segunda-feira, 15 de novembro de 2010

RELIGIÃO QUE FERE E GOZA – PREÂMBULO DAS CONFISSÕES ADICIONAIS

O texto confessional mais detido ainda está em processo, mas tenho que colocar para fora uma descoberta pungente no que tange à minha subsunção à conversão religiosa proto-institucional: por estar apaixonado por um católico tendente ao silêncio, fui vítima do silêncio na noite de hoje. E silêncio é algo que me fere como quase nada neste mundo, quem me conhece sabe! E, neste silêncio de impaciência, sentei em frente à minha casa e passei a ouvir “Passos no Silêncio” (1998), da irmã Kelly Patrícia. Dádiva gozosa!

Quando levei este disco para a casa de Jadson, sorrimos um tantinho diante do fervor extremado da cantora diante de seu objeto de adoração, Javé em sua face mais possuidora. Mas, conforme o próprio Jadson anuiu, ela é uma artista interessante, visto que divulga suas melodias neo-medievais como se estivesse no píncaro do século XIII. Basta passar os olhos pelos títulos e enredos das canções deste disco: “Esposo Adorado” (sobre o “casamento” com Jesus Cristo), “O Êxtase de Santa Tereza” (sobre uma pletora de santos convocados para encontrar uma chave perdida “à beira do claustro”) e “Solidão” (um dos “momentos prediletos” da cantora) são exemplos mais do que suficientes para estudar a devoção quase patológica – logo, divina e maravilhosa – desta freira legítima, que vive numa espécie de comuna semi-vegana em Fortaleza. Recomendo que os leitores deste ‘blog’ pesquisem sobre ela.

Mas, como estou aqui para “anunciar a boa nova”, segue a absurdamente genial letra da última faixa deste ótimo disco, “Vivo Sem Viver em Mim”. É quase um convite ao suicídio devoto. Tiago querido, tome cuidado se fores ouvi-la, visse? Segue a letra, comentada por mim:

“Vivo já fora de mim, desde que morro de amor;
Porque vivo no Senhor, que me escolheu para si;
Quando o coração lhe dei, com terno amor lhe gravei:
Que morro porque não morro.
Vivo sem viver em mim”


Começa tranqüilo. Perfeito. Mas aí ela repete o refrão e sentimos que tem algo de “esquisito” no título da canção:

E tão alta vida espero,
Que morro porque não morro.
Vivo sem viver em mim


Achaste pouco? Achaste normal? Siga lendo:

“Esta divina prisão, do amor em que eu vivo,
Fez a Deus ser meu cativo, e livre meu coração;
E causa em mim tal paixão ser eu de Deus a prisão,
Que morro porque não morro,
Vivo sem viver em mim”


Mais:

“Ai que longa é esta vida! Que duros estes desterros!
Este cárcere, estes ferros onde a alma está metida!
Só de esperar a saída me causa dor tão sentida,
Que morro porque não morro.
Vivo sem viver em mim”


Ainda não está convencido do extremismo e genialidade incompreendida da freira. A estrofe final arrebatará qualquer um ainda não convencido:

“Vida, que possa eu dar a meu Deus que vive em mim,
Se não é perder-me enfim, para melhor o gozar?
Morrendo, posso alcançar, pois nele está meu socorro,
Que morro porque não morro.
Vivo sem viver em mim”


Deus do céu, alguém chegou antes na divulgação de minhas idéias! Se um dia eu entrasse para o convento e tive uma voz tão bela e suave quanto a dela, era isso mesmo, sem tirar nem pôr, que eu ia difundir aos quatro ventos. obra-prima, perigosa como toda boa arte que se preze. Recomendo, recomendo, recomendo! Alivia que é uma beleza!

E tem mais, juro que ainda volto ao assunto (risos)
Se eu viver para viver em mima ainda...
Amo demais, meu Deus, e amo demais o meu Deus!

Wesley PC>

Um comentário:

  1. O crístico sobrevive através desta mulher! so basta se resignar no silencio para viver o cristianismo de forma plena, como fez abraão!

    abraços

    Jt

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