quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Óculos de Carnaval

A cidade amanheceu eufórica, animada com o carnaval que se aproximava. No bairro em que eu morava só se ouvia as risadas das crianças nas ruas. Curioso com todo aquele labafero, eu fui até a janela. Foi quando as vi encantadas e perdidas nelas mesmas. Um menininho parecia rir de nada sentado no degrau de uma casa velha de esquina. Ele usava óculos de lentes coloridas. A lente direita era verde-clara, um verde vivo. A esquerda era vermelha, de uma tonalidade bem intensa. Falava sem coerência alguma umas palavras estranhas. Virava e revirava as mãos na frente dos olhos e ria. Ria como quem acabara de descobrir o mundo bicolor, cheio de seres bicolores e engraçados. Nada parecia ouvir além dos sons do mundo que descobrira. De dentro da casa surgiu uma mulher de vestido encardido, praguejando e gesticulando com as mãos de um modo contundente. Estava quase que a correr. E de uma vez, arrancou do rosto do garoto os óculos de carnaval. O mundo fez-se de todas as cores, de repente. Atordoado, fez uma cara de estranhamento, bem ligeira. E, quase que imediatamente, pôs-se a rir novamente. Arrastado pelo braço ele continuava a rir e a conversar com o vento, balbuciando aquelas palavras esquisitas. A porta bateu seca.



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