quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O ponto final

Joaquim percebeu que uma era havia se findado, que nova era latejava em tons de vermelho-escuro. Lembrou de figuras da infância, dos livrinhos de estórias, das cores e sabores que nunca mais sentiria. Um velho de 83 anos. Calado. Folhas secas dançavam no pátio sob o céu nublado. A tudo percebia com intensa luminosidade. Folhinhas verdes insurgiam dos galhos da jabuticabeira. Nenhuma criança por perto. Só o pesado silêncio do som que trazia o vento à suas têmporas. Sentado sobre uma cadeira de madeira escura pensava em tantos livros que havia lido na vida. Em tantas vidas que estranhamente reverberavam a sua. Dali, pensaria como um pensamento final. Seria vasto no final, como o céu, onde pássaros e ventos se tocam. Levantou-se e foi ao quarto, olhou-se no espelho e despencou morto sobre o frio chão. Sem novos anseios e vastidões. Só um corpo antigo sobre seu espaço minúsculo, que no último segundo já havia tomado as dimensões de um ponto final e que menor ainda ficaria com o passar das horas.

Um comentário: