Antes de qualquer coisa, a epígrafe desalentadora:
“- A questão principal é casar; - não podendo ser com esse, será com outro.
- Não, não caso.
- Só com ele?
- Nem sei se com ele (...). Gosto dele como gosto de Deus, que está no céu.
- Virgem Santíssima! Que blasfêmia! Duas blasfêmias, menina; a primeira é que não se deve amar a ninguém como a Deus, - a segunda é que um marido, ainda sendo mau, sempre é melhor que o melhor dos sonhos” (capítulo CXVIII)
Como disse ontem, estou a ler “Quincas Borba” (1891), de Machado de Assis. Não porque o livro me caiu em mãos espontaneamente, mas porque o moço a quem temo devotar atenção tão exacerbada quanto a personagem acima ao homem dos seus sonhos assim me recomendou e, como tal, flagro-me a gostar tanto do livro justamente por gostar tanto dele, algo que não aconteceu com o mesmo, porque, como ele me disse: “nunca gostei de ninguém”. Faltou-lhe arrebatamento. Sobra-me!
Atormentado que fiquei após a leitura do trecho acima, com o qual tanto me identifiquei, fechei o livro por alguns instantes e vi um dos filmes mais elogiados que possuía em minha casa: “O Sacrifício” (196), de Andrei Tarkovsky, obra prenhe de tristeza e pavor, em que um homem teme que o apocalipse nuclear tenha finalmente chegado e, co o tal, resta-lhe rezar e oferecer tudo o que tem como sacrifício para que “tudo volte a ser como era antes”. Por acidente, eu sabia como o filme terminava, mas, ainda assim, fiquei chocado ao saber que o próprio diretor sabia que estava a morrer quando o realizara: estava no estágio terminal de um câncer pulmonar quando realizara o filme, de maneira que tremi quando associei esta informação biográfica à dedicatória que se encontra no derradeiro trecho do filme: “ao meu filho, com fé e esperança”. Glupt!
Mas precisava voltar à leitura do livro que me obsedava, à paixão real que tanto me obsedava. E, no capítulo imediatamente anterior ao citado acima, poderia eu ter encontrado uma cínica possibilidade de enfrentamento a um tesouro que se perde no fogo: “Era uma vez uma choupana que ardia na estrada; a dona – um triste molambo de mulher, - chorava o seu desastre, a poucos passos, sentada no chão. Senão quando, indo a passar um homem ébrio, viu o incêndio, viu a mulher, perguntou-lhe se a casa era dela. ‘- É minha, sim senhor; é tudo o que eu possuía neste mundo’. ‘- Dá-me então licença que acenda ali o meu charuto?’”
Por favor, Jadson Teles (e não só), por favor, veja O SACRIFÍCIO o quanto antes!
E (re)leia QUINCAS BORBA.
E ambos!
Amo, amo-vos, amo-me, amo-nos!
E que venha o que for melhor que o melhor dos sonhos...
Wesley PC>
Talvez eu esteja perto do cataclisma...
ResponderExcluirtalvez eu seja a penas...
E sim preciso urgente ver esse filme e reler essa obra-prima, Quincas Borba era meu preferido...
saudades, amo-ooo também!
Jt
Tu não sabes o que te aguarda, digo-te de coração.
ResponderExcluirVi este filme do Tarkovsky agora pela manhã, enquanto me via pungido e compungido pelo clássico do Machadinho e, Deus, Deus do Céu... lembras o que tu falaste sobre o sacrifício de Abraão? Então, releias o título da postagem e prepara a tua alma para o que vem...
WPC>