sábado, 29 de maio de 2010

AO QUE EU PERGUNTO: COMO CRITICAR ALGO SEM ENFIAR O DEDO EM ALGUM SEMELHANTE?

É complicado divergir ideologicamente. Mas, nem por isso, é recomendável esconder-se na concessão sem medidas, praticando uma polidez eterna, de caráter diplomático, que apenas contribui para que divergências desnecessárias entre pessoas que lutam por uma mesma causa sejam rigorosamente disseminadas pelos órgãos dominantes de controle midiático, supondo que se consiga perceber a realidade dos conflitos assim, pelo viés maniqueísta dos esquemas utópicos. Como defender uma causa sem acusar alguém de estar no extremo desta mesma causa e confundir o que deveria ser um irmão com um "inimigo"? Como?

Pergunto isso porque, neste sábado semi-chuvoso, entrei em contato com duas obras muito intensas em suas contradições e pendengas morais: o livro "A Miséria da Filosofia", de Karl Marx, contra alguns supostos dizeres imediatistas do líder anarquista Pierre-Joseph Proudhon; e o filme "Botinada - A Origem do Punk no Brasil" (2006), dirigido pelo deslumbrado Gastão Moreira, mas que me muito me irritou inicialmente por uma incursão enciclopédia do tema através de entrevistas nostalgicamente unilaterais. Por sorte, do meio para o final do filme, a reflexão comparece, nem que seja por vias involuntárias. E, como deveria ser, me deixou pensativo: como defender uma causa sem acusar alguém precipitadamente?

A imagem desta campanha sensacionalista (e funcional,em minha opinião) do PETA, importante órgão de defesa dos direitos animais, me ajuda a auto-questionar: como?

5 comentários:

  1. Se estivéssemos livres do totalitarismo do sistema de produção e consumo no qual estamos embebidos eu me arriscaria a dizer: através da linguagem. Entretanto, o silêncio que vivemos não é mais o silêncio de Gandhi, o da Resistência. O silêncio que eu percebo é nada mais que o efeito da violência simbólica do capitalismo (falava essa palavra com receio, para não parecer um alienado Marxista).
    Para mim, existe uma linha tênue entre um sistema racional totalitarista coercivo semelhante às ditaduras, e um sistema racional totalitarista alienante. Preciso dizer qual dos dois utiliza a estratégia mais Brilhante? Ao coercivo eu sugiro a luta armada, há outra forma? E ao alienante, o que devo sugerir? A luta armada? Do que adiantaria se o Estado, ditador das leis que mantém o sistema, faria de nós marginais, como já o somos de certa forma.
    Creio que nos resta sim acusar, embora seja um paradigma poderoso o que estamos “lutando” contra. O “precipitadamente” é que me parece ser pouco inteligente e, usando a linguagem do “inimigo”, estrategicamente falido. O mundo está pesadamente alienado e o que sustenta essa alienação está na casa dos trilhões.
    E aí, todos os dias eu me assusto com a mesma coisa. Estamos todos, juntos com nossos valores de humanidade, com a nossa dignidade, com todas as nossas esferas sociais, com a natureza que nos rodeia e sustenta, submetidos a uma racionalidade econômica opressora, desumana, assassina de seres não humanos e humanos. E aí vem o pior: cremos que tudo isso é natural! Que o ser humano é naturalmente egoísta, e que nunca viveremos num sistema mundial cooperativo e assim respeitador das diversidades que o compõem.
    Como acusar senão aos berros, quando estão todos dormindo? Mas aí eu proponho que entendamos melhor a complexidade e óbvio que não fiquemos apenas no entender melhor. À práxis. Marx escancarou o sistema. Esfregou-nos, na cara, as vísceras. Agora o que precisamos é Desconstruí-lo.
    Umas tais de crise de paradigma e pós modernidade... espero que sejam pelo menos sinais de um pré-início-do-fim. Não duvido que por aí nesse mundo exista pessoas como nós, angustiados por estarem com os olhos escancarados demais. Podemos até discordarmos do tal do método a seguir, mas me parece que está muito claro que temos a mesma utopia. E aí me aproprio do termo utopia e digo que utopia é o máximo do possível que desejamos chegar. Devo ter me apropriado também da frase, mas a causa é legítima e coletiva.
    “Como defender uma causa sem acusar alguém precipitadamente?”
    Tudo o que usarmos como resposta, creio eu, vai depender do grau de nosso desespero. Mas, mais ainda do quão estamos preparados ideologicamente e estrategicamente.
    Existem algumas alternativas de essência desconstrutora: solidariedade econômica, agroecologia... etc, que vão contra a estrutura racional econômica do atual sistema de produção. Acho que são temas que merecem ser, no mínimo, estudados. Me parecem próximos à Praxe.
    A agroecologia, pelo que tenho lido, traz um suporte bastante firme ao vegetarianismo, algo que estou lutando para seguir.

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  2. Ou não...

    DISCONCORDAMOS...

    O problema aí (que não é seu nem meu, mas NOSSO como um todo) é o uso inevitável e consolador do "se", logo no começo da frase...

    Se, Tiaguinho, se...

    Mas não há mais "se" para nós!

    WPC>

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  3. é um barulho que ecoa... não posso terminar a vida rendido! mas...
    o sinal está fechado pra nós... que somos jovens...

    (rs) eu acredito, Wesley, eu ainda acredito...

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  4. Acredito que há formas de defender uma causa sem acusar "alguém" (que no fundo, sabemos, que não é bem "alguém" assim, mas mesmo um modo de vida, de economia, etc....) PRECIPITADAMENTE. O que não dá mesmo é para manter polidez eterna, de caráter diplomático que para mim pode virar (tende mesmo a virar) hipocrisia das mais nojentas mesmo. Ou, pior, cumplicidade criminosa.
    As causas estão aí. Há homofobia, há machismo, há femismo, há maus-tratos contra os velhos, contra as crianças, há preconceitos linguísticos (outro dia vi um programa que simulava que um nordestino buscava dividir apartamento com alguém em São Paulo: grande parte das pessoas não queriam dividir ap com nordestino e respondiam, em telefonema de ator "fingindo" ser nordestino, que não havia mais vagas. E, imediatamente, o mesmo ator ligava "fingindo" ser paulista: então, a vaga passava a existir), há preconceito econômico, social...
    Portanto, para mim, há um inimigo muito bem definido. Há também formas e mais formas que todos os que se sentem ameaçados por esse inimigo pensam para combatê-lo. Aí está o nó. Aqui, surgem discordâncias (e disconcordamentos (risos)).
    Não somos inimigos entre nós. Somos inimigos "deles". E sabemos bem quem são esses "eles".
    O que nunca NUNCA deve faltar é debate. Discussão. Troca de idéias, de experiências. Construção mesmo de idéias no corpo-a-corpo. Por isso, concordo que o texto postado tem mesmo a ver com autoquestionamento e amizade sincera.
    A todo momento devemos nos autoquestionar e trazer sempre coisas assim. Para aprendermos a debater. Para evitarmos acontecimentos como os trazidos por Jadson no tópico "Homofobia": caso extremo ocorrido na UFOP.
    Interessante ver os comentários no Orkut dos estudantes conrários à manifestação: eles, em grande parte, achavam ridícula (era essa a palavra, aquela que tanto temo) a performance e, escondidos sob o direito de expressão, emitiam opiniões preconceituosas e autoritárias.
    Debate sempre. Dos mais saudáveis possíveis, sim. Mas, nunca silenciado ou hipócrita!

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