sexta-feira, 28 de maio de 2010

“Mrs. Dalloway disse que compraria ela mesma as flores.”


Maníaco. Lí, e a palavra me assustou deveras. Conversei longas horas sozinho e ainda converso sobre, é algo que me apavora. Há um termo bonito, da moda, moderninho até: Bipolar. Escrevo e recordo de uma amiga berrando em estado de surto “isso é bipolaridade, não é frescurinha não!” Óbvio, me irritei, me chateei, mas como ela mesma me disse um dia, não posso esperar que todos conheçam tudo e em profundidade.

A medicação mais famosa e antiga no tratamento do Transtorno Bipolar é o lítio, que segundo dizem está com a venda proibida pela Anvisa em farmácias. Li em diversos sites e revistas especializadas que são muitos os efeitos colaterais, que é importante evitar sal, cafeína, álcool. Hoje, é comum a recomendação médica ao uso de lamotrigina.

Há uma variação extrema e intensa de humor que vai de uma euforia incontrolável e ininteligível para quem sofre desse mal. Há casos em que pessoas gastam quantias absurdas de dinheiro. Nessa fase, o “bipolar” ou maníaco depressivo (nada tem a ver com psicopatia), pode ter seu desejo sexual aumentado absurdamente. Numa conversa com amigos isso pode soar deveras engraçado, mas é irremediavelmente perturbador e muito difícil de se controlar.

Há a outra fase, a depressiva. Nessa, o indivíduo não vê coloração no mundo. Tudo parece ter se revestido de cinzas. Em casos mais graves, quando não se faz uso de medicamentos, o último estágio é o suicídio, os pensamentos recorrentes a cerca de, ou as tentavias. Nesse estágio, tudo se pinta de vermelho.

Tal transtorno não se caracteriza por raiva e descontrole súbito, ele é caracterizado, como mencionado anteriormente, por fases de hiper euforia e profunda depressão, nas quais o intervalo pode variar de acordo com cada pessoa e seu organismo: semanas depressivas e extremamente dolorosas seguidas por semanas de intensa euforia.

A fase eufórica é a que o individuo mais gosta, assim, muitas vezes ele não percebe e passa a perder noção de sua batalha contra essa patologia na fase depressiva.

O medicamento regula o humor, mas não pode ser deixado nem por um dia. Caso esqueça o paciente do remédio, ele deve ingeri-lo imediatamente após a lembrança.

É engraçado como alguns sites e revistas abordam os “famosos maníacos depressivos” e expõem nomes. Tratam o assunto de forma tão ridícula que parece muito bonito e interessante viver esse transtorno.

Virgínia Woolf, Cazuza, Maria Callas, Janis Joplin etc etc ...

“Essa tendência tem a ver com o espírito inovador e o temperamento emocionalmente intenso, curioso e empreendedor”. O sofrimento alheio agora é exposto como fetiche estético.

That’s my voice (lembro de alguém gritando em um filme, a cena era em uma estação de trem). Ela queria voltar para Londres. Queria ir embora. A personagem no filme As Horas era Virgínia Woolf. Filme não muito bem aceito entre os cinéfilos por questões estéticas ou técnicas, sinceramente não recordo.

Lembro de uma mulher absurdamente introspectiva, afundada em um mundo e com um desejo louco de respirar. Não vejo beleza nisso. Sofrimento para mim é feio, antiestético.

No! It’s mine! Ela gritava. Leonard, seu marido, baixa a cabeça e chora, sentado ao seu lado.

Mas quanto à medicação.... há pacientes que decidem deixar os remédios... mas a ponte entre a consciência e o reverter a situação é escura demais, não sei como fazem e se conseguem viver plenamente e como podem pensar claramente sem os psicofármicos. Dizem os médicos que a ponte é infinita, posto que é crônica, mas mesmo assim, alguns tentam iluminá-la.


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