domingo, 5 de junho de 2011

Kierkegaard X Platão: Jafar Panahir


Nas migalhas filosóficas Clímacus(Pseudônimo de Kierkegaard) propõe uma investigação do modelo grego e do modelo cristão de apreensão de verdade. No primeiro modelo o Mestre é a ocasião, já que a verdade se encontra adormecida no homem, bastando que a desperte através de "perguntas certas". O Instante que isso ocorre não é decisivo, logo este Instante é reabsorvido no tempo. Tal Instante ocorre em um movimento de acesse que eleva o discípulo num dado grau inferior para o superior.

Num certo sentido esta teoria denominada de "Reminiscência" na filosofia socrática/platônica, abre espaço para uma dimensão de subjetividade nos gregos, talvez, tal termo seja inadequado e pareça até equivocado ou mesmo anacrônico. Contudo Michel Foucault, já contrariava toda uma tradição filosófica e apontava certa dimensão no indivíduo grego, apesar dos gregos confundirem sua identidade com a do Estado, ou seja, não há formação de uma identidade privada sem o Estado,ou ainda o individuo era formado para o Estado. mas isso é outra conversa!

No modelo teórico experimental apresentado por Clímacus, o Discípulo não possui a verdade em si, ela está apartada dele. Só o Mestre é capaz de proporcionar as condições e levar verdade ao discípulo, ele sozinho nada encontrará, ou seja, não há condições de possibilidade para o homem encontrar a verdade por seus próprios esforços, ele estará sempre condenado no mundo, só quando o Instante for Decisivo, quando o eterno irromper no tempo, ele poderá assim encontrar a verdade, é por isso que o modelo cristão é um escândalo para a razão , um paradoxo, uma loucura, está fora do movimento lógico da ascese platônica, pois o movimentodo mestre do cristão é de esvaziamento e rebaixamento, pois, no Instante ele apresenta-se como um igual , ou seja, a verdade que é eterna, precisa alcançar o homem numa dada temporalidade e se apresenta em condições de igualdade com a não-verdade.
Tal discussão sobre a verdade e a apreensão dela me levou a fazer uma certa leitura do filme o "O Espelho" do Iraniano Jafar Panahir, que na minha modesta opinião celebra um seleto clube de gênios contemporâneos do cinema. Neste filem absolutamente inquietador, sobre uma menina que se perde ao tentar encontrar o caminho para casa, depois que sua mãe não vai buscá-la na saída da escola e passa por uma verdadeira odisséia na tentativa de reencontrar a sua casa. O diretor numa dada altura do filme começa a questionar a validade de sua denuncia enquanto portador da verdade deixando para os espectadores a dúvida, não quero estragar a surpresa do filme aqui, mas posso adiantar que mesmo que ele proponha ao espectador a decisão se o que mostra é ou não verdade. Necessário, aqui, lembrar que ele conduz o filme do inicio ao fim, a verdade está nele queiramos ou não, portanto, cabe a nos decidirmos se ficamos com ela ou não. E tal decisão é dada também por ele, então fica a pergunta: a verdade é algo que está em nós ou é mesmo algo decisivo no tempo e levada a nós por um mestre?

Um comentário:

  1. Jafar Panahi surpreende sempre!
    Fico no aguardo do filme para comparar com as teses que tu resumiste...
    (risos)

    WPC>

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