Não se recorda de muita coisa, da cor dos azulejos, do cheiro da manga madura, da música, sempre tem vagas lembranças. Ergue os lençóis, está nua. Dizia a mãe que é pecado dormir nua, mas ela mesma, lembra muito bem, roçava os dedos entre as pernas enquanto fingia dormir. Deve ter ido para o inferno. As lembranças estão todas justapostas de maneira que nunca poderá movê-las. Mas era tudo tão bonito. O banheiro tinha um cheiro de arder as narinas. A mãe soprava o café para que esfriasse e ela então pudesse beber. O cheiro era muito bom. Antes, uma oração. Que Deus me ajude – ela dizia. A mãe não parecia ser íntima de Deus. As orações eram súplicas vazias à alguma coisa sem nome que intercederia por ela. A mãe, ela agora lembra, tinha pêlos perto da vagina. Banhavam-se. Quando a mãe a segurava nos braços, sentia pêlos arranhando os dedinhos dos pés.
A tela: Gustave Courbet (The Origin of the World)
ResponderExcluirApresentada a mim por uma amiga muito querida.
Segundo uso (recente) deste quadro neste 'blog' (risos)
ResponderExcluirSou fã do Courbet, por motivos óbvios, e também me sinto um tanto íntimo de Deus...
Culpa dos amigos (risos)
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