sábado, 14 de novembro de 2009

Interrogação

Pintava a boca de vermelho carmim. Vestia mini-saia preta, colada. Calçava botas pretas de canos altos. Nos olhos, negros traços realçavam o esmeralda dos olhos que carregava sem muitas interrogações.

Soltava os cabelos, jogava sobre si um sobretudo e saía.

Maravilhosamente.

Caminhava pelas ruas, nas esquinas. Na lua cheia, olhava sempre o céu com suas estrelinhas. E ouvia as buzinas.

Nos quartos, nas horas de trabalho: performance e nada de prazer.

Voltava todas as noties por caminhos diferentes. Uma antiga mania sua.

Já não havia baton. Lavara o rosto em um banheiro público. Só as roupas e as botas.

Às vezes parava em uma lanchonete. Comia sanduíches e bebia sucos.

Dormia saciada e cansada.

Naquela madrugada, ao sair da lanchonete, dobrara a esquina, era lua cheia, olhava as estrelinhas no céu, sorria e, distraidamente, topara-se com um homem. Bêbado.

Olharam-se longamente em silêncio.

Depois seguiram.

Ela fechou a porta atrás de si. Andou pela casa. Olhou-se no espelho e notou uma interrogação no olhar...

(Nina Sampaio)

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