domingo, 17 de abril de 2011

Nossos pelos pubianos ( parte I )




Ver todos aqueles parentes me deu agonia. Nunca pensei que Luiz fosse tão popular na família. O choro corria frouxo ao redor do caixão. Eu não chorava nem saía do lado dele. A possibilidade da chegada de Maria era uma coisa que me aturdia. Maria era a outra, todos sabiam, creio que até a viúva, que àquela altura dormia à base de remédios. Mas ninguém parecia pensar nisso, só eu. Já estava exausto com aquilo. Em silêncio, com os olhos vermelhos de ódio, eu dizia a ele que acabara com minha vida. Se Maria entrasse por aquela porta a primeira coisa que iria fazer era reivindicar aquele homem. Eu não suportaria ver. Se tocasse naquele caixão, eu mataria aquela mulher como quem mata uma galinha. Seria um escândalo, mas eu já não me importava com nada. Minha vida nunca tinha sido discreta mesmo! A minha vida, desde quando o conheci, se transformara em um inferno de luzes. Todo mundo falava na rua que o viado da 17 era apaixonado por Luiz e que não fazia força pra esconder. Eu lembro os retalhos. Eu lembro as flores multicoloridas que eu pregava, uma a uma, na longa saia, na velha blusinha de mulher que ele pedia pra que eu vestisse. Eu vestia. Até a calcinha eu vestia, eu não me importava. Eu costurava, endireitava as roupas e a dona achava que era pra ela. Se eu fiz alguma coisa pra alguém daquela casa, eu fiz pra Luiz. Foi pra ele que eu aprendi a adornar dilacerações.

Um comentário:

  1. Os meus pelos pubianos me doem na cabeça de cima do pescoço e eu não sei costurar, mas levo jeito para consertar canos. Sou mulher, afinal.

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