segunda-feira, 15 de novembro de 2010

POSSO PENSAR NO QUE EU QUISER... MAS É DEUS!

Na manhã de hoje, realizei um sonho profissional: finalmente vi “Blaise Pascal” (1972), obra magnânima do mestre Roberto Rossellini, cineasta que, por seu entendimento sublime do conceito não-restritivo de “Deus Invisível”, tende a ser o meu favorito, o que melhor externa o que internalizo enquanto pulsões religiosas mais pessoais. Gemi de gozo diante do maravilhoso filme!

No filme, o francês Pierre Arditi interpreta o filósofo protagonista, que, antes de morrer, diz, sorrateiro: o sofrimento é um dom de Deus”. E eu tendia a crer. Ou tendo agora. Talvez não seja necessário dar detalhes sobre o que acontece antes. Vejam o filme. Leiam “Pensamentos” (1670). Está tudo lá. O que me cabe nesse texto é o impacto: e impacto é uma palavra deveras eufêmica para designar o que este filme me causou...

Poderia suplicar para que todos os meus amigos vissem este filme sublime, mas a minha cópia está sem legendas. Minha mãe até que tentou me acompanhar durante a sessão por alguns minutos, mas a estranheza rítmica do filme a fez lembrar que tinha outros problemas domésticos para resolver. Roberto Rossellini não é um cineasta fácil, da mesma forma que não é fácil lidar com religião, em especial, no plano institucional mais lato. Não é!

Em algumas semanas, terei que elaborar uma entrevista com o dirigente local da canção Nova. No final do ano passado, uma mulher foi presa por empurrar o Papa Bento XVI numa missa. Eu já fui obrigado a comer hóstia do chão numa igreja. Estou apaixonado por um católico silencioso. Não acho herético imaginar Deus gozando em minha boca. Tudo é glória!

E, como se a realidade me pregasse peças ao me mostrar a própria realidade, houve um dia de domingo em que eu esperava um ônibus no terminal Leonel Brizola, vulgo Rodoviária Nova. Um fanático religioso, velho e loquaz, gritava que Jesus está a voltar, que ele é o único caminho, a única salvação. As pessoas ao redor dele zombavam e eu me irritava com o seu tom alto de voz. Era cedo (7h da manhã), passara a madrugada em claro, precisava dormir. E o homem dizia: “Nesta de manhã, te arrependas e serás salvo, pois só Jesus tem o dom de transformar pecadoras em santas, santas, muito santas”... Do jeitinho mesmo que eu escrevi. E eu não sei se me arrependi, se fui salvo, se estou salvo, se serei salvo. Mas achei de muitíssimo bom gosto a cena em que Roberto Rossellini encena a famosa teoria de Blaise Pascal sobre a aposta benfazeja na crença em Deus: crê n’Ele. Apostas que Ele existe e crês sem cessar. Se ganhares, ganharás tudo. Se perderes, não perderás nada!”. E eu creio. E, enquanto o religioso do terminal gritava, pensei em fotografá-lo. Retirei lentamente a câmera fotográfica de minha bolsa, pus as pilhas com lentidão calculada e era como se o homem posasse diante de mim, a gritar. Era 3 de maio de 2009. E o tempo passou... E passará... E continuará passando, espero. “Amo a Deus, pois Ele ouviu minha voz e minha súplica” (salmo 116).

Wesley PC>

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