quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Existe o cinema brega?


Alguem já ouviu falar em cinema brega? Bem, se sim ou se não, pode colocar “VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO” na lista de filmes bregas , mas não pense que o brega aqui referido é aquele pejorativo que alguns gêneros musicais levam de longe tal pecha. O conceito de brega referido aqui é a ideia de pathos, palavra grega que significa exatamente apaixonado e por isso patético, desmedido, algo que o velho Platão considerava uma conduta no mínimo deselegante. Sabe aquelas músicas que ouvimos quando estamos com dor de cotovelo e bebendo muito para esquecer do amor que nos deixou e que no fundo clamamos para que ele volte?. Pois bem, este é exatamente o filme de Marcelo Gomes e de Karin Ainüz e é um filme que já mais passaria nas telas da acadêmia platônica, pois até seu último fotograma ele transpira intensa paixão.

Vi o filme no último domingo da forma mais inusitada possível, em que o comentário “ele só fala e nunca aparece não é?, já estou ficando agoniada!” pode dá uma ideia de quão inusitado foi, mas isso só aumentou a intensidade de como eu via o filme. Filme que me deixava em estado perplexo e de perene ebulição, pronto para explodir em lágrimas, por que sabe aquele ditado “entre a dor e o nada eu prefiro a dor” nunca se justificou tanto.

Narrado por um personagem em off, e que a partir de uma câmera subjetiva nos leva ao interior do nordeste, acompanhamos essa viagem insólita de um geólogo em busca de esquecer uma paixão por uma botânica de cabelos loiros, a qual se reportava carinhosamente como “ galega” e ainda afirmava que formavam o par perfeito, pois enquanto ele escavava pedras, ela colhia flores. Num primeiro momento ele só fala da saudade doida que sentia dela , enquanto passava pelas áridas cidades do interior do nordeste, de sol rachante, poeira sufocante e de pessoas sofridas, mas que apesar de tudo humanas. No segundo momento descobrimos que ele rompeu com a galega e para esquecer embarca numa viagem sofrida. E o calvário ainda é pouco pois ele viaja porque precisa e não volta porque ainda ama!

Para quem viu “ O céu de Suely” e “Madame Satã”, não demora a perceber que é Karin Ainüz que dita o tom do filme. Ele humaniza os personagens numa força estonteante, vide a sequencia em que o personagem se entrega a prostituição, lembrando muitas vezes situações vividas por personagens dos filmes citados. Mas a grande sacada dos cineastas foi o roteiro que se coadunou as imagens capitadas pelas câmeras utilizadas no processo de filmagem de forma brilhante. E ainda fica claro a referencia a cineastas como Eduardo Coutinho, Jean Rouch, Chris Marker e Jorge Bodansky.

Enquanto um “galego” não faz com que eu sinta dor na vida, vou deixando de lado o nada, para recordar para sempre essa pequena obra-prima....


beijos passionais

J.

4 comentários:

  1. tenho até medo do que acontecerá comigo vendo este filme!
    minha paixonite vai ressurgir dos mortos!

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  2. Noooooossaaaaaaaaaa! Esse filme foi tudo! E tê-lo assistido com vcs, foi tuuuuuddoooo! E combinou com o refri zero e com tudo o que sinto, senti e sentirei sempre! Galega, vai ser não meu jargão, pois já é um fato: o que ouço sempre, vai ser a ressignificação do que é ouvir sempre alguém assim me chamar! Lindo, visceral, brega, na veia! Adoro!

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  3. Ah, tem um galego na minha vida agora...
    PRECISO VER ISTO!
    Rogério conseguiu!

    E eu li o rascunho desta postagem... Sei quem foi que proferiu a barbaridade acima (kkkkkk)

    WPC>

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  4. E, mais uma vez, faço côro com Tatiana (risos)

    tenho até medo...

    WPC>

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