quinta-feira, 22 de julho de 2010

Não há luar como esse do sertão...

Dia desses, fui a um sítio localizado em um interior  em Itabaiana (portanto, bem pertinho de Aracaju) chamado Sambaíba.
Lá, passei toda a tarde e um bom pedaço da noite. Comemos amendoins colhidos e cozidos assim: na hora. Jogávamos as cascas na terra e sabíamos que as galinhas e as cabras viriam comê-las.
O tempo era longo, desmanchado, lento. O feijão verde do almoço foi colhido e cozido da mesma forma. O limão, a laranja, o maracujá para a cachaça: idem.
Os cheiros característicos: fortes ou suaves demais inebriavam. O barulho do vento nas árvores, nas plantas descansava os ouvidos acostumados a barulho de carros, a buzinas e freadas.
Quando a noite veio, no céu a lua era minguante. Mas, nem por isso, menos faceira. Bonita, tomando forma, mais parecia adolescente que procura seu lugar no mundo, que procura significar uma nova corporeidade que simplesmente lhe toma.
A noite trouxe outros sons. O coaxar de muitos sapos, as cigarras, os grilos. Os sapos pareciam uma grande comunidade de políticos que discursavam, que debatiam assuntos comuns e importantes.
O vento frio, criava um clima agradável.
E, depois de tanta cachaça, esquentamo-nos com café. Puro. Cheiroso.
Eu não queria mais sair de lá.
E ainda tinha a presença de Zé Arnaldo. Caseiro do sítio. Sua mulher, arredia, dessas "envergonhadas", como eles dizem, passava sempre muito longe, distante, olhando de soslaio.
Mas, Zé Arnaldo ficou entre a gente e conversava muito. Contava suas aventuras da época em que bebia muito e, que uma vez bêbado, virava valente, queria brigar com todo mundo.
Zé Arnaldo começava com o 21 e depois "rebatia a bucha" com cerveja.
Ameaçava a mulher, dava murro no dono do bar. E, no outro dia, Zé Arnaldo não lembrava de nada. Contavam-lhe suas astúcias e ele ia, envergonhado, pedir desculpas.
Foi uma tarde boa.
Quando fomos embora, passamos por um caminho de terra molhada. O carro que nos levara havia atolado na frente, na porta do sítio e fomos escorregando, afundando os pés na lama até lá. Em fila indiana: eu, Rogério, Paulo, Fernanda, o casal que nos recebera e Zé Arnaldo.
Zé Arnaldo nos ajudava, segurava as nossas mãos, apoiava moralmente na travessia.
Durante a tarde toda, notei uma tatuagem em seu ante-braço. Quis perguntar, mas fiquei encabulada.
Quando nos despedimos de verdade, percebi um nó em minha garganta. Eu sentiria falta de Zé Arnaldo. De sua magreza, de sua solicitude, de sua amizade.
Zé Arnaldo dividira uma boa parte a vida dele comigo, num alpendre do sítio. De sua viagem à Salvador, de sua infância, de seus estudos até a 4ª série, de uma cadelinha que ele teve e que se chamava Bolinha.
Zé Arnaldo me contou o seu grande sonho: comprar uma casinha.
Disse-lhe adeus com um sentimento de perda.
Na estrada, de volta, olhava o breu ao lado. Sentia o cheiro forte da mata. Coloquei a cabeça para fora da janela do carro e olhei o céu. Azul escuro. Cheio de estrelas. Todas elas tão coladas, meu Deus.
Lembrei de minha mãe. De minha infância. E pensei: Zé Arnaldo, será mais uma lembrança querida. Dessas que a gente não fala, mas sente.

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