidade de não ficar. As motos que tomam o lugar das carroças. O video game e o calor.
O espaço é o espaço reconhecível por qualquer pessoa que foi criada em cidade do interior que nem é sertão brabo nem é capital. É lugar nenhum. É entre-lugar. É reentrância. É passagem e, tantas vezes, é prisão.
Há uns dez anos, eu e minha mãe, montamos num caminhão, com mudança e tudo e viemos para Aracaju. Não era o lugar mais longe, mas a sensação era quase a da moça do filme.
Era, para mim, uma fuga e era a esperança de um outro lugar.
E, aqui, as coisas foram acontecendo, se amontoando, e eu tantas vezes me perdi de mim. E tanto isso aconteceu que eu vivo pensando nessa possibilidade: "qual o lugar mais longe para se ir?".
Por essas e outras sensações é que tantas vezes compreendi o fato de muitas vezes a gente criar esse lugar longe mesmo sem sair do lugar que se está. É o famoso sótão do qual já falei tantas vezes. A gente não viaja, não sai do chão, mas é como se assim o fosse.
Tem gente que chama a isso de loucura, delírio. Outros usam eufemismos e comentam: "como aquela pessoa é aérea, voadora".
Uma escritora de quem gosto muito, certa vez escreveu sobre uma velhinha que se perde no Maracanã. Num outro texto seu, ela traz uma parte desse texto da velhinha e termina assim: mas, deve haver uma sa-í-daaaaaaa.
Não sei se há.
Eu sou labiríntica. Tanto quanto a velhinha de Clarice no conto. Mas, penso muito como Hermila do filme. E me riu quando ouço "Um lugar do caralho" gritado por Wander Wildner. Outros me dirão: você é utópica.
Não. Eu não sou nada. Nonada.
Mas, tudo o que agora quero é pegar um ônibus e ir para um lugar, perto ou longe. De preferência um lugar de interior. Quero aquele clima.
Vou ganhar estrada. Disso sei que preciso.
Porém, até isso é difícil.
Talvez queira eu agora, ir-me embora para Pasárgada, oh Bandeira querido!
ue me identifico com esse filme todinho, mas este com certeza é um dos momentos mais marcantes...
ResponderExcluircomo também a cena inicial com aquela música breguinha de saudade, ou a estrada com a placa Aqui começa a saudade de Iguatu :~~
Eu adoro esse filme.
ResponderExcluirA ideia de se rifar é MUITO forte.
tantas coisas, tantas questões, fora
aquele céu de matar...
ai ai
me identifiquei com tudo!