quarta-feira, 26 de maio de 2010

Boas conversas sobre maus tempos

Digo logo: parte dessa (postagem) é endereçada (risos) porque surgiu da boa conversa que tivemos.

É sempre bom ter boas conversas com as pessoas. Especialmente com as que a gente gosta.

E devanear é sempre proveitoso. Pois, entre loucuras, eis que surge algo que faz sentido. Nada psicanalítico, mas falando a gente elabora pensamentos e pode chegar a conclusões necessárias para solucionarmos algo em nós.

Foi assim que se deu comigo. Falando com uma amiga querida sobre trabalho, relações profissionais, sobre ter chefes, sobre ser chefe… Inevitavelmente falamos sobre poder. Sobre abusos de poder. Sobre exercício do poder.

Cheguei à conclusão, depois de muita conversa despretensiosa e de muito desabafo e de ter feito uma analogia entre uma empresa em que a amiga com quem conversava trabalhou e uma escola onde ensinei, de que eu, cinco anos depois de ter saído da tal escola, ainda sofro conseqüências do poder exercido pela coordenação do lugar.

Depois de ter pedido demissão (forçada posto que a condição de trabalho, psicologicamente falando, era para adoecer qualquer pessoa) , nunca mais coloquei currículo em escola alguma: eu que adorava ensinar, que tinha uma relação legal com os alunos, que tinha tantas idéias e tanta vontade de colocá-las em prática por mais tempo para apurar um método, etc.

Medo de as escolas se comunicarem entre si, medo de uma determinada figura de lá dar informação mentirosa sobre mim para me queimar… Medos que parecem descabidos, mas que são justificados pela filosofia do lugar. Pela filosofia fodida que eles sempre fizeram questão de incutir na cabeça dos professores: de que a fila fora da escola estava cheia de profissionais querendo emprego, querendo a vaga que ocupávamos ali, que a escola era conceituada e que Buracaju era pequena, que todos se conheciam, que um professor para ser "estrela" tinha que fazer e prezar o nome, cuidar da imagem, saber ser um marqueteiro pessoal, etc, etc. Faz tanto tempo que agora não me resta muita lembrança das ameaças em si. Mas, uma coisa é certa: ficou o medo. Ficou a sensação de insegurança.

Eu era muito jovenzinha. Ainda nem havia saído da Universidade. E nesse emprego acontecia algo muito paradoxal: eu era feliz dando aulas e era infeliz ao me relacionar com a coordenação.

O estopim se deu com a morte de minha mãe. Eu tinha direito a três dias para resolver problemas, tais como entrar com o pedido de auxilio funeral no IPES (minha mãe era funcionária do Estado), etc. No segundo dia em que eu resolvia os problemas e vivia o luto mais forte que podia viver, uma coordenadora me liga e pede para eu ir imediatamente para a escola. Independente de eu ter direito aos três dias, dizia ela, eu precisava ter bom senso, pois a escola precisava de mim.

Era mau senso meu. Era para depois do entrerro de minha mãe, no mesmo dia, eu ir trabalhar como se tivesse "ido ali" apenas.

Eu estava sem pai, sem mãe, sem nenhum parente e sem a menor condição psicológica de continuar no emprego. Estava estilhaçada, em frangalhos. A alma doía.

Tive apoio daquele que se tornou meu companheiro. Saí do lugar. E nunca mais me recuperei das dores.

Concluí a universidade. Trabalhei em outros lugares. Passei em concurso. Minha visão acerca do trabalho mudou muito depois de muitas leituras e das experiências por que passei, etc. Abri mão do concurso para fazer o mestrado (sempre com o apoio de meu companheiro).

E as conseqüências do que vivi nesse primeiro emprego me perseguem até hoje. Eu não consegui me desvencilhar da violência simbólica que sofri.

Eu não admitia que não ter procurado outra escola para ensinar era por conta desses medos, dessas relações. Descobri assim: conversando.

Foi algo muito importante. E só o começo de uma provável superação.

Agora, escrevendo, senti o gosto amargo daquela época na boca… Hora de parar.

4 comentários:

  1. Parece às vezes que tudo em que sentimos prazer, mesmo que seja o nosso ofício, que seja! parece ter sido roubado em sua essência...

    Um pouco de humanidade é básico e isso sim é ter bom senso. Se esse texto significa que tem vontade de voltar a ensinar, creio que o seu (companheiro conjugal, carnal, sexual) vai te apoiar novamente... e os seus (companheiros, conjugais, carnais e sexuais tb, rs) xeru nega, saudade.

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  2. Nega doida, superação sempre, OXE!

    beijinho

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  3. olha só... nossa conversa rendeu um post..
    então, eu me identifico totalmente com o que você disse sobre esse poder que persegue a vida inteira a gente... e também descobri que demorei muito tempo para começar a trabalhar por medo de certos disse me disse, e por ter cismado com certas relações e pessoas da minha área.
    eu me arrependo de ter me fechado tanto, talvez seja o seu caso, talvez não seja...
    de qualquer forma, acho que você aparentemente gosta muito de ensinar e dá uma boa professora! (e uma professora boa também hahahahaha)
    bjs

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  4. Uma confissão: Ainda estou com medo de encarar o ensino.

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