segunda-feira, 28 de junho de 2010

Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos (Ana Paula Maia)

Sem quê nem pra quê andava entre os livros da escariz, sabendo eu muito bem que não posso ler agora outra coisa que não os livros do mestrado. O tempo é pouco e custa muito caro na minha condição. Quando já estava me despedindo do “Aberto está o Inferno” do Antônio Carlos Viana, decidindo deixá-lo para outra oportunidade, vi de relance o “Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos” da Ana Paula Maia. Lembrei-me que o próprio Viana a havia apresentado rapidamente na UFS, e aí não pude resistir, mesmo vagas as palavras dele, elas borbulharam naquela tarde: recordei “ralo”, “trabalho sujo”, “porcos”... reconheci-me entre as lembranças. Catei ambos os livros. Por curiosidade abri o da Maia.

O livro é um pedaço de carne podre. E não faço idéia da origem da carne, se humana, se não humana, se de porcos ou de cachorros, mas estranhamente viva e podre. O livro fede e é gelado. Tudo me veio em imagens e sons e sabores e odores nada agradáveis. E viciosamente cativantes. O único livro que havia lido em uma tarde fora “A Obscena Senhora D” da Hilda Hilst. Essa guria, a Ana Paula, lançou-me um gancho, desses que penduram porcos abatidos.

Lembro de uma conversa que tive com Jadito, em sua casa, no café da manhã. Eu dizia: só posso imaginar... só posso imaginar... Bem, lendo-o eu imaginei, senti cheiro de putrefação e carne fresca dilacerada, de miséria, de miséria e de miséria humana e de todo aquele que sustenta a condição de estar vivo.

Esse livro é composto de dois textos, o que o nomeia e um outro chamado “O Trabalho Sujo dos Outros”, ambos jogam a vida de personagens que em meio a miséria que os rodeiam e de dentro da miséria de suas próprias vidas, pulsam infelizes e rancorosos, mas sobretudo pulsam. Amam, odeiam e pulsam. A dor e o sofrimento, seja de porcos ou homens, perderam-se entre as imundícies desse mundo. Vença o que melhor souber se defender, sem méritos. Os homens matam os porcos, os porcos comem os homens e os cachorros, em condolência, comem as carnes de seus “donos” já cadáveres.

Se quiserem e puderem, leiam.

2 comentários:

  1. Com esta indicação tão visceral, sinto-me mais do que intimado a lê-lo... Deixa só eu passar pela Escariz de novo...

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  2. Vou dar uma olhada. "Curioso". Ah, sim. Dá um pulinho no meu blog: http://catalisecritica.wordpress.com. Se possível dê uma lida no conto "O Pai dos Pobres". Valeu.

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