quinta-feira, 20 de maio de 2010

Matando demônios...


Não se recorda de muita coisa, da cor dos azulejos, do cheiro da manga madura, da música, sempre tem vagas lembranças. Ergue os lençóis, está nua. Dizia a mãe que é pecado dormir nua, mas ela mesma, lembra muito bem, roçava os dedos entre as pernas enquanto fingia dormir. Deve ter ido para o inferno. As lembranças estão todas justapostas de maneira que nunca poderá movê-las. Mas era tudo tão bonito. O banheiro tinha um cheiro de arder as narinas. A mãe soprava o café para que esfriasse e ela então pudesse beber. O cheiro era muito bom. Antes, uma oração. Que Deus me ajude – ela dizia. A mãe não parecia ser íntima de Deus. As orações eram súplicas vazias à alguma coisa sem nome que intercederia por ela. A mãe, ela agora lembra, tinha pêlos perto da vagina. Banhavam-se. Quando a mãe a segurava nos braços, sentia pêlos arranhando os dedinhos dos pés.

2 comentários:

  1. A tela: Gustave Courbet (The Origin of the World)
    Apresentada a mim por uma amiga muito querida.

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  2. Segundo uso (recente) deste quadro neste 'blog' (risos)

    Sou fã do Courbet, por motivos óbvios, e também me sinto um tanto íntimo de Deus...

    Culpa dos amigos (risos)

    WPC>

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