sábado, 14 de maio de 2011

Sei que nada será como antes amanhã_notícias de uma viagem

Viajei esta sexta-feira última onze e meia da manhã para Salvador. No sábado voaria (e voei mesmo) para Belo Horizonte. Entendi que viajar de Aracaju para Salvador pela BR é mais ou menos como querer se matar sem admitir isso a você mesmo. Porque aquilo é suicídio. Entrei pontualmente às onze e meia da manhã no ônibus e desci oito da noite na rodoviária de Salvador. Os pés, eu não os sentia. Caso de lógica isso?
Dormi e acordei cedo para vir para BH. No voo, uma criança chorava, sentadinha com os pais, nas poltronas atrás da que eu ocupava.
O choro se intensificava e eu não ousava olhar par trás porque meu coração já estava partido. Até que a ouvi dizer: "Papai, não está sarando".
Virei e vi que era um menininho. Lucas, vim a saber depois. Chorava, sentia dores no ouvido por conta da pressão de dentro da aeronave.
Não sei porque cargas d'água, me meti a conversar com ele...Fui conversando, falando sobre as nuvens...ele era pequenininho demais e me lembrei da época em que até uma sacola cheia de vento era o suficiente para me distrair de qualquer pensamento que contivesse dor física e medos de tomar remédios.
Ele me ensinou algumas coisas sobre as pedras parecerem fofas assim do alto. e sobre as matas parecerem líquidas. Dizia essas coisas todas com sua vozinha suave de criança ainda aprendendo os descaminhos da linguagem nossa de todo dia.
Fomos conversando e percebi que ele ia tirando uma dor em mim. Uma dor que estava dentro. De repente, num movimento mais brusco, seus tímpanos doeram mais e ele berrou "ai, está doendo, está doendo, está doendo". Eu segurei seu rosto porque imaginei que ele ia cair de meu colo e, esquisitamente, segurei de um jeito que ele disse: "Passou". Quando fui me movimentar, ele disse: "Não".
Restava-me encarar a criança, seu rosto entre minhas mãos. Mas, eu enxergava a mim. Enxergava coisas que preferi não ver. A aeromoça trouxe-lhe umas bolas de ar coloridas, verdes por conta da companhia aérea.
Lucas começou a enchê-la. É um bom exercício para o caso que lhe ocorria.
Enchia as bolas e me dava rindo, feliz, esquecido das dores por minutos. Enquanto as minhas pulsavam de maneira que bexiga qualquer distraía.
Quando pousamos, Lucas desvencilhou-se de meus braços, foi para os pais que o receberam acarinhando e dizendo para ele me dar tchau pois tinha sido legal com ele. Ele abraçou forte a mãe, escondeu o rosto de mim e disse: "Não".
Desci do avião. Atravessei um corredor, recebi uma rajada de vento frio no rosto, já na rua.
E pensei o quão filhas-da-puta são essas companhias aéreas que fazem propagandas de suas empresas até em bolinhas de reabilitar dores de ouvidos.

3 comentários:

  1. estou agora diante de um texto e não consigo decifrá-lo, como queria escrever tão bem como vocÊ, nossa, que descrição fabulosa, estou aqui emocionado, e eu que tenho medo de viajar de avião................
    beijosssss..

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  2. Mais um dos antológicos paradoxos do Capitalismo nestas máquinas voadoras...

    E tu sendo mais forte, apesar de tudo, por causa justamente deste tudo!

    Força, mulher linda!

    WPC>

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  3. PS: Jadson, pára de se comparar!

    WPC>

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