sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sobre os rios de negras águas

Tenho as mãos trêmulas de muito frio, muitos cafés e cigarros. E de muita fartura de vida.
Cansam-me os intelectuais. E cada vez mais me encantam os livros.
Sempre gostei dos interlocutores silenciosos, meio mudos. Por esse motivo, tanto falo com portas, janelas, plantas e pássaros. E com os espíritos que quando zombam de mim, ainda assim o fazem em mudo silêncio.
Está frio e ela chega de moto. Usa jeans, casaco e botas. Tira o capacete. Seus cabelos não são longos. Sorri francamente. Também com os olhos. E é bela.
Mergulho em mim e fujo.
Sei que mergulharia em outros lugares, outros rios. Mas o rio, os rios ficam dentro de nós. Acostumamos com suas águas. Ainda que sejam negras. Ainda que sintamos medo. E o meu rio (de medos e de alegrias) não está aqui nesta terra de frio, nem nestes olhos de riso.
E é por isso que eu fujo. Fujo de lá e fujo de cá. E caminho, sozinha, por entre meus mudos interlocutores, a falar e ouvir noutra linguagem que não apenas a verbal.

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