terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Amarelo-ordem

Pendurei Mnemosyne nas orelhas. Reli uma parte bonita de minha vida. Revi trechos de autores que falam sobre mim e sobre essa parte bonita de minha vida. Juntei tudo num envelope-saco amarelo. Transcrevi os trechos nesse envelope. E pensei: amarelo é a cor do tempo; dos papéis antigos; das fotografias do passado; dos sorrisos-sem-graça dos esquecimentos.
Amarela é a cor da ordem lispectoriana que reli em Água viva: "Por enquanto há diálogo contigo. Depois será o monólogo. Depois o silêncio. Sei que haverá uma ordem".
É a ordem - amarela - que mais acontece. Especialmente com as partes bonitas de nossas histórias.
Eu também sei que haverá uma ordem, Clarice. Pois só permanece verde-vivo aquilo que a gente cultiva, aquilo que a gente mexe e remexe, rega, agooa, molha, sulca, toca, vive todos os dias.
Amarela também é a cor da folha sem água, sem vida, sem sumo, que logo cairá, apartada da árvore. Morta. Para viver um ciclo, uma ordem.
Amarela é a cor do fim.

2 comentários:

  1. Eu tenho uma relação muito estranha com esta cor... Que nem eu tenho com a morte e com o fim. Mas não é de todo ruim não... É estranha!

    WPC>

    ResponderExcluir
  2. Pois é, eu também tenho uma relação estranha com a morte, com o fim e com o amarelo.

    ResponderExcluir