domingo, 27 de fevereiro de 2011

Insônia.......................................................................

Não consigo dormir. São 1:40 da manhã. Às 4:50, se eu dormir, precisarei acordar. Tenho sono, mas não quero dormir. Não sei porque não quero dormir. Dormir me cansa, eu acho. Agora tantos dormem. Mais cedo, quando tantos estavam acordados, eu observava que as pessoas andam, se encontram. Observo que elas dormem também. Só as coisas inanimadas não dormem. Não dormem porque não possuem energia própria. Elas não se recarregam. Os seres vivos se recarregam, mesmo sem saber que o fazem se recarregam. É uma ordem universal o sono. Há maquinas que não param. As pessoas só param quando doam a própria energia. Doam no resto do universo. O que ou quem será que captará minha energia quando eu morrer? Mas e se eu for a minha própria energia? Então eu sou imortal. A energia, comprovadamente, não deixa de existir. Eu apenas me dôo. E não morro. Na verdade não é doação se é feito sem consentimento. Mas eu consinto então me doarei. Pronto, que alívio. Acho que vou dormir. Sou imortal. Tomara que as outras pessoas descubram isso também. Agora são 2:00 e eu só preciso dormir pouco menos de 3:00. Durante o dia ficarei sonolento. E tudo significa nada e poco imprta escrever errado. Errado é nada. Certo é nada. Por que sofrer então, se o verdadeiro significado das coisas é que elas não possuem nenhum significado? Significam pra mim e para o resto da humanidade. Mas, na verdade, nada significam. Mas posso gostar e não gostar das coisas que sinto. A dor significa. O prazer significa. Eu não significo. As coisas se significam pra mim. As coisas que se significam pra mim. Que alívio de novo. Não tenho culpa de nada. O prazer não sou eu, a dor também. Eu não tenho culpa e nada. Que bom. "Non rien de rien... non je ne regrette rien..." que bom, que alívio.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

NÃO HÁ LINHA TÊNUE ENTRE A VIOLÊNCIA E A MALDADE...

AMBAS, NA VERDADE, SÃO IRMÃS.


*Desculpas à Nina.


DECLARO QUE NÃO SOU MAL. ME FORÇO A ISSO PRA VER SE ENCARO MELHOR A VIDA,
SEM "FRESCURAS". MAS NÃO, NÃO AGUENTO SER MAL. NÃO AGUENTO E NÃO QUERO.

DESEJO QUE MINHAS PALAVRAS SEJAM SEMPRE PALAVRAS DE AMOR, O QUE NÃO SIGNIFICA QUE NUNCA SERÃO DURAS, MAS QUE SEJAM SEMPRE DE AMOR. PORQUE O AMOR SEMPRE ENGRADECE E FORTALECE.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

As crianças são admiráveis

É claro que são todas diferentes umas das outras. Mas é o poder fabuloso e instantâneo da fantasia, que elas possuem sem muito esforço, que me faz admirá-las tanto.

Óculos de Carnaval

A cidade amanheceu eufórica, animada com o carnaval que se aproximava. No bairro em que eu morava só se ouvia as risadas das crianças nas ruas. Curioso com todo aquele labafero, eu fui até a janela. Foi quando as vi encantadas e perdidas nelas mesmas. Um menininho parecia rir de nada sentado no degrau de uma casa velha de esquina. Ele usava óculos de lentes coloridas. A lente direita era verde-clara, um verde vivo. A esquerda era vermelha, de uma tonalidade bem intensa. Falava sem coerência alguma umas palavras estranhas. Virava e revirava as mãos na frente dos olhos e ria. Ria como quem acabara de descobrir o mundo bicolor, cheio de seres bicolores e engraçados. Nada parecia ouvir além dos sons do mundo que descobrira. De dentro da casa surgiu uma mulher de vestido encardido, praguejando e gesticulando com as mãos de um modo contundente. Estava quase que a correr. E de uma vez, arrancou do rosto do garoto os óculos de carnaval. O mundo fez-se de todas as cores, de repente. Atordoado, fez uma cara de estranhamento, bem ligeira. E, quase que imediatamente, pôs-se a rir novamente. Arrastado pelo braço ele continuava a rir e a conversar com o vento, balbuciando aquelas palavras esquisitas. A porta bateu seca.



terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

"A Descoberta do Mundo"

Uma vez eu disse sobre Clarice que ela é fonte que não seca. Disse isso a Nina me referindo a infinidade de trabalhos sobre a escritora num encontro de literatura da UFS. Mas agora repito que ela é fonte que não seca porque estou relendo suas obras. E essa releitura (no sentido literal da palavra e em todos os outros) é como escavação em caverna soterrada.

As estalactites estão ali, não as destruo, permanecem. Ver as próprias estalactites é de um privilégio imensurável. Vê-las e deixá-las lá. Aceitá-las. Aceito minhas estalactites. Aceito minhas profundezas. O que isso faz de mim?

Acho que posso descrever assim o ato de ler Clarice Lispector para mim: visito com lanterna e picareta uma caverna de indefinida dimensão. Escura. Que conheço e desconheço. Sem procurar feixes de luz, nem possíveis limites, lanho com a ferramenta cada estalactite que descubro. Não busco destruí-las. Não busco destruir o que se destruído me destrói. Elas são, definitivamente, o que há de mais belo e horrendo.

Tem sido uma fantástica experiência.

O mal do transbordamento


Henrique disse a mulher ontem à noite que sofria gratuitamente do mal do transbordamento. A conversa durou horas, ela concluiu já perto de deitar que era papo furado, que o marido tentava era engabelá-la, dando uma de pirado. Não tinha sido a primeira vez que ele inventava coisas, afinal. Teve a vez das sete vidas dos felinos comprovadas pelo gato preto da vizinha. Deu ao gato veneno poderoso. Foram sete tentativas, todas falharam. Também teve a vez da botija que ele encontrou enterrada no fundo do quintal da casa dos avós, quando ele ainda era adolescente. Disse ele que só foi possível encontrá-la porque fora guiado pelo tataravô já morto há mais de 60 anos. A mulher se arrepiava com as histórias, mas no final achava sempre que não passava de invenção de uma mente fértil e criativa. Com a história do transbordamento ela teve outra percepção, tava na cara que de uma vez por todas Henrique tinha enlouquecido. Aquilo já tinha passado a léguas de todos os limites. Ontem à noite disse a ela que não era suor o que jorrava de seus poros, que às vezes sentia a pele como se a estourar, liberando água. Cansada das histórias, adormeceu. Foi quando durante a madrugada, do banheiro, ele gritou por ela pedindo socorro. Ela acordou num susto medonho. Quando apareceu à porta, os dois globos oculares do homem estavam no chão, flutuando sobre a água. Água que se vertia tórrida e caudalosa dos ocos dos olhos. A pele estava uma só bolha, uma bolha gigante como em uma grande queimadura. Mas não havia fogo em parte alguma. Só água, muita água, quente e abundante. A mulher segurou-lhe pelos braços que se desfizeram imediatamente. Pegou-lhe o tronco que logo se esvaiu em líquido incolor e inodoro. Aos poucos, sem que ela nada pudesse fazer, Henrique desapareceu no chão do banheiro. Não havia mais um dente, um fio de cabelo sequer para provar-lhe a existência. A mulher absorta rondava com os olhos todo o banheiro, depois o quarto, mas nada. Toda a água, pouco a pouco, procurou o ralo, largo e silencioso, embaixo da pia.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Contratos tácitos

O grande problema dos contratos tácitos é que eles não são registrados em cartório.

Em dias confusos...



Em tempos estranhos, desejei me submeter a leitura de um livro que achei em 2009 em um sebo na cidade de Belo Horizonte, quando fui lá pela primeira vez participar de um encontro estudantil. O livro um clássico: A Religiosa.

