segunda-feira, 7 de junho de 2010

Memórias, putarias e pós modernidade. (Capítulo I)



Passei toda a viagem alimentando fantasias eróticas com o cara dos dedos cheios de anéis na poltrona ao lado. Meu cacete não me deu descanso um único minuto, a ponto de ficar dolorido. Covardia usar bermuda de nylon com toda aquela bunda. Mas eu pensava também em quanto aquilo de pensar em sexo a todo instante já estava me irritando. E não era qualquer sexo, a coisa era escrota, de banho de mijo, consolos e antebraços enfiados no cu.

Outro dia, pedi a um cara para que vestisse a calcinha da irmã e colocasse batom uva. Minha fantasia era: baixar um pouco a calcinha, deixando livre a portinha do fétido paraíso, enquanto abria-lhe as entranhas e beijava-lhe ferozmente a boca saborosa, lambuzando a cara depois com minha porra e por fim, queria vê-lo chupando os dedos, sugando até a última gota da minha gala. Pronto, era só isso.

- Doente, escroto! Lembro da voz e do som seco da porta do carro batendo em minha cara.

Fila da puta. Havia algo de insalubre ou patológico nisso? Mas finalmente a viagem terminou. O carinha da bunda avantajada desceu apressado logo após eu começar a escrever essas memórias, bem antes do ônibus chegar a seu destino final.

Desci, peguei um taxi e fui para casa. Minha mãe me recebeu gritando, como de costume: Ô porra louca, trouxe o dinheiro da empregada? Joguei os R$ 150,00 sobre o sofá, entrei no meu quarto e bati a porta. Era mesmo um maricas que morava com a mãe. Mas graças ao Deus todo poderoso, uma garrafa de vinho Canção me esperava atrás da minha crescente coleção de Bukowskis. Esse sim sabia viver a vida. Um cara que consegue fazer um viado ter vontade de chupar bocetas só podia ser um gênio, a fórmula: muita putaria (des)gênera, (me dou ao luxo de neologismos), abusiva, franca. Eis um cara franco e uma filosofia de primeira qualidade.

Me imaginei chupando bocetinhas molhadas, eram morenas (e isso foi por minha conta), penetrando-as bem gostoso (sou mesmo um escroto), ouvindo gemidinhos de mulher donzela, inconstantes, sabem como é? “Aiii, aaaiiiiiii, ai, ai, ai, ai, aaaaaaaiiii, a a .. que gostoso...”(sempre em baixo tom) e quando ficam mais vividinhas “goza comigo, goza?”. Isso de rótulos já era, estão sabendo? Não sou gay, estou. Na maior parte do tempo sou, admito. Isso é sexualidade pós moderna? Minha avó dizia que é safadeza. Voltando à garrafa de vinho. No que me transformei? Um menino quieto, religioso, que escrevia poesias. Falando em poesias, me lembrei de uma que escrevi quando tinha dez anos e usava óculos horrendos, tinha rimas e eu achava que as rimas eram muito importantes na composição, que davam beleza e alma à poesia. Numa delas, eu lembro bem, eu terminei rimando com Sou um Bicho Inconseqüente. Impressionante a subconsciência. E eu creio que nem sabia o que significava a palavra inconseqüente, achava que era algo que tinha a ver com a desordem, com o caos. Numa outra iniciei com “Meu cérebro é uma caixinha de ilusões”, hoje soa até bonitinho. Era um guri muito bobo. Hoje um fulero fila da puta.

Mas o vinho. A garrafa estava quase seca quando tocou o celular.

“Betão!?”

“Qual é?”

“Tava aqui pensando numas coisas, cara. Fico meio sem saber como te perguntar uma coisa, ultimamente você anda tão fresco.”

“Vai se foder, pergunta logo!”

“Velho, acho que você vai se assustar, cara”

“Você é muito maricas mesmo, hein Paulinho. Pergunta logo, porra” – Não suporto querer saber algo e não poder. Se ele não me dissesse, iria até o apartamento dele e o enforcaria.

Mas como sempre imagino o pior... me antecipei:

“Quer comer minha merda, né, porra?”

“Você sabe como eu sou né, cara?”

“Sei. Um escroto que se recusa a dar o cu, mas se lambuza brincando com as merdas de macho. Você é muito fila da puta mesmo, hein Paulinho. Pior do que eu, cara.”

Com força, bati o telefone na cara dele.

O Paulinho me superava nesse quesito de odor, suporto qualquer um, mas o de merda é como um corpo estranho, um aborto, uma negação. Ao contrário do cheiro do cu, invasor, opressor (no melhor dos sentidos), dominante, poderoso, persuasivo. Adoro o cu que domina e acalenta.

Sou mesmo um cristão, pensei no Paulinho e me enchi de compaixão. Fiquei imaginando como seria estar de pau duro e cagando ao mesmo tempo.

2 comentários:

  1. guri, que capacidade descritiva fudida essa tua, da-lhe Bukowisk!

    saudades ja

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  2. Ui! Adoro!Tô quase ficando maluca de verdade. Nas últimas quarenta e oito horas eu fico triste e alegre (no máximo que essas definições consigam expressar o ápice de cada uma delas!) como criança brincando com o interuptor: acende a apaga de segundo em segundo.
    Bom ler coisa assim. Pára um pouco essa coisa em mim.

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