quarta-feira, 2 de junho de 2010

Fim de férias


Hoje foi o me primeiro dia de trabalho, depois de me recompor, (se é que isso seja possível) durante trinta dias, do estupro provocado pela venda da minha força e do meu tempo ao Estado, que me paga por isso em longas e pequenas prestações, volto ao sacrifício que me põe num status de não marginalizado(sera?), sou um pequeno parafuso que junto com tantos outros sustenta a engrenagem de sistema maligno que comanda nosso modo de vida.
Todavia tenho lidado com isso de uma forma estranha e junto com o envelhecimento progressivo e rápido do meu corpo entro num processo de estranhamento comigo mesmo que me põe crise. Tentando avaliar esses dias de descanso concedida pelo aparelho estatal, fiz ao fim muita coisa? E não sei, mas sinto como se tivesse feito e não feito, isso tudo é muito estranho!
Dentre uma das atividades, foi acompanhar um seminário de literatura e cultura na universidade, e eis que no primeiro dia ou no segundo um professor afetadíssimo quis criar polêmica, dizia ele que a literatura feminina brasileira até meados dos anos setenta não dava voz para o outro e não apresentava nada de novo, a literatura de Clarice Lispector por exemplo estava preocupada apenas com as angústia da mulher burguesa. Não estudo teoria l iteraria , porém, já li muito da literatura brasileira, não o suficiente é claro, mas o suficiente pra saber quê o que este proto-irônico professor dizia era totalmente infundado e imbecil, porém a plateia aceitou, ao menos não se manifestou de modo contrário a não ser a voz tímida de uma professora.
Mas depois de conversar com uma amiga minha mais entendida sobre o assunto fiquei mais aliviado, a mesma concordou com meus questionamentos e colocou outros.
Mas no último dia de evento o professor que estava sendo homenageado abriu a boca e desmontou a fala anterior, simples e extremamente fundamentado, entre outras coisas dizia ele que os estudos culturais são importantes mas vazios se quando analisa a literatura esquece que ela é antes de qualquer coisa linguagem e Clarice Lispector fez da sua escrita uma experiência inovadora da linguagem na literatura brasileira.
Percebi ali um sensatez discursiva que me fez bem, senti que minha consciência amadureceu junto com o meu corpo e isso no fundo eu acho muito bom.
Enfim de volta ao trabalho!


Jt

5 comentários:

  1. Ô, baby!A luta: como não ser apenas um parafuso nessa engrenagem, não é? E como todo parafuso: substituível!Estou agora à margem (desempregada)e sou estigmatizada, por esse motivo (estar desempregada) por tantos parafusos que só sei eu!
    Dói voltar assim. Disso sei!
    Quanto ao evento de literatura e de cultura a que fomos, eu, como ex-aluna de Letras e agora aluna do Mestrado de Letras sei bem explicar o silêncio da platéia, que não é silêncio condescendente (em sua boa parte), mas silêncio de cansaço (Oh, não adianta, ele é pós-doutor e fala isso sempre! Quem sou eu para contestar e sempre nunca valer de nada a minha contestação?!) ou de "se eu falar vai rolar a maior briga porque não suporto mais e daí a perseguição, a guerra vai ser decclarada mesmo e eu, no fim, vou me ferrar porque a relação aqui na academia é tão prostituída quanto lá fora e eu, por ora, sou mesmo e só peão!).
    Mas, a fala defensora de Viana foi a minha redenção. Você mesmo sabe o quanto a fala dessezinho que disse a barbaridade de Clarice ser escritora burguesa que escrevia sobre mulheres burguesas sempre me fez mal. Ele era a minha espinha de garganta e agora, já não é mais porque ele foir espondido por alguém que não era eu e sim alguém respaldado para tanto. Tantas vezes já havia respondido às barbaridades dele e nada acontecia! Agora a coisa se deu à altura: bem feito para ele! Feliz estou eu por isso! E não duvido: eu e MUITA gente do curso e que ali estava e silenciou.

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  2. Baby, eu entendo sim essa relação de prostituição e sei que o silêncio não é concordaancia, mas naquele momento me incomodou muito, afinal tinha professores doutores e pos doutores que não falaram nada, mas fiquei muito feliz que Viana escolheu a hora certa para contra-argumentar, foi lindo e epifanico!

    e manda seu trabalho quero ler ele na integra!

    beijos

    J

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  3. Né? A gente vibrou. Mas, lá estavam todos os pós-doutores da categoria dele. Esse bando de gente que prioriza os Estudos Culturais e deixa a Literatura de escanteio. Texto como puro e tão-somente pretexto!
    Saudade de você.
    Beijos, queijos!

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  4. Estes silêncios...
    Em outra ocasião, eu até discordaria de Ninalcira, mas ela usou uma palavra-chave aqui: CANSAÇO. É impressionante como, pior, bem pior do que esta sensação de "substituibilidade", o que mais nos cansa é precisamente esta certeza de que, se alguém falasse ali, o ego ferido seria mais destacado que a paixão cicatrizada... Falas em público estão gradualmente chafurdando na inutilidade ciumenta, ao invés do debate de interesses e questões que rolava antigamente... É o fim do mundo!

    Mas em vós, eu confio!
    Sei o que é isso!
    Sei, ah, se sei...

    Recentemente, uma professora em sala de aula para calouros disse que o Jornalismo não era "maniqueísta que nem os faroestes de Ennio Morricone". De que adiantaria se eu levantasse a boca azeda e explicitasse os 8.000 equívocos desta frase? Deixa a doutora falar... Que quem quer debate mesmo se encontra em algum lugar.

    Quanto à volta ao trabalho... É, né?

    WPC>

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  5. Pois é. Acho triste essa postura a que temos sido impelidos por conta da tão bem colocada inutilidade ciumenta na academia! Temos cada vez mais deixado os "doutores e doutoras" falarem seus 80.000 equívocos por colocações e temos calado nossa (azeda) boca de terror naquilo que mais nos interessa. Daí a (nossa) necessidade de matar demônios e criar outros tantos fora de lá (da academia). Só para acalmar. Igual a tomar Maracujá com açúcar!
    Dali os doutores com suas tapadas especialidades, né? Que fazer?

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