O Famoso romance do filósofo iluminista francês Denis Diderot datado do século 18 conta em forma de confissão/memórias a trágica trajetória de uma freira pelos conventos franceses, padecendo todo tipo de auguras e desventuras.

O livro pode ser resumido em das palavras: sofrimento e crueldade. E Todos os sinônimos que puder pensar quando se ouve estas duas palavras!

Não sei porque cargas d'água quis o acaso que eu o lesse logo neste momento de escolha tão difícil!

Como diz um amigo querido “que seja”.

Recomendo pra todos aqueles que são viciados no sofrimento!

Jt

Cartinha de amor



O teu cheiro

É o único que eu suporto

Sei que você também me suporta

Porque assim é o amor

Um jogo de tolerância,

Mais uma relação de poder.

Não é?

O que é tudo isso, então?

Sabe, agora eu te imagino de bermuda.

A imagem é você se despindo

Como quem abre um presente

De aniversário.

Hoje não é 7 de outubro, mas a imaginação

É poderosa, meu bem.

Hoje é meu aniversário e isso dentro da bermuda

É meu presente.

Eu desejo, eu desejo... te soprar a vela.

Você sabe como se faz, não é?

Você sabe mais ou menos como eu gosto.

Porque o que eu gosto verdadeiramente é coisa

Tão incompreensível, meu amor.

Ah, louca existência... Ah, música ininteligível...

Meu amor, é assim, mais ou menos, que eu sou.

Rio de um modo tão infantil quando penso que

Você é minha festa inteira, minha bebedeira

Minha breguice colossal.

Amor da minha vida,

Sou tua maldição.

Para alguns escolhidos o amor não passa disso, meu bem.

Foste amaldiçoado.

Maldito seja o acaso. Maldita seja aquela passarela da Treze.

Maldito seja aquele meu ex-namorado que me apresentou a você.

Maldito seja tudo isso, meu amor,

que te condenou ao desespero e à infelicidade

Até o fim dos seus dias.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor pois se eu me comovia vendo você pois se eu acordava no meio da noite só para ver você dormindo meu deus como você me doía vezenquando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você sem dizer nada só olhando olhando e pensando meu deus ah meu deus como você me dói vezenquando

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Amarelo-ordem

Pendurei Mnemosyne nas orelhas. Reli uma parte bonita de minha vida. Revi trechos de autores que falam sobre mim e sobre essa parte bonita de minha vida. Juntei tudo num envelope-saco amarelo. Transcrevi os trechos nesse envelope. E pensei: amarelo é a cor do tempo; dos papéis antigos; das fotografias do passado; dos sorrisos-sem-graça dos esquecimentos.
Amarela é a cor da ordem lispectoriana que reli em Água viva: "Por enquanto há diálogo contigo. Depois será o monólogo. Depois o silêncio. Sei que haverá uma ordem".
É a ordem - amarela - que mais acontece. Especialmente com as partes bonitas de nossas histórias.
Eu também sei que haverá uma ordem, Clarice. Pois só permanece verde-vivo aquilo que a gente cultiva, aquilo que a gente mexe e remexe, rega, agooa, molha, sulca, toca, vive todos os dias.
Amarela também é a cor da folha sem água, sem vida, sem sumo, que logo cairá, apartada da árvore. Morta. Para viver um ciclo, uma ordem.
Amarela é a cor do fim.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Não te olho através, afinal

Fenda, fizeste a ti,

de uma só vez,

Mundo.

Não há praia quando só há água

Verti-me da grande torneira,

Corro doido.

