sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O cuscuz do dia-a-dia

Em matéria de mei doido
Eu me sinto mais ou menos
Dei com as palavras no palco
Feito um Biu de paletó
Severino pra platéia.
Usei palavras plebeias
Que nunca puderam entrar
Em discurso ou poesia.
Palavras soltas, baldias
Daquelas só disponíveis
Nas últimas nuvens do céu.
Conversei com flamboaiãs
No puro flamboaianês.
Despejei cachos de lágrimas
Pros versos de Assaré.
Beijos de rapadura
Pro vozeirão de Luiz
Sofri adivinhaduras
No sertão do pensamento.
Senti, naquele momento
Que isso era um fazimento
Democrático feito jeans.
Sem rodeio e sem pantins
Sem nhenhenhém, sem besteira
Fiz de velhas cuscuzeiras
Um gordo baú de flandre
Forjado em Campina Grande
Com três tons de serventia:
Deixar minha poesia
Meu verso e meu converseiro
Com textura cor e cheiro
Do cuscuz do dia-a-dia.
(Jessier Quirino)

P.S.: Lembro-me de quando estive em Brasília, uma garota, de repente falou em cuscuz. Era tarde da noite. E ficamos querendo comer cuscuz. Cheguei a sentir o cheiro do cuscuz. A boca salivando. A memória também é olfativa.

2 comentários:

  1. eu gostei, eu não conhecia,e agora quero ver viu!!!!!!! beijitos

    Jadito
    saudades

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  2. É uma espécie de codificação. Puta merda como gosto disso. Espécie de ousadia instintiva. Falo Caju porque é o que tenho e se não tenho invento. É claro que só temos memória de tudo o que antes vimos/sentimos, mas juntar tudo vai além. Talvez nada tenha a ver, mas fiquei impressionado como um dia desses vi algo como o que te ocorreu em Brasília. Estava vendo umas senhoras apresentando um pastorio, eu ria muito porque tinha umas velhinhas fora do comum e elas cantavam uma música mais ao menos assim: "Borboleta pequenina venha para nos saudar , venha ver cantar o hino que hoje é noite...". Já vi uma vez gente do Rio de Janeiro cantarolando essa música e aí já com novas ou antigas palavras que permaneceram ou ficaram através dos tempos, não sei...

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