quarta-feira, 19 de maio de 2010

Meu Príncipe

Ok. Ouvi Lulina (O cd Cristalina) na viagem Boquim-Aracaju. Topic cheia, somzão na rádio. Eu, impaciente com a vida, com aqueles filhos-da-mãe dos "topiqueiros" que enchem os carros e a gente fica um tempão em pé para eles encherem o rabo de grana...(a raiva ainda persiste, vocês podem perceber). Achando o mundo uma injustiça só.

Achei o disco engraçadinho. Inusitadas as letras que falam de Et's (sangue de Et, na verdade), de minhocas, de cidra cereser e calcinha cor de rosa no ano-novo, de florezinhas (margarida) e de príncipe encantado. Opa! A letra "Meu príncipe" ressiginificou a viagem!

Meu príncipe
Não vem em cavalo branco
Não tem muito dinheiro
Mas eu o amo mesmo assim
Meu príncipe arruma toda a casa
Prepara minha comida
Enquanto eu tô no botequim

Meu príncipe me dá múltiplos orgasmos
Ai meu príncipe são 13 no total
Ele limpa o banheiro
Eu trabalho o dia inteiro
Ele lava a roupa suja
E eu bebo, bebo, bebo, bebo
Ele briga com as crianças
E eu toco violão
Ele quer discutir a relação
E eu não.


Como pensar uma letra assim se, naquela hora, me pedissem: "pense em letras de música que falam do "feminino", de mulheres", eu responderia: "Essa Mulher", de Joyce ou "Com açúcar, com afeto", de Chico Buarque, ou ainda "Atrás da porta", do mesmo Chico. Ou "Mulheres do Brasil", de Joyce ainda. Ou ainda de Joyce "Outras mulheres". Pensaria na mãe de "Meu guri" (Chico de novo), pensaria muitas outras ainda que listaria aqui eternamente. Mas, "Meu príncipe" coube não apenas para me divertir na viagem, mas para eu pensar, no que é que são as novas relações estabelecidas entre homens e mulheres.
Lulina é Pernambucana. Nordestina. E sempre que falamos em machismo, feminismo, direitos iguais entre homens e mulheres, sempre que falamos contra a homofobia, tem sempre alguém que retruca: Ah, mas nós estamos no Nordeste!". "As coisas aqui demoram a mudar, as mulheres aqui ainda têm seu lugar no tanque, bicha aqui é ridicularizada na rua..."e daí deslancha-se o rozário de idéias pré-concebidas, lugares-comuns (e, diga-se de passagem, de mentiras e mitos e preconceitos, pois isso não acontece só no Nordeste. Esse tipo de argumento, fraco, é típico de quem deseja mesmo só polemizar por polemizar).

Por que motivo prevalece ainda o machismo, se as mulheres invadiram o mercado de trabalho, se elas mesmas são, tantas vezes, que sustentam as famílias?
Por que as mulheres, mesmo as que trabalham fora, cumprem jornadas duplas de trabalho?

Bom, eu escreveria um longo texto sobre isso.
Mas, fica aqui a letra da música. O som da garota não é ruim. Fica a minha descoberta e dica para quem desejar conhecê-la: procurar em http://www.myspace.com/lulina.

Ouço sempre um conselho, de maneira persistente: "A mulher sábia edifica o lar".
E sempre me pergunto: "E o homem sábio, não?".





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