quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um rosa é uma rosa

Outro dia, fui tomada de supetão por uma declaração de uma amiga minha sobre ter ela mudado a relação com a mãe dela depois que eu havia lhe contado uma história que me aconteceu.
Eu, como muitos sabem, sou uma grande contadora de causos, sou namorada de Mnemosyne e, portanto, ando me arremedando com as lembranças e muitas vezes com o esquecimento. Dessa forma, apesar de o rio de minha infância ser o rio São Francisco, muita coisa mergulho no Lete.
Já outras me são inesquecíveis. Como é o caso da história da rosa e da cigana que eu havia falado para a minha amiga tão querida.

A história:
Certa vez estava eu no mercado das flores. Eu havia ido ao centro e passei lá para comprar uma rosa para minha mãe.
Não era dia especial. Eram sempre especiais, na verdade, os dias com ela.
Como dinheiro pouco sempre foi uma constante em minha vida, eu só podia comprar uma única rosa. E assim o fiz.
No trâmite, aparece-me uma cigana. Pede para ler a minha mão. Negaceio, sem jeito. Depois, sou firme: "Não, obrigada!".
Ela, então, me falou: "Não vou cobrar nada".
Estendi a mão, incrédula e passiva, e ouvi o que ela tinha a me dizer. A mulher profetou desastres horrendos, difamações, injúrias e injustiças e, claro, falta de sorte no amor e uma vida curta (desastre de carro, se não me engano), se eu não fizesse o que deveria fazer: dar-lhe dinheiro!
Eu disse que não me importava com aquele futuro desenhado por ela.
A assertiva a desorientou e ela encontrou um jeito de obter o que ela queria: tomou os cinco reais que eu tinha na outra mão para pagar a rosa que daria a minha mãe.
A transformação se deu de imediato: rodei a baiana, segurei-lhe os braços, os olhos esbugalhados, palavras de serpente saíam de minha boca, parecia que eu falava uma outra língua, cuspia e ameaçava: "a polícia está bem ali, vou lá chamar alguém".
Ela me devolveu a grana e saiu blasfemando, rogando mil pragas.

Conto isso sempre rindo, lembrando-me da cara da cigana enquanto eu gritava em um quase-árabe gutural e raivoso, se desmanchando em susto e reprovação.
Nunca imaginei que a história, que eu contava enfatizando o inusitado da cigana, fosse tocar alguém pelo fato de eu ter parado para comprar uma rosa para a minha mãe num dia normal qualquer.

Lembro-me, ainda, de que quando eu saí com a rosa nas mãos, eu pensei:
- Que chato morar numa cidade onde o caminho que faço não tem um jardim sequer...

4 comentários:

  1. Lembro-me que uma vez na praia uma cigana perguntou se eu queria que ela lesse minha mão, eu disse que sim. Tinha mesmo era curiosidade. Na cabeça um caos atemporal. Precisava saber de alguma coisa: um desastre fatal findante, uma vitória de vida, uma vida tranquila, um amor eterno. Eu tinha 10 reais, me lembro como hj. Ela desapareceu com meus 10 reais, mas me disse coisas lindas. Ai, que dinheiro bem gasto... :o)

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  2. Outra vez, alguém que se dizia médium olhou minha mão e disse: tens um espírito velho. Eu quase acreditei, porque são profundas as linhas das palmas das minhas mãos. Cheguei em casa. Já irritado com a constatação, fui me olhar no espelho. Fixei-me nos olhos, mortos e sem brilho. Passei a ter certeza.

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  3. uma vez um cara que era conhecido de vista só disse um monte de coisas verdadeiras sobre minha pessoa apenas lendo minha mão.
    achei que ele era bom nisso.
    depois percebi que, na verdade, talvez eu seja transparente demais...

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  4. Amo flores.
    Lembro de durante a minha infância
    minha mãe tinha um jardim imenso...
    Já aconteceu essa mesma constatação de Tati.
    E ciganas, tenho medo delas.
    Parece que fui uma em outra vida.

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