Citação

Ocorreu-me de repente que não é preciso ter ordem para viver. Não há padrão a seguir e nem há o próprio padrão: nasço.
(Água Viva, Clarice Lispector)

Alegria de perdição

Caio em perdição de mim. Caio e gozo. O cair infinito é o gozo da perdição. Uma perdição gozosa. Ausento-me da “toda parte”. Permaneço caindo em lugar de onde eu vim e que não conheço. Apenas sei que é de onde eu vim porque é coisa que está “atrás do pensamento”. Atrevo-me a escrever expressões alheias porque a ninguém pertence a palavra e porque qualquer coisa não tem nome algum, nem a palavra se chama palavra. E não vou dizer que cair em perdição de mim é pura alegria porque não é. Me ausento em queda e queda é sempre plangente. Li ontem a coisa mais bela sobre a morte: “Quero morrer com vida. Juro que só morrerei lucrando o último instante. Há uma prece profunda em mim que vai nascer não sei quando. Queria tanto morrer de saúde. Como quem explode”. Imagino no mundo pessoas explodindo com exagero de vida. É como se viver fosse de fato morrer. Permanecer inerte aqui, sobre o solo da Terra, é que é morrer. Tenho sempre tal impressão. Imagino um bilhão de pessoas explodindo com exagero de vida. Imaginando escuto os estouros. E é com alegria, uma alegria que não me é nada estranha. É alegria minha, mas não no sentido de posse. É alegria que captei do mundo. É alegria que vaga como onda sonora. Eu sou antena e capto a alegria do mundo, a alegria pura do mundo. Que só faz-se minha porque tenho esse poder de captá-la e ela se revela para mim e dá-se a mim por espécie de compaixão para os demasiadamente sensíveis. Muito engraçado (muito engraçado novamente: porque quando digo engraçado digo: coisa cheia de graça – captei a alegria do mundo de novo – e não coisa que mereça nossa risada) – continuo – muito engraçado é que quando a capto, a alegria, ela vem solitária, vem pura. A alegria do mundo é pura. No universo há essa alegria. Que é imensa e que cede partículas de si para quem a puder captar. Eis o meu grande dilema: A capto enquanto caio em perdição de mim e cair é triste. O lugar de onde vim existe e não é aqui, é lugar no tempo, vou ousar agora: é o lugar-instante. Nesse lugar, a alegria do mundo reverbera cores. Eu vejo: dourado, vermelho e verde. E as cores se tocam e não se misturam. E não posso definir suas texturas, não são liquidas nem são como feixes de luz. Se entretecem em forma de grande fazenda de nada. Que a nada serve. Que a nada cobre. Olho para minha cara nessa queda e a vejo sorrindo, um sorriso primitivo: eis a alegria do mundo codificada em mim. Um sorriso não-contemplativo, um sorriso não-devedor, um sorriso-para-nada-de-nada, vivo, porém. E de novo “atrás do pensamento”. É com prazer maravilhoso que vou a esse lugar e capto a alegria do mundo. Já disse que vou em queda. A plangência é porque sei que o instante é difícil demais de captar. Vou para dentro dele e gozo. Por que não permaneço nele? Pergunto e não há resposta. Então fico triste. Mas tal lamentação é fora do lugar da alegria do mundo. E é tão inferior que nem cor tem. Dizem que é acinzentada e que, vezenquando, é esbranquiçada. Mas a tristeza é incolor. Não como a água, não como o ar, mas como aquilo que não existe, o que não existe, não tem cor. A tristeza não existe. Isso o que sinto é na verdade angústia e oco. O oco é cheio de inexistência. Mas nada disso, nada disso eu sinto quando estou no lugar de onde eu vim quando capto a alegria do mundo, “atrás do pensamento”. A imagem é de uma cara que sorri em queda, envolta em dourado, verde e vermelho. Não posso dizer que é bonito ou feio esse lugar por que esse lugar, esplendorosamente, É e nada além ou a quem. Tem cores e tem minha cara reverberando a alegria do mundo. Esse lugar existe apenas assim. Sou antena, transporte e lugar. Vou “atrás do pensamento”. Vou como se estivesse com os olhos vendados. Porque nunca sei o caminho e, no entanto, vou. Não decido ir, vou. Como a palavra estranhada, como a vida estranhada. Não sei se sou o único, não sei se compartilho esse lugar, mas não me importaria. Sou engraçado. Minha graça É.